Manifestações “No Kings” (“sem reis”), em 18 de outubro nos Estados Unidos

Sete milhões de estadunidenses saíram às ruas para participar de uma das 2.700 manifestações contra a política de Donald Trump, organizadas por ocasião do segundo No Kings Day, no sábado 18 de outubro. Foram, no mínimo, um milhão de pessoas a mais do que na primeira edição, em junho passado.

Convocadas por uma ampla coalizão de associações, sindicatos e organizações políticas, as manifestações tiveram palavras de ordem condenando as batidas da polícia de imigração, o envio da Guarda Nacional às grandes cidades, as demissões de funcionários públicos durante o shutdown (paralisação no governo), os ataques aos dispositivos de proteção social, a política fiscal favorável aos mais ricos, a política de guerra contra a Venezuela, o plano de Trump para Gaza…

Essas manifestações massivas nas grandes cidades, mas que também ocorreram em vilarejos rurais geralmente muito favoráveis a Trump, são, no entanto, sintoma de uma situação muito diferente daquela vivida por vários países europeus. A taxa de aprovação de Trump, nove meses após a sua posse, continua alta, acima de 40% segundo as pesquisas: apesar de minoritário, ele continua sendo apoiado por grande parte da população.

Os Estados Unidos estão extremamente divididos entre os defensores da política trumpista de afirmação da supremacia do imperialismo dos EUA e os seus opositores. Em resposta aos protestos, Trump publicou um vídeo gerado por inteligência artificial de uma vulgaridade notável, no qual, com uma coroa na cabeça, ele montava um caça para bombardear os manifestantes com fezes. O estilo é o homem, mas também é sua política, uma política que visa deliberadamente exacerbar as tensões.

Alguns organizadores apelavam contra os “excessos” de Trump, pelo respeito à Constituição, na esperança de ressuscitar a perspectiva de um retorno a uma vida política estadunidense “normal”, com alternâncias e acordos entre maioria e minoria no Congresso. Essa esperança é vã: os democratas permanecem paralisados, presos entre a política de Trump e seus temores de levantar um movimento que os ultrapassaria – e os eliminaria. A propósito, a resposta do vice-presidente Vance às manifestações foi um vídeo, também gerado por inteligência artificial, representando Trump coroando-se como Napoleão e empunhando uma espada diante da qual os líderes democratas se prostram…

O New York Times de 18 de outubro relata que a multidão reunida na emblemática Times Square, em Nova York, gritava “No more Trump” (chega de Trump), expressando seu desejo de afastar Trump e sua política. Quanto às bandeiras palestinas empunhadas principalmente pelos militantes do Codepink ou do DSA, elas também questionavam a política de Biden e dos democratas. Brandon Johnson, prefeito democrata de Chicago (que foi eleito contra a elite democrata), convocou durante a manifestação em sua cidade uma greve geral em todos os Estados Unidos, sob os aplausos da multidão. Essa polarização crescente e a impossibilidade de continuar com a política “como antes” encontram sua expressão na eleição para a prefeitura de Nova York, no próximo dia 4 de novembro. Nesta cidade conquistada pelos democratas, Zohran Mamdani, membro do DSA (Socialistas Democráticos da América), está prestes a vencer, com um programa que prioriza os problemas enfrentados pelos nova-iorquinos: o preço dos aluguéis, os custos e a lentidão dos transportes, a falta de creches… com um programa de ruptura com a política de Trump e dos democratas.

Devan Sohier

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