Desde o mês de abril, o Panamá, país centro-americano de 4 milhões de habitantes, é o teatro de um movimento de greve que se estende a todos os setores de trabalhadores em reação às reduções das aposentadorias. O movimento também se opõe à intenção do governo de José Raul Mulino de abrir uma mina de cobre em Donoso, província de Colón, e ainda levanta a bandeira da soberania nacional diante da atitude submissa do executivo diante das ambições de Trump de retomar o controle do Canal do Panamá para os EUA.
O dirigente sindical venezuelano Luís Valle, da Federação dos Trabalhadores em Construção e Maquinaria Pesada (Fenacts), declarou à página internet da Coordenação Autônoma e Independente dos Trabalhadores (CAIT) em seu país que:
“Os trabalhadores e sindicatos panamenhos têm a necessidade urgente de nossa solidariedade. O Sindicato Único Nacional dos Trabalhadores da Indústria, Construção e afins (Suntracs) sofre um ataque sem precedentes contra seu direito a se organizar e representar seus membros em ações coletivas. Há quatro semanas o Suntracs está em greve ao lado dos professores, dos trabalhadores do setor bananeiro, em defesa das aposentadorias, do meio ambiente e das condições de trabalho”
O governo panamenho desencadeou uma onda de repressão contra o Suntracs com seus dirigentes perseguidos criminalmente, seus escritórios invadidos e ataques a sua situação jurídica e financeira. Não é apenas um sindicato que é visado, mas sim as liberdades fundamentais de todos os trabalhadores a organizar-se, negociar coletivamente e protestar.
Em 21 de maio agentes armados do governo entraram na sede do Suntracs com mandados de prisão contra membros da direção sindical. O secretário geral do sindicato, Saúl Mendez, que é também vice-presidente da ICM (Internacional Sindical da Construção), teve que pedir asilo político na embaixada da Bolívia. O dirigente Jaime Caballero está detido numa prisão de alta segurança reservada para criminosos perigosos. Essas agressões se juntam a uma série de prisões arbitrárias de sindicalistas nas últimas semanas, numa escalada alarmante de autoritarismo.
O governo Mulino declarou estado de emergência na província onde a gigante multinacional bananeira Chiquita Brands dos EUA, que já havia demitido 5 mil grevistas há poucos dias, anuncia mais 7 mil demissões de seus trabalhadores em greve há mais de um mês.
Uma greve também pela soberania nacional
A Frenasol, coalizão de organizações sindicais e políticas do Panamá, na qual participa o Suntracs, lançou um apelo à solidariedade internacional contra a repressão aos grevistas no qual podemos ler:
“O memorando de entendimento que oferece aos EUA a presença permanente de tropas e bases militares continua em vigor, enquanto o embaixador desse país, Kevin Cabrera, ameaça dirigentes políticos de retirada de vistos e declara abertamente que ele negocia com o governo a passagem gratuita dos navios estadunidenses pelo canal do Panamá, violando a sua neutralidade e a soberania nacional.
Tomamos conhecimento, por intermédio do antigo conselheiro de segurança nacional de Donald Trump, John Bolton, que bem antes de Trump ter a ideia de ameaçar retomar o canal, o próprio Mulino havia pedido a presença de tropas dos EUA em nosso território. Mulino, totalmente desacreditado, tenta desmentir essas declarações, mas todo o país sabe que, desde a sua chegada à presidência, ele afirmou que a fronteira dos Estados Unidos não começa no Texas, mas em Lajas Blancas em Darién (fronteira do Panamá com a Colômbia, NdT). É a esse ponto que ele trai a pátria.”
A solidariedade internacional é urgente
Neste momento ocorre a 113ª assembleia anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra. O governo do Panamá foi incluído, pelo grupo dos trabalhadores, na chamada “lista curta” de países onde os direitos trabalhistas e sindicais são atacados, e haverá, portanto, uma discussão na Comissão de Normas da organização tripartite.
Em 2 de junho manifestantes bloquearam a rodovia Panamericana que corta o país, A polícia usou gás lacrimogênio e efetuou prisões para reabrir essa e outras estradas também bloqueadas. É todo um povo que se levanta, professores, operários da construção, trabalhadores bananeiros, indígenas, estudantes, “contra as políticas que privatizam os direitos sociais”, numa mobilização que já dura 45 dias ininterruptos.
Em 9 de junho ocorre em vários países latino-americanos manifestações diante de embaixadas do Panamá em solidariedade aos grevistas e contra a repressão do governo Mulino.
Julio Turra*
*Com material disponibilizado pelo CAIT da Venezuela