Em 23 de agosto, milhares de palestinos e judeus, manifestaram-se nas ruas de Tel Aviv (capital de Israel) para protestar contra o genocídio de palestinos em Gaza, perpetrado pelo Estado sionista, sob o comando do primeiro ministro israelense, Nethanyahu.
O jornal Informations Ouvrières, do Partido Operário Independente da França, publicou declarações dos participantes dessa manifestação.
Milhares de judeus israelenses e de palestinos do interior se manifestam juntos em 23 de agosto em Tel Aviv
A manifestação, convocada pelo Comitê de Acompanhamento Superior dos Cidadãos Árabes de Israel, que reúne o conjunto das organizações, partidos e associações árabes em Israel, reuniu entre 4 e 5 mil pessoas à Praça Habima, em Tel Aviv. A manifestação contou com numerosos participantes judeus, membros de associações que defendem direitos iguais e lutam contra o apartheid contra os palestinos. Sob o pretexto de palavras de ordem em hebraico lançadas contra o genocídio em Gaza e contra a legitimidade do Estado israelense, o chefe de polícia decidiu dissolver a manifestação. Encontramos vários manifestantes. Eles expressam uma posição que ainda é minoritária na sociedade israelense, mas suas vozes fazem um eco muito forte com as manifestações contra o genocídio que estão ocorrendo em todo o mundo. Nós lhes demos a palavra.
Com nossos correspondentes na Palestina
Ronit Tsitiat, uma militante judia antissionista, explica sua presença na manifestação: “Neste ponto do genocídio e da fome, depois de quase dois anos, essas palavras não foram pronunciadas durante as manifestações. Não é mais suficiente dizer ‘pare’. Precisamos reconhecer o contexto mais amplo, ou seja, que o genocídio é o resultado do regime racista sionista e que sua manifestação atual é a continuação da limpeza étnica dos palestinos, que é inerente ao sionismo. Precisamos desmantelar a nação racista e trabalhar pela descolonização, dessionização e libertação. Somente quando o apartheid acabar, o genocídio terá fim”.
Zohar Weiss: “Participei da manifestação de hoje porque não posso fechar os olhos para a fome, o cerco e a máquina de matar que continuam sem parar em Gaza, bem como para o abandono de reféns israelenses nos últimos dois anos.
Como judia, neta de sobreviventes do Holocausto, como um ser humano que não faz distinção entre sangue e sangue, eu me oponho claramente aos crimes de guerra cometidos por Israel e à sua política criminosa, que há décadas vem destruindo qualquer chance de paz e segurança para os habitantes deste país, tanto israelenses quanto palestinos.

Trabalho para a associação Yad BeYad como organizadora comunitária em Haifa, uma comunidade de pais que, há 14 anos, vem criando um sistema de educação bilíngue para crianças judias e árabes em Israel, juntamente com outras seis comunidades em todo o país.
Todos os dias, optamos por ver o outro como um ser humano que tem direito à liberdade, à segurança e à igualdade, e acreditamos que o futuro que estamos construindo para nossos filhos é o futuro justo e desejável para nosso país manchado de sangue…”.
Alexandra KleinFranke: “Sempre fui uma militante social e política, especialmente no campo israelense-palestino. Eu dirigia um sistema educacional judeu-árabe em Jerusalém e participo ativamente de várias organizações que ajudam palestinos dos territórios ocupados a ir a hospitais israelenses para tratamento médico. Participo de muitas manifestações contra a guerra e, mais ainda recentemente, quando ouvimos falar diariamente da fome em Gaza.
Portanto, era óbvio para mim que não havia outro lugar para estar a não ser na manifestação conjunta dos judeus e árabes contra a guerra e a fome em Gaza. A manifestação judaico-árabe é um farol de esperança.
Somente a cooperação entre judeus e árabes nesta terra cheia de dor pode trazer esperança de vida – em geral, e uma vida melhor – aqui, para judeus e árabes. A aliança dos dois povos é nossa única chance de criar um Estado que respeite todos os seus cidadãos e residentes, que mantenha uma sociedade de paz, igualdade e justiça.
Juntos, judeus e árabes, vamos gritar alto e forte: basta de destruição em Gaza, basta de fome e massacres de dezenas de milhares de mulheres, crianças e idosos em Gaza. Somos irmãos e irmãs, somos todos filhos de Deus”.
Shai Rimon é militante de longa data da organização Ta’ayush, que combate o racismo e defende ações coletivas não violentas entre judeus e árabes: “Sou contra o genocídio em Gaza e participo de todas as manifestações de todos aqueles que não estão sob o controle da segurança militar israelense, a Aman. Eles não me representam. As manifestações em que árabes e judeus estão juntos são muito importantes para mim, e é por isso que também fui a uma manifestação em Umm al Fahm há algumas semanas. Também estive em Nazaré e Sakhnin”.
