Para fazer o que não foi feito.
Um manifesto de intelectuais (Chico Buarque, Leonardo Boff, Fernando de Moraes e outros) pediu para Lula se lançar candidato a presidente em 2018 “porque ainda é preciso incluir muita gente e reincluir aqueles que foram banidos outra vez”.
A discussão já existia, deve crescer. Sem dúvida, o regime golpista cada vez mais odiado, acentua a busca de uma saída política. E a perseguição jurídico-midiática contra Lula, realça a alternativa temida pela classe dominante.
As pesquisas mostram como a impopularidade de Temer alavanca a candidatura de Lula (e também a do deputado Bolsonaro que se alimenta da desmoralização dos partidos da direita), embora falte um ano e meio para o pleito.
Mas de fato, para os trabalhadores, o quanto antes é melhor, terminar com o desmonte econômico, social e nacional de Temer.
Por outro lado, carente de legitimidade, Temer pode cair antes, sobretudo se a resistência travar a reforma da Previdência e a Trabalhista, sua sustentação no “mercado”.
O menor problema seria descartá-lo, por injunção do Tribunal Superior Eleitoral que julga suas contas de campanha. Tanto que a própria Folha de S. Paulo golpista já diz em editorial que “a cassação da chapa levaria a uma eleição indireta —por um Congresso sob níveis históricos de descrédito— para os postos de presidente e vice. Melhor seria que uma emenda constitucional impusesse a escolha por voto popular” (3/3/17).
Nessa situação, Lula seria candidato a presidente para fazer o que?
Não poderia repetir 2002, e “reincluir” simplesmente. A situação internacional mudou, não há setor das elites para se “aliar” e – realismo-, tampouco há aquela expectativa de formidáveis ilusões, de que bastaria eleger o “salvador” (nas pesquisas há certa rejeição).
Lula presidente do PT
Por outro lado, com o PT abalado e ameaçado, Lula ser presidente consensual do PT, é uma forma de dar coesão ao partido. O risco da condenação jurídica de Lula é um argumento para a invalidação de sua candidatura, não para a condução do partido, bem entendido, numa linha de enfrentamento com as instituições golpistas.
A candidatura Lula cruza o debate do 6o Congresso do PT. Em especial sobre o balanço da dupla derrota sofrida na derrubada de Dilma e na eleição municipal. Dela decorrem as tarefas da hora, a luta contra a reforma da Previdência e a Trabalhista – que pede uma greve geral – e o Fora Temer. Necessidades da defesa dos trabalhadores para potencializar a candidatura Lula que pode se colocar de imediato.
Em sintonia, a plataforma da candidatura do PT, Lula, deve superar a do primeiro mandato que, apesar das conquistas, todavia, abriu caminho à maior derrota já sofrida pelo PT. Não preparou o povo para enfrentar as instituições herdadas, optou pela adaptação, com o aliancismo de conciliação, até que as instituições o derrubaram.
Por isso, o primeiro ponto da plataforma de Lula deve ser a convocação de uma Constituinte Soberana para fazer as reformas que não foram feitas, Política, da Mídia, Tributária, Agrária e outras. Só assim, se criará novas instituições emancipadas da ditadura do superávit para pagar a dívida, compatíveis com um governo popular que atacar a desigualdade na raiz.
Como às vezes diz o próprio Lula, “voltar para fazer o que não fiz”. Ele é o melhor colocado para isso.
Markus Sokol