O que se passou na Plenária da CUT?

Entre os dias 20 e 24 de outubro realizou-se a 16ª Plenária Nacional da CUT (Plencut). Os desafios eram grandes para a CUT assumir maior protagonismo na luta de classes, mas a forma virtual adotada prejudicou bastante a discussão.

Foram inscritos 950 delegadas e delegados eleitos nas plenárias estaduais, mas a média de presentes “na tela” oscilou entre 350 e 400, atingindo pouco mais de 600 nos momentos de votação.

Boa parte das emendas vindas dos estados e ramos sobre os temas Estratégia, Projeto Organizativo e Plano de Lutas foram adotadas por consenso.

Nos grupos de trabalho destacou-se a intervenção dos 43 delegados(as) dos agrupamentos “CUT Independente e de Luta” (CIL) e “CUT Pode Mais” (CPM) que atuaram em conjunto. No debate de conjuntura, tema que não foi a voto, eles destacaram a podridão das instituições, que deram seu aval ao golpe contra Dilma e à prisão de Lula, apontando a necessidade de uma Constituinte soberana para reconstruir a nação destroçada pela política do governo Bolsonaro.

As polêmicas centrais
Dois pontos polêmicos que foram a voto em plenário sintetizam a ameaça de diluição do caráter sindical, independente e de luta que pesa sobre a CUT.

No tema “Projeto Organizativo” uma emenda propunha a filiação à CUT de entidades religiosas, culturais, esportivas, de imigrantes como “fraternas” (sem direito a voz e voto). Na ânsia de superar a crise atual do sindicalismo, a corrente majoritária (Articulação Sindical) veio com essa novidade. Marcelo Carlini (CUT-RS) defendeu o artigo 1º dos estatutos da CUT, que a define como central sindical, bem como alianças com entidades populares na luta concreta, contra tal proposta. Já Miltinho, dirigente identificado com a CSD, defendeu que tais entidades deviam ter voz e voto.

A confusão se instalou, a discussão foi suspensa e retomada mais adiante com uma votação a favor e contra a filiação das “fraternas” (sem definir voz e voto). Cerca de 30% dos presentes apoiou a posição de Carlini (CIL), que obteve 180 votos. Como se trata de questão estatutária, ela depende do CONCUT de 2023 para ter efeito prático.

A outra questão foi a do Fórum das Centrais, que vem se comportando como “direção” por cima das instâncias da CUT, que recebem “pratos feitos” de acordos feitos com outras centrais – como a Força Sindical e UGT – como ocorreu nos atos virtuais de 1º Maio com a presença de FHC e outros inimigos da classe e em pautas entregues ao Congresso Nacional.

Uma resolução acordada na plenária do DF, condicionando a presença da CUT em tal Fórum à discussão prévia de propostas na executiva e direção nacional, preservando a sua autonomia, foi defendida por Joãozinho (CIL) e Jandyra Uehara (AE), contra uma resolução alternativa, defendida pela ArtSind e CSD, com elogios ao Fórum, mas com conclusão similar. De novo houve cerca de 30% dos votos na proposta perdedora.

Em suma, o caráter sindical, independente e de luta da CUT continua ameaçado pela política da maioria de sua direção.
O que já estava colocado no CONCUT de 2019 e que esta Plencut não resolveu. Aliás, um dia depois do seu encerramento, o Fórum das Centrais aprontou de novo.

Sindicalistas da CIL e CPM fazem, em 6 de novembro, reunião de balanço da Plencut, na qual discutirão a continuidade da luta para preservar a CUT como instrumento de luta da classe trabalhadora.

Julio Turra

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas