Não à ingerência de Trump no Brasil!

Declaração da Corrente O Trabalho, seção brasileira da 4ª Internacional

A taxação de 50% aos produtos brasileiros que entram nos EUA anunciada por Trump, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, é um ataque imperialista à nação brasileira. Agressão sem precedentes, antes de tudo é um testemunho da crise generalizada do capitalismo, em particular no centro do império, os EUA, que não encontra outras soluções para a humanidade senão a pilhagem, a guerra e os ataques aos povos.

Muitos países estão sendo ameaçados com a imposição de tarifas alfandegárias pelos EUA, mas em nenhum outro caso a alta teve justificativa abertamente política, que equivale à ingerência nos assuntos internos, como ocorre com o Brasil. A chantagem de Trump vem para que se interrompa “imediatamente” a “caça às bruxas” que estaria vitimizando o seu aliado Bolsonaro.

Dias depois da carta da taxação, Trump, em uma escalada de ameaças, instalou uma “investigação comercial” contra o PIX em favor da bigtechs (as grandes corporações do ramo de internet e informática) e das bandeiras de cartões de crédito. No dia 17/7 enviou carta de apoio a Bolsonaro na véspera do STF ordenar tornozeleira eletrônica para evitar a fuga. Depois das medidas restritivas contra Bolsonaro, retirou os vistos americanos da maioria dos ministros do STF e membros da AGU.

Os trabalhadores no Brasil já sofrem as consequências desses ataques. Algumas empresas como as madeireiras Milpar e a BrasPine, do Paraná, deram férias coletivas para 1,3 mil trabalhadores. Em setores como a produção de aço, máquinas, e do agronegócio – laranja e café -, as taxas de Trump espalham o temor do desemprego.

Lula, corretamente, respondeu ao ataque dizendo que poderá utilizar medidas de reciprocidade se a ameaça da tarifa de 50% se concretizar. O governo anuncia que estudos estão sendo feitos sobre quebra de patentes de medicamentos, fiscalização de transferências de dividendos de multinacionais estadunidenses e outras medidas retaliatórias. No Congresso da UNE, dia 17, Lula ameaçou taxar as bigtechs. Em pronunciamento em rede de TV reafirmou o princípio da soberania, falou de negociação e novamente de reciprocidade.

Negociar o quê? A anistia aos golpistas de janeiro de 2023, ou o indulto a Bolsonaro e os generais? Acertar a entrega de “segmentos econômicos” do mercado brasileiros à rapina estadunidense? A questão da soberania nacional, sempre sombreada na cena, toca a consciência popular.

Apoiar Trump, como fez o entorno de Bolsonaro, ou silenciar, como fizeram outros canalhas, é colocar-se como traidor da pátria!

Alguns dias após a carta veio a segunda reação de editoriais da grande imprensa e as falas de empresários e “especialistas” pressionando o governo a ceder à chantagem e descartar a reciprocidade e o confronto. “Se um país retaliar, a consequência será o fim do comércio e uma derrota para todos”, disse José Velloso, presidente da Abimaq, das máquinas e equipamentos (Valor 16/7). “O importante é combinar com setores o apoio a uma proposta de liberalização de alguns segmentos econômicos”, disse Graça Lima, Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Estadão, 13/7). Covardes!

Ninguém pode prever o que acontecerá em 1º de agosto, sendo conhecidas as idas e vindas da política tarifária de Trump e o seu “morde e assopra” nas negociações. O certo é que, ao atacar o Brasil e o governo Lula, Trump também quer atingir os BRICS para tentar bloquear a tendência à desdolarização das trocas internacionais, num esforço desesperado para manter o lugar central do imperialismo dos EUA no mercado mundial.

Face à agressão estadunidense apoiamos todas as medidas de resistência do governo. E frente a ela é preciso:

  • Taxação recíproca aos produtos estadunidense
  • Cadeia para os bolsonaristas traidores da pátria
  • Taxar as bigtechs
  • Quebrar as patentes farmacêuticas
  • Taxar as remessas de lucros das multinacionais americanas
  • Garantia real dos empregos ameaçados pela taxação

Sim, é necessária a mais ampla frente para enfrentar Trump e defender a soberania nacional. Mas nessa frente a classe trabalhadora e suas organizações devem exigir a garantia dos seus empregos, salários e direitos. Nenhuma demissão nem perda salarial ou de direitos pode ser admitida e o governo tem os meios de garanti-los!

A mobilização ocorrida em 10 de julho que em São Paulo reuniu 20 mil manifestantes. Foi a primeira resposta às ameaças à soberania do Brasil. O Diálogo e Ação Petista esteve presente com seus pirulitos levantando “Trump tire suas patas do Brasil”, que combinaram-se com as exigências anteriores de taxação dos mais ricos, isenção para os mais pobres, redução da jornada de trabalho e fim da escala 6 X 1, que estão presentes no Plebiscito Popular.

Assim como no Brasil, a resistência à política de Trump se expressa no México, na Colômbia e nos próprios Estados Unidos. No seio do ventre do imperialismo, milhões se manifestaram no dia de mobilização “Sem Reis”, para rechaçar a medidas de prisão dos migrantes com as batidas do ICE (serviço de migração) e o corte nos gastos sociais do novo orçamento americano.  Nesta situação, na maior cidade do país e centro financeiro mundial, Nova York, o candidato Zohran Mamdani do DSA (Socialistas Democráticos da América) venceu as prévias do Partido Democrata para a eleição municipal. Levantando um programa que inclui a denúncia do genocídio do povo palestino e pelo fim do envio de armas dos EUA para Israel, o congelamento do aluguel de um milhão de unidades habitacionais com preços regulados, ônibus gratuitos, congelamento das tarifas de metrô, creches gratuitas para crianças de até cinco anos de idade e aumento do salário-mínimo.

A central sindical estadunidense AFL-CIO, em nota, declarou que “o tarifaço inevitavelmente prejudicará os trabalhadores brasileiros e americanos” e que “é motivado para apoiar um autocrata desacreditado, Jair Bolsonaro, atacando a soberania e a democracia no Brasil”. Também a “Greve pela Dignidade”, de três dias (16-18 de julho), realizada pelos trabalhadores agrícolas da Califórnia em defesa dos direitos dos migrantes ganhou a cena.

O combate à política tarifária de Trump se combina diretamente ao de seus ataques aos imigrantes e à classe trabalhadora nos próprios EUA, ao combate a sua política de apoio incondicional ao genocídio praticado por Israel em Gaza e de pressão por um aumento de gastos militares de seus aliados europeus da Otan.

A Conferência Continental em “Defesa dos Migrantes e do Direito de Migrar”, que ocorrerá no México em setembro, e que estamos ajudando a organizar, integra essa luta.

Nesse grave momento da situação mundial – em que se demonstra a completa falência do regime de propriedade privada dos meios de produção – mais do que nunca, ajudemos a agrupar as forças em cada país e em escala internacional contra a política de pilhagem e guerra do imperialismo estadunidense. A essa luta, a Corrente O Trabalho do PT, que atua com o Dialogo e Ação Petista, dedica todos os esforços. Junte-se a nós!

23 de julho de 2025

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