“Após o ataque em Pahalgam, a situação entre a Índia, armada notadamente pela França, e o Paquistão, armado pela China, mostra vários sinais preocupantes de escalada: uma presença indiana mais forte na Caxemira, o lançamento de um teste de míssil balístico pelo Paquistão, a suspensão do Tratado das Águas do Indo e o cancelamento de vistos para cidadãos paquistaneses pela Índia. Ninguém sabe onde tudo isso pode levar. No entanto, a guerra que se desencadeia já está começando com a guerra contra a classe trabalhadora indiana travada pelo governo Modi”.
Daresh Hake
Em 22 de abril de 2025, no vale de Baisaran, perto de Pahalgam, em Jammu e Caxemira, cinco homens armados, vestidos com uniformes militares e portando rifles de assalto abriram fogo contra um grupo de turistas, matando 26 pessoas e ferindo mais de 20.
O primeiro-ministro Narendra Modi insistiu na “unidade nacional contra o terrorismo”, antes de lançar uma repressão contra a juventude e militantes sindicais e políticos. Ele havia acabado de se encontrar com Mohan Bhagwat, líder do Rashtriya Swayamsevak Sangh (RSS), um grupo reacionário, fascista e violento. Esse grupo está pressionando com demonstrações de força em alguns estados. O Ministro do Interior, Amit Shah, visitou o local do ataque para coordenar a resposta de segurança. O governo lançou uma grande repressão, prendendo mais de 2 mil pessoas com base nas rigorosas leis antiterrorismo. Foram registradas demolições de casas pertencentes a suspeitos, apesar das decisões da Suprema Corte que as declararam ilegais.
Grupos de direitos civis denunciaram as prisões em massa e as demolições de casas realizadas pelas forças de segurança indianas após o ataque. Essas ações constituem punição coletiva.
Após o ataque em Pahalgam, a situação entre a Índia, armada notadamente pela França, e o Paquistão, armado pela China, mostra vários sinais preocupantes de escalada: uma presença indiana mais forte na Caxemira, o lançamento de um teste de míssil balístico pelo Paquistão, a suspensão do Tratado das Águas do Indo e o cancelamento de vistos para cidadãos paquistaneses pela Índia. Ninguém sabe onde tudo isso pode levar. No entanto, a guerra que se desencadeia já está começando com a guerra contra a classe trabalhadora indiana travada pelo governo Modi.
Estamos publicando aqui dois textos do CPI (ML) de Libertação (Partido Comunista da Índia (Marxista-Leninista), bem como elementos dos preparativos para a greve unificada de 20 de maio contra os novos códigos do trabalho e contra a privatização.
“O povo deve se unir contra as tentativas desprezíveis de incitar o ódio”.
Editorial de Dipankar Bhattacharya, secretário-geral do CPI(ML) Libération, publicado no ML Update
O hediondo ataque em Pahalgam mais uma vez nos colocou frente a frente com a brutalidade do terrorismo. O assassinato brutal de nada menos que 26 turistas, incluindo um turista nepalês e um proprietário de pôneis em Pahalgam, chocou o mundo. Os autores desse crime terrível devem ser levados à justiça. (…)
Agora estão circulando relatos de que o governo tinha informações antecipadas sobre um possível ataque terrorista. O cancelamento de última hora da visita de Narendra Modi a Jammu e Caxemira, programada para 19 de abril, só acrescenta credibilidade a esses relatos. (…) Muitas famílias de vítimas, analistas de segurança e observadores da Caxemira apontaram essa lacuna crucial da inteligência e segurança, mas o governo e a grande mídia permanecem ostensivamente silenciosos sobre o assunto.
“O objetivo é criar um clima chauvinista para desviar a atenção dos muitos fracassos do governo Modi e estimular a histeria islamofóbica”.
A grande mídia e a célula de informática do Sangh-BJP se dedicam a demonizar os caxemires e toda a comunidade muçulmana na esteira do ataque a Pahalgam. Enquanto os terroristas visavam os turistas, especialmente por causa de sua identidade religiosa, os muçulmanos locais da Caxemira arriscaram, e até sacrificaram, suas vidas para transportar os turistas em segurança e evacuar os feridos para os hospitais. Na ausência de qualquer segurança ou ajuda oficial por pelo menos uma hora e meia, foi a intervenção da população local que salvou muitas vidas e limitou o número de vítimas.
(…) No entanto, os muçulmanos da Caxemira são vilipendiados e o resultado da campanha de ódio tóxico realizada pela brigada Sangh (simpatizantes do RSS) e pela mídia godi (em hindi, significa “mídia de joelhos”) pode ser visto em toda a Índia no aumento das ameaças e da violência contra estudantes, comerciantes e trabalhadores da Caxemira. (…) O objetivo é criar um clima de chauvinismo para desviar a atenção dos muitos fracassos do governo Modi e estimular a histeria islamofóbica.
