Retratos de um mundo pandêmico

No Líbano, a explosão de nitrato de amônia devastou Beirute, matou quase 200 pessoas e deixou milhares de feridos.

País cujo povo sentia os efeitos devastadores em suas condições de vida resultado da política das instituições que regem o sistema capitalista, os libaneses vêm agora estas mesmas instituições e governos das grandes potências, sob a cobertura de um “manto humanitário” (como coadjuvante até o governo Bolsonaro, sobre os escombros de  devastação que faz  no Brasil, quer pousar de humanista!), agirem para preservar o regime.  A explosão do porto de Beirute reacendeu a explosão social iniciada em outubro de 2019 e coloca em xeque o sistema. “Revolução”, “Fora todos”, gritam os manifestantes.

Sistema que empurra as camadas oprimidas à morte pela sua incapacidade em enfrentar um vírus (ebola, H1N1, agora o novo corona…), pela sua política que joga milhões ao desemprego e à fome, sobrepondo os interesses do capital à vida, como o nada natural acidente da Vale que em 2019 matou 300 pessoas que trabalhavam na empresa em Brumadinho.

Sistema cuja odiosa condição imposta aos negros nos Estados Unidos, retratada no brutal assassinato de Floyd, cobriu o país e vários países do mundo – rompendo o confinamento em função do coronavírus –  de manifestações, uma expressão da  ira contra a pandemia que representa o capitalismo.

No Brasil, depois da trágica marca de 100 mil pessoas mortas pela pandemia do coronavírus, a cada dia mais de 1000 pessoas entram nesta triste estatística. Entre os mais atingidos estão os pardos e negros, a maioria dos mais vulneráveis pela herança de mais de 300 anos de escravidão que os exclui da possibilidade de ter vida digna. Herança revelada de maneira brutal na sentença de uma juíza afirmando que um homem negro é “seguramente integrante de um grupo criminoso em razão da sua raça”. Está estabelecido: ser negro é ser suspeito!

Diante dos retratos da tragédia que ameaça os povos em todos os países, agravada, mas não originada, na pandemia do coronavirus, a garra do povo libanês – assim como os protestos contra o assassinato de Floyd –  alenta os que querem lutar.

No Brasil, contra o vírus do desemprego (onde 52% da população está desocupada), sete mil metalúrgicos da Renault em Curitiba sustentaram por 21 dias, com a realização de assembleias regulares, uma greve que impôs a readmissão dos 747 trabalhadores dispensados pela empresa em plena pandemia. A multinacional não vai desistir de seu plano de reestruturação visando destruir postos de trabalho. Mas o pequeno passo dado pelos trabalhadores é um gás para enfrentar uma nova ofensiva.

Os trabalhadores em educação se recusam a ir, ou levar seus alunos, para o matadouro com a retomada das aulas sem condições sanitárias.

Os retratos do mundo pandêmico são de tragédia, mas de resistência também.

Aqui no Brasil, onde a juíza teve o desplante de condenar um homem “pela sua raça”, onde um ex-juiz praticou o crime de condenar Lula por “atos indeterminados” movido pela determinação de perseguir o PT e plainar o caminho para o atual governo, as lutas localizadas, mas coletivas, na Renault, dos professores, dos trabalhadores dos Correios que preparam uma greve, apontam um caminho. Enquanto as instituições buscam acertar o passo para garantir a política que destrói empregos, direitos e solapa a soberania, essas  lutas engrossam o caldo da resistência.

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