Declaração da Conferência Mundial Contra a Guerra e a Exploração – Argel, 27-28-29 de Novembro de 2010

Nós, militantes operários, políticos e sindicais, delegados de 52 países reunidos na Conferência mundial em Argel, nos dias 27, 28 e 29 de Novembro de 2010 – depois de ter ouvido os informes precisos apresentados por 77 oradores sobre a situação dos seus países – chegamos a uma conclusão: só a união dos trabalhadores e povos do mundo pode impedir que a humanidade seja arrastada para um desastre como o que já sofrem os povos do Haiti, Afeganistão e de muitos outros países martirizados.

Trata-se de uma catástrofe que deriva da sobrevivência de um sistema econômico que tem como base a exploração capitalista e as políticas postas em prática para tentar salvá-lo, assumidas por governos de todas as cores políticas que aceitam aplicar as diretivas do governo dos EUA.

A nossa Conferência tem como título: contra a guerra e a exploração.

Somos contra a guerra, que provoca sofrimentos intoleráveis aos povos e trabalhadores do mundo inteiro e impõe, em todos os países – seja nos que são vítimas de intervenções militares estrangeiras, seja nos que as organizam – a destruição de setores inteiros da indústria, o desemprego generalizado, medidas de desregulamentação, destruição do ensino e da cultura, a desertificação dos campos e as migrações sem fim.

Opomo-nos às ingerências estrangeiras, às ameaças de intervenções militares (onde quer que sejam) e à presença de bases militares imperialistas que questionam a soberania das nações.

Somos contra a exploração.

Rejeitamos os ditados feitos pelas «cúpulas» – do G20, do G8, do FMI, da UE etc – que dizem lutar contra as conseqüências da “crise”, fazendo pagar um preço cada vez maior e devastador aos trabalhadores e à juventude, às suas conquistas, seus direitos e garantias.

Recusamos, também, a pretensão dessas mesmas instituições de associar as organizações sindicais ao acompanhamento de suas reuniões de cúpula e das decisões nelas tomadas, contra a indispensável solidariedade operária internacional.

Rejeitamos o ditado que impõe o pagamento de uma dívida que não é dos povos, utilizada como instrumento de pilhagem e desmantelamento da soberania das nações e de todas as conquistas dos trabalhadores no mundo inteiro.

Rejeitamos o ditado lançado às organizações operárias, das quais se exige – em nome do pretenso “interesse geral” – que aceitem as regras de uma “governança mundial” e de um pretenso “diálogo social”, cuja única função é subordinar e integrar as organizações dos trabalhadores aos planos dos governos e das instituições internacionais, colocando em questão a soberania nacional. Ao aceitar agir deste modo, organizações dos trabalhadores se subordinariam a esse ditado e seriam impedidas de desempenhar o seu papel de defesa dos interesses dos trabalhadores e dos povos. Afirmamos que a independência das organizações operárias é uma das condições da democracia, do progresso social, e da soberania e independência dos povos.

Nós, delegados de 52 países, reunidos em Argel durante três dias de intercâmbio e discussão, constatamos que, apesar dos terríveis sofrimentos impostos em todo o mundo, em toda a parte se levanta a resistência dos povos, da juventude e dos trabalhadores que procuram reapropriar-se de suas organizações para lutar, resistir e reconquistar os direitos perdidos.

Há vinte anos, em 4 de Janeiro de 1991, o Manifesto adotado pelo Acordo Internacional dos Trabalhadores e Povos (AcIT) em sua Conferência de fundação de Barcelona, afirmava a confiança dos participantes “na capacidade dos trabalhadores do mundo inteiro para se libertar das cadeias da exploração e da opressão, na sua capacidade para edificar um mundo em que a colaboração harmoniosa entre as nações e os trabalhadores se substituirá a este mundo de barbárie que aumenta cada vez mais”.

Vinte anos depois, nós, reunidos em Argel, reafirmamos esta confiança reforçada pelos acontecimentos que se produziram: apesar de todos os sofrimentos e de todas as destruições, a vontade de resistência e de luta dos trabalhadores e povos – que não aceitam desaparecer – continua sendo o elemento essencial que está na base do futuro da humanidade.

Vinte anos depois, reafirmamos: a paz e a fraternidade entre os trabalhadores e os povos só pode ser realizada pelos próprios trabalhadores e povos. Só pode ser realizada sobre a base da satisfação das suas necessidades fundamentais, as quais se chocam com as da classe dos exploradores, que traz no seu seio a guerra e a bancarrota.

O nosso dever é, mais do que nunca, atuar para organizar e contribuir no combate que vai ajudar os povos e as classes trabalhadoras a salvarem, através de seu próprio movimento e preservando a independência das suas organizações, a humanidade das guerras e das cadeias da exploração e da opressão.

Retomamos à nossa conta a palavra de ordem, lançada em 4 de Janeiro de 1991, em Barcelona: “Governos responsáveis pela guerra e pela miséria, temei a revolta dos povos. Abaixo a guerra. Abaixo a exploração”.

Sobre esta base, nós, delegados representantes de 52 países, pensamos ser indispensável desenvolver ainda mais o intercâmbio e o diálogo entre as delegações de todos os países, de modo a reforçar, em cada um dos nossos países e no plano internacional, o movimento iniciado para preservar a independência das organizações operárias, da qual depende a salvaguarda da civilização humana. Damos mandato à Coordenação internacional do Acordo Internacional dos Trabalhadores e Povos para organizar esse intercâmbio e esse diálogo.

COMITÊ DE COORDENAÇÃO: Anton Vechkunin (Rússia); Patrick Hébert, dirigente CGT-FO (França); Charly Lendo, dirigente UGTG (Guadalupe); Julio Turra Filho, dirigente CUT (Brasil), Nancy Wohlforth, co-presidente de “Orgulho no Trabalho” e Vice-presidente da Federação do Trabalho da Califórnia (EUA); Salah Salah (Conselho Nacional da Palestina); Tiyani Lybon Mabasa, Presidente do Partido Socialista da Azânia (África do Sul); Jordi Salvador Duch, dirigente sindical (Espanha); Gotthard Krupp, do Partido Social-Democrata e sindicalista do Ver.di (Alemanha); Rubina Jamil, Presidente da APTUF (Federação de Sindicatos de Todo o Paquistão); Nambiath Vasudevan, Coordenador do Coordenador do Comitê de Solidariedade Sindical, Mumbai (Índia); Louisa Hanoune, Secretária-geral do Partido dos Trabalhadores (Argélia); Daniel Gluckstein, Secretário do Partido Operário Independente (França); Alan Benjamin, OPEIU local 3, membro do Conselho do Trabalho de San Francisco (EUA).

DO BRASIL: delegados presentes que subscrevem: Shakespeare Martins de Jesus, Executiva Nacional da CUT; Misa Boito, Corrente O Trabalho do PT; Markus Sokol, membro Diretório Nacional do PT; Milton Barbosa, Movimento Negro Unificado (MNU); Fernando Ferro, Deputado Federal do PT-PE; Joelson Souza, Juventude Revolução – IRJ.

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