Decreto de Putin provoca manifestações

Em 21 de setembro, “Dia Internacional da Paz”, Vladimir Putin anunciou a mobilização de reservistas na Federação Russa. Mais de seis meses se passaram desde que o exército russo iniciou operações militares em larga escala na Ucrânia.

Putin provou mais uma vez ser fiel a si mesmo: não cumpre sua palavra. Ele havia declarado em março que não haveria mobilização para a chamada “operação militar especial” expressão decretada como a única aceita oficialmente (qualquer cidadão que se manifeste contra ou fale em “guerra” é passível de ser condenado a 15 anos de prisão).

A população não acreditava que Putin iria chegar à mobilização. Há pessoal militar suficiente para uma grande guerra (3 milhões), mas agora o conflito está batendo à porta de amplos setores da população.

Assim, a maioria dos russos não esperava que o presidente fosse tão arbitrário em seu discurso. Mas algo deu errado: a fala, anunciada para a noite do dia 20, não aconteceu. Não se sabe o que ocorreu no Kremlin (sede do governo) naquele momento.

Talvez houvesse algum tipo de “luta interna” entre os nacionalistas raivosos e os cautelosos burocratas? Pode-se supor que sim. Por volta da meia-noite, por canais que não os do Kremlin, foi anunciado que o discurso de Putin seria adiado para a manhã seguinte e que o ministro da Defesa, Serguei Shoigu, falaria depois dele.

Longa noite de angústia
Milhões de pessoas estavam tensas, mas não acreditavam em um anúncio de mobilização, assim como não haviam acreditado na invasão de fevereiro. Então, pela manhã, Putin e Shoigu anunciaram a promulgação do decreto nº 647, “Sobre a Mobilização Parcial na Federação Russa”.

O parágrafo 7, “para uso oficial”, referente ao número de pessoas a serem mobilizadas, não foi publicado. O decreto é o mais vago possível: não especifica as categorias de pessoas a serem mobilizadas, nem a quantidade de pessoas a serem convocadas, o que levou à especulação de que o número estaria entre 300 mil e 1,2 milhão.

Essa foi a primeira mobilização de reservistas da atual República Russa e a terceira da história, após a do Império Russo em 1914 e a da União Soviética (URSS) em 1941.

Manifestações espontâneas
No mesmo dia em que a mobilização foi anunciada, ocorreram manifestações espontâneas em dezenas de grandes cidades russas. As primeiras começaram poucas horas após o anúncio no Extremo Oriente e na Sibéria, antes de se espalharem para a parte europeia do país. Os protestos foram brutalmente reprimidos pela polícia, que já havia prendido 1.321 pessoas em 38 cidades até a noite de 21 de setembro.

Houve concentrações espontâneas, piquetes e bloqueios de rodovias federais no Daguestão, queima de comissariados militares em São Petersburgo, Nizhny Novgorod, Khabarovsk, Togliatti, nas regiões de Amur, de Orenburg e de Volgogrado e no território da Transbaikalia.

Os detidos foram submetidos a medidas inusitadas. Enquanto alguns eram convocados para o escritório de registro militar, outros foram acusados de “desacreditar o exército russo” e espancados com cassetetes. Uma jovem morreu no momento de sua prisão. Para os detidos, é a prisão ou a guerra. Em 24 de setembro, uma nova onda de protestos foi anunciada em toda a Rússia.

Anton Poustovoy, para o jornal francês “Informações Operárias”

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Resistência na Rússia

A decisão de Putin e seu aparelho de decretar uma mobilização parcial, afetando ofi cialmente pelo menos 300 mil reservistas, provocou verdadeira explosão na Rússia. Grandes manifestações ocorreram em muitas cidades e foram severamente reprimidas. Dezenas de milhares de russos estão fugindo do país para evitar o alistamento, tentando cruzar as fronteiras para a Geórgia, o Cazaquistão ou a Mongólia.

A Finlândia e outros países da União Europeia, sob essas condições, decidiram fechar suas fronteiras aos cidadãos russos!

A presidente da Comissão Europeia, Ursula Gertrud von der Leyen, quando questionada sobre um possível cessar-fogo, respondeu que isso está fora de questão.

O presidente dos EUA, Joe Biden, afi rmou novamente que a guerra irá durar muito tempo. E o presidente ucraniano, Zelensky, disse aos russos: “Vocês já são cúmplices em todos os crimes (do exército russo), nos assassinatos e torturas de ucranianos, porque têm estado em silêncio, porque ainda estão em silêncio”.

Toda essa gente quer prosseguir com a guerra até o último ucraniano e o último russo. Como diz Oskar Lafontaine, precisamos de um cessar-fogo.

Mas a saída virá da mobilização do povo russo, e não do imperialismo. Nem Putin nem Otan!

Lucien Gauthier

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