A candidatura Ciro Gomes passou o último ano namorando a direita, o DEM, o PP etc. sempre atacando o PT e Lula.
Agora, voltou a acusar que Lula “sabia do roubo na Petrobras” (O Globo, 17/09). Sempre dúbio, havia se declarado contra a prisão de Lula, mas não participou da campanha “Lula Livre”. Depois que o Tribunal Superior Eleitoral sacramentou a ilegal impugnação de Lula, Ciro passou a tentar atrair os eleitores de Lula e do PT posando de “mais à esquerda” ou de “nacionalista”.
Não inspira confiança
Ciro não é “o” inimigo, afinal, posicionou-se contra o golpe do impeachment, mas sua candidatura tampouco inspira confiança à classe trabalhadora.
Ele tem um comportamento errático, despreza o coletivo e a cada eleição arranja algum partido novo. O principal, seu plano de governo está, na essência, adaptado às exigências do mercado.
Seus economistas (Mauro Benevides, Nelson Marconi etc.) querem um desenvolvimento através da redução do salário real que aumente a competitividade da indústria no mercado internacional. Por isso propõe um câmbio fortemente desvalorizado – a alta do dólar “barateia” exportações, mas reduz o poder aquisitivo, em termos relativos.
Manter a desvalorização em termos reais supõe medidas que impeçam a recuperação de perdas salariais frente à alta do dólar e demais preços, de modo a manter o custo salarial da indústria menor do que o das concorrentes externas. Por isso, também, Ciro defende um forte “ajuste fiscal que permita alcançar o equilíbrio nas contas públicas em dois anos”. Embora se diga contra o congelamento dos gastos de Temer, a entrega da Embraer e da Petrobrás, ele defende várias outras privatizações.
Privatização da Previdência
Ciro defende uma reforma privatista da Previdência que ataca direitos. Repete a mentira da mídia, do mercado e dos banqueiros: a Previdência seria deficitária. Não é. A falsificação não contabiliza a contribuição do governo como fonte de receita da Previdência, que é parte da Seguridade Social. Ademais, o fim de desonerações aos empresários e o combate à sonegação tornariam suas contas ainda mais superavitárias.
Mas Ciro segue o dogma do mercado e propõe – como Alckmin, Bolsonaro e outros direitistas – um sistema de capitalização individual: cada trabalhador pagaria por sua própria aposentadoria, recolhendo a um fundo de aplicação a ser administrado por instituições financeiras privadas. O quanto ele receberá ao se aposentar, dependerá do rendimento obtido pelo fundo, pois o governo garantiria apenas um teto mínimo. Se o rendimento dessa poupança individual for menor do que a capitalização prometida, o benefício também será menor.
Isso destruiria o sistema atual de Seguridade Social e de Previdência pública e solidária em que governo, empresas e trabalhadores contribuem para pagar as aposentadorias correntes, com valor garantido. O modelo de Ciro é o que foi imposto por Pinochet no Chile, e mais tarde proposto pelo Banco Mundial, que, afinal, fracassou, sobretudo porque deixa na mão os aposentados pobres e mais necessitados.
De acordo com a principal exigência do mercado, a odiosa reforma da Previdência, ele se dá ao luxo de algumas bravatas. Mas o povo não é bobo!
Alberto Handfas