Desmoralização do Judiciário e crise de Estado

“Putrefação da instituição”, reconhece Gilmar

geddel

 

Nas últimas semanas, o Procura­dor-geral da República (PGR) Rodrigo Janot, engrossou e improvisou denúncias, para tentar se safar do fiasco das “delações premiadas” de Joesley Batista/Ricardo Saud. E também o ministro do STF, Gilmar Mendes, subiu o tom contra a PGR acusando a “putrefação da institui­ção”. O próprio STF “corre o risco de se ver conspurcado” por seu colega, Facchin, que avalizou tudo que Janot fez. Acrescentemos, consultando a presidente da corte, Carmen Lúcia.

Gilmar tem razão. O que não apa­ga o fato de ele mesmo estar sob “pedido de suspeição” do Ministério Público pela atuação para libertar o empresário de transporte do Rio, Jacob Barata, amigo de família. Seria o enésimo caso de promiscuidade dele, sua mulher advogada e seus sócios, em julgamentos. Além dos “casos” do seu Instituto Brasiliense de Direito Público, e da sua família no Mato Grosso natal, em negócios com o ex-governador, Silval Barbosa, hoje “delator” também. Finalmente, se soube que a JBS financiava os seminários do IBDP em Portugal, onde pontificam Aécio e Fernando Henrique Cardoso, de cujo governo, Gilmar foi consultor-geral, ganhan­do ali a vaga no STF, numa rede de favores e relações de poder.

Como não há mais o grande con­senso na coalizão golpista (devido à resistência popular a sua política) – embora Janot, Gilmar e os outros não deixem de atacar o PT – vem à tona muita coisa. A Globo e mídia tentam filtrar ou manipular, mas acaba che­gando no povo, como mostram os índices de credibilidade em queda das figuras do Judiciário, do STF, o PGR e Moro, inclusive. A ponto de Cármen Lúcia gravar no Jornal Nacional um patético pedido de esclarecimentos para “restabe­lecer a dignidade do STF” – quanta fragilidade!

Euforia econômica e fim de feira
Em sua defesa, Temer, alvo de nova denúncia do Procurador Geral da República (PGR) cujo julgamen­to a Câmara deverá votar, invoca que Joesley armou para ele com o PGR, e que a economia do país está melhorando (não para os milhões de desempregados nem os serviços públicos estrangulados). Mas no dia seguinte à prisão de Joesley, a Bolsa de São Paulo bateu seu recorde histórico de 2008 e a mídia passou a amplificar um clima “positivo”, ainda mais depois do depoimento de Palocci ameaçando comprometer a candidatura de Lula.

Um especialista, professor do IBMEC, explicou que se “reduz as chances de uma can­didatura de Lula em 2018 e o mercado prefere um governo de direita”. O que se sabia. Mas como bater recordes com a reconhecida, para os padrões do merca­do, “inconsistência macroeconômica”, em bom português, a “queda no abis­mo fiscal a caminho” (Estadão, 12/9)? Era para baixar as notas das agências de ris­co e os investidores tirarem dinheiro do país. Só que não, e a explicação realista e cínica dão os mesmos analistas. Já agora “fazem apenas uma ressalva, para a possibilidade do governo falhar com as reformas”. Tudo viraria muito rápido. Mas enquanto isso, “todos tentam estar entre os últimos a sair da bolha para ganhar o máximo antes que tudo desabe”.

“Crise de Estado”
Vai desabar, não vai ficar assim. Na economia como na política.

Todos estão vendo o envolvimen­to do STF nos esquemas. Alguns já sabem, muitos mais saberão que “Edson Facchin na época de sua cam­panha para o Supremo circulou pelos gabinetes do Senado na companhia de Saud” (Valor, 6/09). Saud é o braço de Joesley para negócios sujos. Assim, como o atual ministro da Fazenda, o ex-banqueiro Henrique Meirelles, “no auge da JBS, era seu (Joesley) braço direito”. Ou esse ex-procurador Marcelo Miller, braço direito de Janot, comprado por Joesley para preparar sua “delação” em condições ultra­-favoráveis, era antes na Procuradoria o elo oficial de ligação com a procu­radoria dos EUA que “alimentou” os procuradores brasileiros.

O próprio Moro, agora se sabe, enrolado nos negócios da mulher advogada com um advogado espa­nhol operando vantagens para a Ode­brecht. Sobre este Moro, em 2009, o Wikileaks divulgou que “vazara” participar da confêrencia “Bridges Project” (Projeto Pontes), vinculada ao Departamento de Estado, cujo objetivo é “consolidar treinamento (!) bilateral para aplicação da lei”.

Gilmar, Facchin, Meirelles, Miller e Moro como o Temer dos áudios, tá tudo dominado! Dominado pelo dinheiro que os move e o seu siste­ma em crise, todos sob pressão da potência hegemônica, os EUA, que usa a Justiça para recuperar  merca­dos.

Vem daí a “crise de Estado”, segun­do Carlos Melo, professor do Insper, insuspeito de marxismo. “Somos testemunhas de uma história de de­composição”, escreveu ele a pedido do Estadão (6/09), “para onde se olhar, haverá buracos. A grande re­forma será um dia tapá-los. Hoje não há liderança para isso”, afirma, com “a certeza que o sistema ruiu. Nem há vergonha que baste (…). Mais um auxiliar do presidente escondia malas de dinheiro; tantas a não poder mais carregar. A mente do povo cria nexos. Isto ficará.”

O liberal, aí, confessa o temor de toda a elite, de que a “a mente do povo que cria nexos” se lance numa “grande reforma”. Na verdade, o povo é o único que pode fazê-la!

Constituinte neles!

Markus Sokol

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