“Judas e o Messias Negro” resgata história e coloca questões muito atuais

O filme Judas e o Messias Negro foi um dos destaques na última premiação do Oscar com 6 indicações (Melhor filme, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Original, Melhor Fotografia e Melhor Canção Original por ‘Fight For You’), levando duas estatuetas para casa, nas categorias de Melhor Ator Coadjuvante (Daniel Kaluuya) e Melhor Canção Original na voz da cantora e compositora H.E.R. A fotografia do filme é belíssima e nos leva ao final da década de 60 em Chicago, acredito que deveria ter levado também essa estatueta.

A trama do filme se passa na cidade de Chicago, relatando parte da história de Fred Hampton (Daniel Kaluuya), jovem de apenas 20 anos que se tornou líder do Partido dos Panteras Negras no estado de Illinois. Sob a direção de Shaka King (de Newlyweeds — filme de 2013), a história retoma o ano de 1969, e gira em torno de Fred Hampton e Bill O’Neal (Lakeith Stanfield), homem negro e informante do FBI no partido, que contribui para o assassinato de Hampton aos 21 anos. Nessa época os Panteras Negras já eram considerados “a maior ameaça a segurança interna americana”, segundo o FBI. Como diria Steve Biko, se os negros decidem se organizar e reagir de forma coletiva “o sistema liberal parece encontrar nisso uma anomalia”.

O filme levanta questões na luta ao combate ao racismo que tem toda atualidade. Um dos destaques é a importância dada à questão de que para pôr um fim ao racismo nos EUA, é preciso combater toda sua estrutura capitalista, que golpeia e oprime todas as camadas exploradas da sociedade, como os negros, latinos, brancos pobres etc. A passagem no filme em que Hampton se dirige e propõe unidade aos Young Patriots (organização que reunia brancos pobres do Sul) e os Young Lords (Organização que luta pelos direitos humanos e civis porto riquenhos), reflete a necessidade de união da atualidade.

No ano passado, após o assassinato de Goerge Floyd, presenciamos uma explosão social no coração dos Estados Unidos, com mobilizações que extrapolaram as questões comunitárias ou raciais, e que uniu negros, latinos, juventude branca, que se alastrou por mais de 150 cidades e diversos países do mundo. A frase “não consigo respirar”, últimas palavras de Floyd ecoaram por todo o mundo, representando o sufocamento que o sistema capitalista causa em toda a sociedade.

No dia 1 de setembro de 2007 tive a oportunidade de presenciar o discurso de um ex-militante do Panteras Negras em Nova Orleans, durante o Tribunal Internacional Furacão Katrina. Malik B. Rahin, foi uma das pessoas que testemunhou durante o tribunal internacional, relatando como a população negra em Nova Orleans ficou entregue a própria sorte após a passagem do furacão e todo trabalho comunitário que realizaram. Malik foi co-fundador da Common Ground Collective, uma rede de suporte para os residentes da cidade após a tragédia do furacão. Em conversa com Malik, no intervalo das atividades ele destacou que muitos negros foram salvos por um grupo de militantes brancos do Texas, que tinham acesso livre na cidade pelo simples fato de serem brancos; qualquer negro que transitasse na cidade, mesmo que não estivesse fazendo nada, tinha grande possibilidade de ser assassinado, como muitos negros infelizmente foram. Reforçando a necessidade e importância da unidade de todos aqueles que se opõem a esse sistema.

Judas e o Messias Negro é um ótimo filme, com uma fotografia belíssima e que resgata parte importante da história da luta dos negros nos EUA, que muitas vezes foram deturpadas pelo FBI.

Joelson Souza

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