MST versus Suzano

No dia 27 de fevereiro o MST ocupou, no extremo sul da Bahia, terras pertencentes à Suzano papel e celulose, uma gigante do ramo. Só no ano passado a Suzano lucrou R$22 bilhões.

O objetivo da ação era exigir o cumprimento do acordo que vem sendo descumprido pela empresa de assentar pelo menos 650 famílias.

O acordo – que previa o assentamento de número similar de famílias pela Veracel e Fibria, outras empresas do ramo – foi conquistado depois da denúncia feita pelo MST a respeito dos danos causados pela monocultura de eucalipto na região.

Enquanto a Veracel concedeu áreas para o assentamento de 720 famílias e a Fibria de 612 famílias, nas áreas da Suzano nenhuma família foi assentada.

Para se defender perante o descumprimento do acordo firmado em 2011, a empresa alega que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) não realizou as demarcações.

As áreas recentemente ocupadas, foram desocupadas por decisão judicial, por pressão da Polícia Militar e outros organismos de repressão do Estado, no dia 8 de março.

Agora a Suzano quer cobrar indenização por alegados “prejuízos ocasionados durante a ocupação”. Quando é justamente o oposto, os trabalhadores sem terra é que deveriam ser indenizados pelo não cumprimento do acordo, pelo longo período de fome, mortes e desnutrição, além de outras doenças decorrentes da falta de alimentos.

De acordo com Eliane Oliveira, da direção estadual do MST, “no extremo sul da Bahia, 70% das áreas agricultáveis estão sob domínio da empresa Suzano, que está nesse território há mais de 3 décadas, causando problemas ambientais e sociais seríssimos”.

Ainda de acordo com Eliane “as famílias que moram nas áreas próximas das instalações da papeleira sofrem com a pulverização aérea de agrotóxicos, com o sumiço das abelhas, com os problemas relacionados à escassez hídrica e o envenenamento das águas nos municípios, tudo isso como impacto do deserto verde dos eucaliptos” (entrevista concedida ao site “poder 360”).

Vitória importante
Mesmo com a desocupação, o MST garantiu em mesa de negociação com a empresa, o governo federal e o governo da Bahia, o compromisso de que 650 famílias seriam assentadas. Uma vitória que deve ser comemorada.

A pressão dos latifundiários e do agronegócio é imensa como demostra a entrada na Câmara dos Deputados do pedido de instalação de CPI contra o MST, assinada por todos os componentes da “Bancada da Bala”.

Será necessário ajudar a organizar a resistência com o apoio do movimento sindical e popular para avançar na luta pela Reforma Agrária. Os interesses do agronegócio não podem estar acima da segurança alimentar do Povo Brasileiro, o nosso povo não come eucalipto, o MST produz alimentos saudáveis, livres de agrotóxicos e cultivados a partir de sementes produzidas sem a interferência de transgênicos e pesticidas.

No Brasil com vasta extensão de terras agricultáveis, 33,1 milhões de pessoas passam fome e outros 65,5 milhões vivem na insegurança alimentar de moderada a severa. Durante o governo Bolsonaro, grandes empresas do agronegócio aproveitaram para “passar a boiada” e concentrar ainda mais a propriedade da terra, explorar a mão de obra de trabalhadores famintos e explorar ainda mais os trabalhadores, às vezes em situações extremas. Essa situação precisa acabar.

Lourival Lopes

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