Desigualdade racial no mercado de trabalho é brutal

Os traços da desigualdade racial que se perpetuam até hoje em nosso país são uma das principais marcas do período da escravidão. Os números em diversos setores trazem à tona a dura situação a que está submetida a população negra no país e exigem atenção cotidiana.

Os dados do ano passado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que o desemprego entre pretos (16,3%) e pardos (15%) é superior entre os brancos (10,8%). Quando levamos em consideração a taxa de informalidade, ou seja, trabalhos sem vários direitos trabalhistas e muitas vezes precarizados a taxa entre negros também é maior (52,9% para pardos e 49,4% para pretos) que entre brancos (43,8%).

A diferença fica mais evidente quando analisamos a discrepância na renda do trabalhador brasileiro. A média de um trabalhador preto foi de R$ 1.907,00 em 2021, enquanto para o trabalhador branco foi de R$ 3.310,00.

Acesso à educação é questão chave
Essa diferença não é apenas a discriminação e o racismo do momento em que um jovem negro vai bater à porta da empresa para pedir um emprego. É também um reflexo de um percurso prévio de falta de acesso a direitos, principalmente no que se refere à educação.

Para Rafael Osório, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea) “a desigualdade racial é uma questão multidimensional. Parte da diferença de renda está ligada à diferença de educação, já que temos mais trabalhadores brancos com educação mais avançada que trabalhadores negros. Isso tem razões históricas e mesmo com as cotas das universidades ainda não mudou. Mas a desigualdade regional também ajuda a explicar por que temos mais negros no Norte e no Nordeste do que no Sul. Então há um efeito composição”.

De fato, a política de cotas nas universidades públicas fez a parcela de jovens negros entre 18 e 24 anos que era de 32% nas universidades públicas em 2001, subir para 40% em 2012 e para 52% em 2021. O dado é ainda mais significativo se considerarmos a expansão de vagas no período.

Mas isso não resolve todos os problemas. Como aponta Luiz Augusto Campos, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), os dados da Pnad demonstrariam que o acesso ao Ensino Superior público melhorou depois das cotas, embora o avanço tenha sido até 2016 e esteja estagnado desde então. Mas o próprio Campos destaca que “é preciso ter cuidado com os dados da média de acesso, porque cursos como medicina e engenharia ainda apresentam uma participação menor de pretos e pardos.”

Acrescenta-se a esse problema o fato de que a grande maioria dos jovens negros no Brasil segue fora das universidades, ampliando ainda mais o fosso em relação ao tempo de educação formal.

Diferença de cor e de gênero
O economista da LCA Consultores, Bruno Imaizumi, chama a atenção para a “nítida e expressiva diferença” entre os grupos populacionais (o de brancos e o de pardos/negros) na questão de rendimento do trabalho. E essa disparidade se soma à questão de gênero: homens brancos têm renda média maior que a de mulheres brancas (R$ 4.310,00 versus R$ 3.410,00 em 2021), que por sua vez têm rendimento maior que o de homens pretos (R$ 2.241,00) e pardos (R$ 2.604,00) e mulheres pretas (R$ 1.768,00) e pardas (R$ 1.953,00). Na pandemia, ainda houve um efeito maior entre as mulheres, que tendem a deixar mais o mercado para se ocupar com os cuidados com a família. Assim, mulheres pretas e pardas ainda sofreram mais”, destaca.

Joelson Souza

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