Declaração latino-americana: 1º de Maio classista e de luta diante da crise do sistema e a pandemia

Neste 1º de Maio de 2020, nós, sindicalistas e militantes do movimento operário em nossos países respectivos, que participamos do Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio promovido pelo Acordo Internacional dos  Trabalhadores e Povos (AcIT),  queremos compartilhar com vocês, irmãos da América Latina, o que consideramos ser os desafios colocados ao movimento dos trabalhadores e suas organizações sindicais e políticas neste momento crucial para a humanidade.

Com efeito, a pandemia do COVID-19 acelera todos os aspectos destrutivos do sistema capitalista mundial que já vinham de antes, desnudando a incapacidade do imperialismo – o capitalismo de nossa época – de proteger os trabalhadores e povos de um vírus.

É o que ocorre em todos os países e continentes, com governos de diferentes matizes que se negam a combater os grandes grupos capitalistas que controlam a economia mundial e por isso mesmo se colocam a seu serviço, provocando as desigualdades sociais as mais extremas, a destruição dos direitos e conquistas  dos trabalhadores, a destruição do meio ambiente, em benefício exclusivo de um punhado de detentores privados dos grandes meios de produção, de especuladores e rentistas.

Situação agravada ainda mais na América Latina, submetida ao jugo do imperialismo, em particular dos EUA, e sua política de pilhagem de nossos recursos naturais, de agressão à soberania de nossas nações, atropelando o direito à autodeterminação dos povos.
Em plena pandemia, o governo de Donald Trump intensifica as ameaças de ingerência e intervenção militar contra a Venezuela, que já sofria embargos, bloqueios econômicos e sanções, que agora são reforçadas com uma bloqueio naval de sua costa caribenha para impedir a chegada de todo tipo de importações, inclusive de medicamentos. Ao mesmo tempo são reforçadas as medidas de bloqueio dos Estados Unidos a Cuba.

Nós, trabalhadores, nunca estivemos numa situação tão difícil e dramática diante desta combinação terrível de crise econômica do sistema, pandemia e pressão imperialista. O FMI e o Banco Mundial indicam que a pandemia aprofunda o “desequilíbrio entre nações ricas e pobres”, além de aumentar a extrema pobreza no mundo.

Esses organismos multilaterais a serviço do sistema capitalista indicam o que os trabalhadores e povos da América Latina já estão vivendo em sua própria carne. Na crise atual, os capitais fogem de nossos países, ao mesmo tempo que aumenta a pressão contra a soberania de nossas nações por parte do imperialismo.

Compartilhamos com nossos irmãos de classe de todo o mundo os efeitos do fechamento de unidades produtivas, com o aumento do desemprego, o rebaixamento de salários,  enquanto os capitalistas aproveitam a pandemia para tentar liquidar nossos direitos, conquistas e organizações, utilizando-se de governos a seu serviço. Na América Latina – como também na África e muitas regiões da Ásia – a opressão imperialista agrava este quadro.

Se a pandemia é algo acidental, ainda que previsível pelos cientistas, todas essas terríveis conseqüências para a humanidade e a classe trabalhadora foram preparadas sistematicamente pela destruição dos serviços de Saúde Pública, as privatizações, o pagamento da Dívida Externa que não é dos povos, a submissão dos governos ao imperialismo, sistema apodrecido que empurra a humanidade à catástrofe.

Neste 1º de Maio de 2020, não teremos concentrações, marchas ou atos públicos de trabalhadores levantando suas bandeiras de luta. Haverá atividades virtuais, como o panelaço que a CGTP convoca contra o governo Vizcarra no Peru, pois a luta de classes direta está limitada a ações locais que exigem equipamentos de proteção ao contágio e condições mínimas de segurança para os trabalhadores da saúde e de outros setores “essenciais” ou não que seguem trabalhando. Além disso, a pressão criminosa do capital é que se volte ao trabalho, ao preço de mais mortes por infecção, um trabalho sem regras ou direitos, liquidados em nome de proteger os empresários da crise.

Por isso mesmo, é necessário resgatar o conteúdo histórico do 1º de Maio – Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora – defendendo os interesses de nossa classe CONTRA o capital e os governos que o protegem, CONTRA a política do imperialismo e em defesa da autodeterminação dos povos. Isso é imprescindível, ainda mais num momento em que se multiplicam as pressões para atrair as organizações dos trabalhadores para colaborar  com os verdadeiros responsáveis pelos efeitos brutais da pandemia sobre os povos, que são a classe capitalista e o seu sistema.

Na América Latina, as ruas abarrotadas de cadáveres de Guayaquil antecipam o que pode ocorrer em outros países, onde governos – como o de Lenin Moreno no Equador, que pagou dívidas ao GMI no início da pandemia e agora diz não ter recursos para enfrentá-la – que se submetem ao imperialismo, minimizam a crise sanitária e não colocam  todos os recursos da nação ao serviço da defesa da vida de seus povos.

As situações são diferentes entre o Brasil do governo Bolsonaro, a Argentina do governo Fernández, o Chile do governo Piñera ou o Mèxico do governo Obrador, mas em todos os países é nosso dever afirmar neste 1º de Maio que os trabalhadores não aceitam pagar com seus empregos, salários e direitos a crise atual, que recusamos a “união” com o capital e o imperialismo, que a indignação que existe em nossos povos, que se manifestava fortemente em vários pontos do mundo antes da irrupção do COVID-19, vai reencontrar o caminho da luta que terminará com este sistema apodrecido.

Um 1º de Maio de 2020 com conteúdo classista, antiimperialista e de luta, que levante a exigência de fim do bloqueio e das sanções contra a Venezuela, Cuba e outros países como Irã e Síria; que exija o Não Pagamento da Dívida Externa para que todos os recursos das nações sejam destinados a proteger nossos povos; que apóie a luta de nossos irmãos de classe de todos os continentes, para que continuemos, mesmo nas condições atuais, a batalha pela emancipação da classe trabalhadora e dos povos de toda a forma de exploração e opressão.

Sobre esta base, propomos intensificar o intercâmbio de informações e de discussão entre nós, ampliá-lo a todas e  todos que coincidam com nossas preocupações e propostas, convidando-os a associar-se ao Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio.
Viva o  1º de Maio, Dia Internacional de Luta da Classe Trabalhadora!

Proponentes:
Argentina: Dora Alicia Martínez, secretária geral adjunta da CTA-Autônoma.
Brasil: João B. Gomes e Marize Carvalho da direção executiva da CUT; Edison Cardoni, da CONDSEF;  Julio Turra, da coordenção do AcIT,
Chile: Luis Mesina, secretário geral da Confederação Bancária de Chile
Equador: Vicente Olmedo, militante do movimento operário de Guayaquil
Guadalupe: Rudy Salibur, Travayè é Péyizan (Trabalhador e Camponês)
Haiti: Dominique St-Eloi, Central Nacional dos Operários Haitianos (CNOHA)
México: Daniel Hernández del Ángel, Movimento Magisterial Popular Veracruzano (MMPV); Francisco Javier Ávila Esparza, secretário geral do Sindicato Único do Colegio de Bachilleres do Estado de Jalisco (Suacobaej);  Luis Vázquez Villalobos e Humberto Martínez Brizuela, membros do Comité de Diálogo de trabalhadores por uma expressão política independente.
Peru: Gerónimo Lopez Sevillano, secretário general da CGTP; Erwin Salazar Vasquez, secretáção da CGTP-Lambayeque.
Venezuela: Raúl Ordoñez, presidente da Federação de sindicatos das empresas hidrológicas (FEDESIEMHIDROVEN), deputado constituinte; Nelson Herrera, presidente do Sindicato de Trabalhadores do Ministério de Habitação (SINTRAVISEP), deputado constituinte,  Alberto Salcedo, do Coletivo Trabalho e Juventude.
Contato e adesões: julioturra@cut.org.

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