Na reunião no início de maio, na Suíça, os bancos centrais, preocupados em como salvar o capitalismo da crise através de mais sacrifício impostos aos povos, lançam um alerta. O Banco de Compensações Internacionais (BIS), “alertando que a inflação nos países emergentes ameaça a recuperação da economia mundial”, considerou que o Brasil “também, terá de seguir com sua política de elevação de taxas de juros e corte de gastos”. (OESP, 9/05).
No dia 10, o Secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, dá uma entrevista ao jornal Valor Econômico. Repetindo o mesmo diapasão de corte de gastos com custeio, deu garantias do cumprimento da meta do superávit primário e explicou que no primeiro trimestre “trabalhamos, propositadamente, com um superávit mais forte”, pois “a economia estava em um ritmo acima da atividade (que o governo queria) e que era o momento do fiscal agir com mais força e fizemos isso”. Lembremos que em fevereiro o governo cortou R$ 50 bilhões do orçamento, era o “fiscal”, de que fala Augustin, agindo.
Depois da reunião da “mesa permanente de diálogo” entre governo e centrais sindicais (ver pag. 7), o que disse Gilberto de Carvalho em 6 de maio?
Em entrevista à revista Carta Capital, ele explicou o objetivo de incluir na pauta da “mesa” as prioridades do governo e disse: “A nossa preocupação é que o movimento entenda aquilo que o governo está fazendo contra a inflação. Há um canto da sereia muito grande, que setores interessados propagam na imprensa hoje, a favor de juros mais altos, de medidas mais duras, que o setor financeiro, sobretudo, tem interesse. E o governo acredita que não é bem assim, que tem de manejar o remédio em doses adequadas para evitar um efeito colateral recessivo muito grande. Nos interessa que os trabalhadores compreendam isso e possam vir a apoiar, nossa esperança é que venham a apoiar”. O governo busca comprometer os dirigentes com suas “prioridades”, na chamada “governança”, para ganhar apoio dos trabalhadores? Mas, e os trabalhadores, estarão dispostos?
Com mobilizações, mostram que a prioridade é outra. Depois de duas marchas a Brasília, os servidores públicos federais conseguiram quebrar a resistência do governo que se viu obrigado a abrir negociação com a categoria.
Servidores públicos estaduais estão em greves e mobilização por melhores salários em várias unidades da federação, reagindo ao sucateamento do serviço público provocado pelo pagamento dos juros da dívida (o tal do superávit), política enquadrada pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a qual, segundo Augustin, o governo “não vai mexer, isso não está em discussão”.
Em 11 de maio, os professores da rede pública, com sua Confederação (CNTE-CUT), fizeram um dia nacional de luta, com manifestação em Brasília e greves em 12 estados. Eles exigem a aplicação da Lei do Piso Salarial, que se choca com o corte de gastos públicos e a LRF.
Essas mobilizações mostram que os trabalhadores não estão dispostos, seja em dose cavalar ou homeopática, a engolir o remédio recomendado para salvar o capitalismo da sua crise, e para isso precisam contar com suas organizações, como o PT e a CUT.
Não é também o que mostram mobilizações em outros países, como as que ocorrem nesse momento na Grécia? Ainda é tempo de romper com essa política no Brasil.