(…) De Manipur a Caxemira, de Maharashtra a Chhattisgarh, os jogos de poder do Sangh estão fazendo a Índia sangrar e arder, enquanto Adani e Ambani (dois bilionários) contam seus bilhões e o BJP e seus aliados se banqueteiam. (…)
As pessoas devem se unir contra as tentativas desprezíveis das forças fascistas de explorar a tragédia de Pahalgam para incitar o ódio e a polarização. Como todos os dias surgem novas questões sobre as circunstâncias desse ataque hediondo, devemos insistir para que os dirigentes prestem contas e evitar que a verdade se torne uma nova vítima. A ameaça de uma guerra entre dois vizinhos com armas nucleares deve ser neutralizada, e as forças de paz de ambos os lados da fronteira entre a Índia e o Paquistão devem fazer o máximo para aliviar as tensões e fortalecer a unidade e a cooperação bilateral e regional no sul da Ásia.
Declaração contra a intimidação de estudantes da Caxemira em Uttarakhand e o aumento dos incidentes de ódio intercomunitário
Comitê Central do CPI (ML) Libertação
Nova Délhi, 25 de abril de 2025
Todos nós devemos nos unir contra as tentativas de explorar a tragédia de Pahalgam por forças comunitárias, chauvinistas e sectárias que buscam semear o ódio e a polarização. As recentes ameaças e perseguições contra os caxemires, incluindo estudantes e residentes, após o ataque terrorista em Pahalgam, são atos desprezíveis, alimentados pelo ódio, com o objetivo de dividir a sociedade. É uma tentativa vergonhosa de explorar uma tragédia por forças comunitárias, chauvinistas e sectárias. (…) Em um vídeo que circula nas redes sociais, foram feitas alegações inflamadas e exageradas sobre “milhões de infiltrados” no estado, claramente com o objetivo de alimentar o medo e provocar a polarização comunitária para fins políticos.
Aumento do ódio e do sectarismo comunitários
O CPI (ML) também condena veementemente a onda de ódio intercomunitário e as ameaças dirigidas contra os muçulmanos, tanto nas redes sociais quanto no espaço público. Um incidente preocupante foi relatado em Dadar, Mumbai, onde vendedores muçulmanos bengalis foram atacados e assediados.
Várias contas importantes de mídia social, principalmente aquelas ligadas à direção do BJP-RSS, estão espalhando informações falsas e incitando o ódio contra os caxemires e os muçulmanos. A simples exclusão dessas publicações das redes sociais não é suficiente. Deixar de tomar medidas decisivas apenas encoraja esses elementos de divisão.
Os indivíduos e grupos responsáveis devem sofrer sérias consequências legais. Os governos dos estados devem agir rapidamente e com determinação para reprimir o ódio intercomunitário e o sectarismo propagados ativamente em espaços públicos e on-line. Rejeitem as forças do ódio, do comunitarismo e do sectarismo!
Greve geral unificada em 20 de maio
Vários sindicatos e organizações da Índia estão convocando uma greve geral para o dia 20 de maio de 2025, para protestar contra as políticas do governo Modi, em especial a adoção de quatro novos códigos trabalhistas. O objetivo da greve é defender os direitos dos trabalhadores e se opor às medidas que favorecem as grandes empresas em detrimento dos empregados.
A greve é apoiada em uma plataforma conjunta de dez centrais sindicais, com exceção do Bharatiya Mazdoor Sangh (BMS), afiliado ao RSS. Os sindicatos envolvidos são:
INTUC (Congresso Nacional de Sindicatos Indianos), AITUC (Congresso de Sindicatos de Toda a Índia), CITU (Centro de Sindicatos Indianos), HMS (Hind Mazdoor Sabha), AIUTUC (Centro de Sindicatos Unidos de Toda a Índia), TUCC (Centro de Coordenação de Sindicatos), SEWA (Associação de Mulheres Autônomas), AICCTU (Conselho Central de Sindicatos de Toda a Índia), LPF (Federação Progressista do Trabalho), UTUC (Congresso de Sindicatos Unidos).
Esses sindicatos organizaram uma convenção nacional de trabalhadores para coordenar as ações e lançaram uma campanha de dois meses que culminará com a greve em 20 de maio. O Samyukt Kisan Morcha (SKM), uma coalizão de sindicatos agrícolas, também deu seu apoio, enfatizando a importância da solidariedade entre trabalhadores e agricultores.
Entre as principais reivindicações dos grevistas estão: a revogação dos quatro novos códigos trabalhistas, considerados prejudiciais aos direitos dos trabalhadores; o estabelecimento de um salário mínimo de 26 mil rúpias por mês para os trabalhadores do setor informal; o fim da privatização das empresas públicas; a restauração do antigo regime de aposentadoria e o fim da terceirização de empregos permanentes.
Tradução: Adaias Muniz