Rachel Beit Arieh, ex-diretora geral da organização Zochrot (Lembrar), que documenta a história palestina antes e depois da criação do Estado de Israel e organiza visitas às ruínas das aldeias palestinas destruídas durante a Nakba: “Sou uma judia antissionista, estou aqui porque há um genocídio em Gaza e é nosso dever fundamental protestar contra ele, tentar se opor a ele e tentar acabar com ele por todos os meios. Esta manifestação, em particular, é resultado de um apelo do Comitê de Monitoramento e de organizações palestinas dentro da Linha Verde, (Estado de Israel, Ndt) e acho que também é nosso dever, como judeus, estar ao lado deles, apoiá-los e tentar acabar com o genocídio por todos os meios, em especial nesta manifestação aqui, no coração de Tel Aviv, no coração do establishment sionista, para fazer ouvir nossa voz contra o deserto, contra os sequestros de palestinos, contra as ameaças, contra o extermínio”.

Majeed Asady, palestino do interior, explica por que está participando da manifestação: “Estar aqui, nesta manifestação, é uma oportunidade pessoal e histórica de participar da luta e da campanha mais justa que existe para pôr fim aos crimes de guerra, aos assassinatos e à fome infligidos a Gaza. Não podemos ficar parados observando, não podemos esperar que uma posição isolada nos proteja da morte e do massacre. Qualquer intenção de mudança e qualquer ação necessária contra o genocídio começa por fazer ouvir nossa voz e continuar a fazer ressoar nosso grito”.
Madjed segura um cartaz no qual escreveu: “Continuarei a ver o mundo pelos olhos de Gaza; continuarei a ouvir o mundo pelo pulso de Gaza; continuarei a levar Gaza em minha língua e não me esquecerei; continuarei a escrever mesmo que as palavras percam seu significado e valor”. Ele continua: “Gaza é o espelho que nos mostra quem realmente somos e moldará nossa existência e o ser humano que somos na história contemporânea e futura”.
Por fim, pouco antes de a manifestação ser dissolvida pela polícia, que prendeu violentamente vários de seus participantes, encontramos Ruti Lavi, membro do Ta’ayush: “Esta manifestação é particularmente importante para mim, porque é uma manifestação da liderança palestina e, portanto, é ainda mais importante estar ao lado deles e permitir que se expressem, porque há tentativas de silenciá-los, eliminá-los e expulsá-los em todos os lugares.
Em Gaza é pior, mas também acontece em Tel Aviv e em todos os territórios. Somente permanecendo unidos e dando-lhes voz e permitindo que gritem contra aqueles que os oprimem é que alcançaremos nosso objetivo principal e, então, obteremos liberdade e igualdade para o povo palestino”.
Após a manifestação, ouvimos de Haviva Ner-David: “Sou rabino, escritor e militante. Participo ativamente das organizações Standing Together e Rabbis for Human Rights. Fui à manifestação de ontem porque acho que precisamos pôr fim a essa guerra, trazer de volta os reféns, parar os massacres em Gaza, tentar acabar com a crise humanitária no local e, esperamos, começar a trabalhar para encontrar uma solução diplomática para o conflito em geral. Acredito sinceramente que podemos viver juntos em paz nesta terra (…)
A única solução viável é compartilharmos a terra. Como nós, os militantes pela parceria, costumamos dizer, nenhum de nós está indo embora. As duas nações estão aqui para ficar. Portanto, temos que encontrar uma maneira de viver aqui juntos e em paz. Caso contrário, todos nós morreremos juntos. (…)
Também foi muito importante para mim estar aqui, porque é importante participar de todos os eventos que dizem respeito à solidariedade entre árabes e judeus. Acredito sinceramente que essa é nossa única esperança nesta terra, portanto, sempre que posso apoiar esse trabalho e fazer com que essa voz seja ouvida, eu o faço (…).
A grande manifestação de domingo em Tel Aviv também foi um sinal disso no movimento de protesto judaico, para aqueles que querem acabar com a guerra e trazer os reféns de volta. O fato de essa manifestação árabe-judaica ter ocorrido seis dias depois mostra que tudo isso faz parte do mesmo fenômeno.
Mas também mostra um despertar específico dentro da comunidade palestina israelense, um sinal de que as pessoas percebem que, se não se manifestarem, as coisas só vão piorar. O silêncio não é uma opção. E a esquerda judaica e a comunidade árabe não podem agir separadamente. Precisamos uns dos outros”.
(tradução Adaias Muniz)