Depois de um tempo sem presença marcante nas manchetes, a força-tarefa de procuradores da operação Lava Jato voltou à evidência desde o final de junho por causa de atrito com a Procuradoria Geral da República (PGR). A Lava Jato não aceita compartilhar com a PGR dados de suas investigações, como se fosse uma unidade fora do controle da instituição da qual faz parte. Por enquanto, uma decisão liminar do Supremo Tribunal Federal (STF) determinou a remessa das informações à PGR.
São os mesmos procuradores que, de forma servil, repassaram informações e debateram estratégias com instituições dos Estados Unidos, em particular o FBI, polícia federal estadunidense, e o Departamento de Justiça (DoJ) dos EUA. Mais: fizeram isso de forma ilegal, às costas do governo brasileiro, na época em que Dilma Rousseff ainda não havia sido retirada da Presidência pelo golpe.
O objetivo político da Lava Jato ficou evidente nos julgamentos de Lula. O então juiz Sergio Moro, em vez de atuar com imparcialidade, coordenou ilegalmente a atividade dos procuradores e de delegados da Polícia Federal com o objetivo de condená-lo, mesmo sem provas dos crimes de que era acusado. Assim, Lula foi preso em tempo recorde e impedido de concorrer às eleições presidenciais, quando liderava as pesquisas de intenção de votos.
No “ringue” com Lula
Os integrantes da Lava Jato atuam como grupo político. Foi anunciado, por exemplo, que a força-tarefa poderia doar até R$ 508 milhões ao governo federal para o combate à pandemia. Como se tivessem autonomia para decidir como aplicar recursos que estão sob a guarda da Justiça. Além disso, o anúncio da possível doação foi feito pela juíza Gabriela Hardt, substituta de Moro em Curitiba. Não houve nem a preocupação de disfarçar a associação imprópria entre quem acusa (procuradores) e quem julga (juíza). O STF barrou a iniciativa.
A “generosidade” da Lava Jato seria o primeiro grande lance da campanha que pretende levar Moro, atualmente rompido com Bolsonaro, à Presidência da República. E o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa de Curitiba, acabou confirmando esse caráter político, ao dizer, em entrevista à CNN, no dia 3, que interessa ao governo e seus aliados a “desconstrução do ex-ministro Sergio Moro e da Lava Jato, de que ele é símbolo, pelo receio de que ele venha eventualmente a concorrer em 2022”.
Moro, em pessoa, entrevistado pela GloboNews no dia 5, referiu-se às audiências com Lula, durante seu julgamento, como um “ringue”. Colocou-se, portanto, não como juiz imparcial, e sim como adversário em uma luta. A defesa de Lula quer que o STF julgue a suspeição de Moro e anule os julgamentos. Ao longo dos processos, os advogados denunciaram as arbitrariedades, o que o Judiciário ignorou. As matérias da série #VazaJato vieram confirmar que houve condenações sem provas.
Havia o objetivo político (tirar Lula da eleição) e o objetivo econômico (favorecer multinacionais). Lula, em entrevista à Rádio Gaúcha, no dia 9, declarou: “A ideia de fazer esse processo (Lava Jato) todo nasceu no Departamento de Justiça dos Estados Unidos”. E completou: “A quem interessa acabar com a indústria naval? A quem interessa acabar com a indústria da construção, com a engenharia civil brasileira que trabalhava nos EUA, que trabalhava na Europa, que trabalhava na África, que trabalhava na América Latina?”.
Cláudio Soares