Dez meses de revolução na Argélia

Em 12 de dezembro o regime argelino realizou eleições presidenciais amplamente contestadas pelo poderoso movimento revolucionário iniciado em 22 de fevereiro (“Hirak”).

Uma avalanche de propaganda e o uso em larga escala do aparato repressivo não impediram que centenas de milhares de cidadãos saíssem às ruas para denunciar o “golpe de força eleitoral”.

Em algumas regiões os locais de votação nem foram abertos, em outras a coleta de votos foi suspensa ao longo do dia sob pressão das manifestações.

A imprensa servil alardeou o “comparecimento maciço”, mas o próprio regime divulgou 40% de participação, a mais baixa da história…

Em 13 de dezembro, pela 42º sexta-feira consecutiva, o povo ocupou as ruas para dizer “fora o regime” e declarar ilegítimo o “eleito” designado pelas Forças Armadas, Abdelmadjid Tebboune.

O povo exige o fim do sistema
Ao assumir a presidência, Tebboune disse que iria “estender a mão a todos, buscando um consenso nacional” e anunciou uma reforma constitucional a ser submetida a referendo popular. Uma maquiagem do regime, para tentar dividir e conter a “Hirak”.

Em 23 de dezembro, o general Gaïd Salah, de 80 anos, chefe do estado maior das forças armadas, pilar do regime e o fiador da farsa eleitoral, morreu após sofrer um infarto.
Em meio a incertezas, multiplicaram-se apelos ao “diálogo”. Alguns dirigentes políticos levantaram como condição ao diálogo a libertação dos presos políticos. Outros perguntam “dialogar sobre o quê?”. Outros rejeitam o diálogo com o regime e exigem o seu fim, o que é a vontade das ruas.

Em 2 de janeiro, o regime libertou 76 prisioneiros, dentre os quais o “moudjahidin” (herói da guerra da independência) Lakhdar Bouregaâ, como um sinal que permitiria abrir o “diálogo”. As manifestações do dia 3 reafirmaram que o povo quer o fim do sistema, de todos os seus símbolos e a saída dos seus integrantes, com a libertação de todos os presos políticos.

Libertar os presos e Constituinte Soberana
O Comitê Nacional pela Libertação de Luísa Hanune sempre afirmou que a sua prisão – a primeira de uma dirigente partidária – em 9 de maio, e depois condenada a 15 anos, abriu caminho para uma onda repressiva.

Sua prisão foi uma decisão política como é, agora, a libertação dos 76 presos, resultado da pressão incessante exercida pelo movimento de massas.

Nessa situação, o Pacto da Alternativa Democrática lançou um chamado por uma Conferência Nacional em 25 de janeiro. Reafirmando a exigência de libertação dos presos políticos ainda encarcerados, ela tem como objetivo “A conquista de uma nova ordem democrática e social, tal como reivindicada pelo povo desde 22 de fevereiro de 2019, exige rejeitar os falsos diálogos e recusar-se a deixar-se enredar nas iniciativas unilaterais do poder (…) Ela debaterá os mecanismos e a natureza da transição e do processo constituinte”.

O PT, um dos sete partidos que integram o Pacto, considera que “a única solução que permite responder favoravelmente às aspirações da imensa maioria é dar a palavra ao povo argelino por meio de uma Assembleia Nacional Constituinte Soberana.”

Edison Cardoni

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