PEC 186: Bolsonaro aprova a piora dos serviços públicos

Em 16 de março ficamos sabendo que quinze hospitais privados de São Paulo, cidade mais rica do país, haviam pedido socorro ao SUS porque não tinham mais leitos para atender doentes da Covid-19. Poucos dias antes, em 11 de março, a Câmara dos Deputados havia aprovado a PEC 186 (promulgada como Emenda Constitucional 109), que estrangula ainda mais as verbas para o serviço público, inclusive o SUS. Em plena pandemia!

Esta nova Emenda 109 se combina com a EC 95 (teto de gastos) e seu ponto mais conhecido são os gatilhos, que permitem congelar concursos públicos e salário dos servidores federais, estaduais, municipais por 15 anos, até 2036.

Os gatilhos serão acionados quando a União decretar calamidade pública ou quando a relação entre despesas e receitas atingir certos patamares, o que, em nível federal, deve acontecer até 2025, mas em pelo menos 14 estados acontecerá imediatamente.

A EC 109 traz outras medidas, como a sucção de dinheiro de fundos públicos, sempre para garantir lucros do mercado financeiro. Há até um inciso que prevê a edição de Lei Complementar sobre “sustentabilidade da dívida”.

Aproveitam a pandemia para passar a boiada
Além do costumeiro toma-lá-dá-cá com os parlamentares, o governo aproveitou diretamente a pandemia para aprovar esse duríssimo ataque aos serviços públicos em tempo recorde, apenas 15 dias. Bolsonaro chantageou com o auxílio emergencial: terminado em dezembro, sua volta, em valor miserável de apenas R$ 250,00, em média, só poderia ser aprovada junto com novo arrocho fiscal.

Assim, o auxílio – ajuda do Estado para assistir setores vulneráveis – foi amalgamado numa PEC que é seu extremo oposto, a garantia de pagar banqueiros com verbas dos serviços públicos que faltarão justamente para esses mesmos setores vulneráveis.

O movimento sindical se posicionou firmemente a favor do auxílio emergencial de R$ 600,00 enquanto durar a pandemia e contra a totalidade do pacote fiscal.

Nesse mesmo sentido, substitutivo e emendas foram apresentados, tanto no Senado quanto na Câmara, pela oposição parlamentar que, derrotada, votou em bloco contra a PEC 186.

A pressão sindical e da oposição obrigou o governo a recuar em outros pontos do projeto original, entre eles a redução de salário e jornada dos servidores e a desvinculação das verbas da saúde e educação.

Mas as ameaças continuam na Câmara, com a chamada reforma administrativa (PEC 32). É outro violento ataque, um giro de várias voltas no torniquete que sufoca os serviços públicos, arrocha os salários dos servidores, compromete as aposentadorias e piora o atendimento à população que já vem sofrendo na pele os efeitos da EC 95.

Todos contra a PEC 32
O movimento sindical e popular convocou para 24 de março um dia nacional de lutas, com paralisações onde for possível, em defesa da vacina já para todos pelo SUS; auxílio emergencial de R$ 600 enquanto durar a pandemia; não às Privatizações. São reivindicações que alimentam o movimento pelo fim do governo Bolsonaro.

Os servidores federais, estaduais e municipais estão organizando sua participação nos atos em todo o país, levantando a luta contra a PEC 32. E para os trabalhadores que têm mais dificuldade para ações de rua nesta situação de agravamento da pandemia – sobretudo aposentados – há a possibilidade de exercer pressão por meio de mensagens aos deputados e votação na enquete aberta na Câmara.

Bolsonaro não desistirá de seus ataques a todos os servidores e serviços públicos. Ele terá que ser derrotado.

Edison Cardoni

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas