Governos belicistas procuram colocar os povos uns contra os outros, e utilizam a guerra em curso como justificativa para as sanções decididas contra a Rússia. O ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, disse: “Vamos causar o colapso da economia russa. Vamos travar uma guerra econômica e financeira total contra a Rússia” (France Info, 1/3).
A primeira vítima das sanções contra a “Rússia”, porém, é o povo russo, e não o governo de Vladimir Putin. A moeda está em colapso, a inflação está explodindo. Entre a população, é o salve-se quem puder.
A imprensa minimiza o fato de que há oposição à guerra na própria Rússia, mesmo com a feroz repressão. O povo russo quer a paz, apesar de ameaças e acusações de todos os lados.
A Duma (Parlamento) aprovou uma lei no dia 4, sancionada em seguida por Putin, que prevê penas de até 15 anos de prisão em caso de difusão de “informações mentirosas” sobre as ações das forças armadas russas. O que é uma “informação mentirosa”? Por exemplo, falar em “guerra” na Ucrânia. Esse termo está proibido. Para o governo russo, não há guerra na Ucrânia!
Apelos e mobilizações
Logo no início do conflito, em apenas quatro dias, uma petição contra a guerra foi assinada por um milhão de russos. Em 25 de fevereiro, mais de 600 cientistas russos divulgaram outra petição contra a guerra e a intervenção na Ucrânia. Um de seus iniciadores, Georgy Kurakin, afirmou: “Acho que é perigoso para qualquer um dizer ‘eu sou contra a guerra’ na Rússia. Mas este é o momento em que precisamos dizer isso […]. Gostaria de dizer a todos os ucranianos: eu não apoio nenhuma guerra. Eu não preciso da guerra. Eu quero a paz. E eu não sou seu inimigo. Eu sou seu amigo”.
Até o fechamento desta edição, estimava-se em quase 14 mil o número de detenções em mobilizações anti-guerra na Rússia. A mídia destacou o caso da idosa Elena Ossipova, presa durante uma manifestação em São Petersburgo (foto). Quando criança, ela sobreviveu durante 900 dias ao cerco nazista contra Leningrado (hoje São Petersburgo).
Os participantes desses atos correm o risco de receberem multas em valores que chegam ao equivalente a R$ 150 mil, além de pena de prisão de 30 dias. Muitos se manifestam por meio de redes sociais: 4.750 cientistas e jornalistas científicos lançaram manifesto pelo fim da guerra, assim como 2 mil advogados, 10 mil atores do mundo da cultura e 1.500 professores.
Num apelo assinado por 7.500 professores, funcionários e estudantes da Universidade Lomonosov, de Moscou, está dito: “Exigimos que os dirigentes da Rússia cessem imediatamente o fogo, deixem o território do Estado soberano da Ucrânia e ponham fim a essa guerra vergonhosa. Demandamos a todos os cidadãos russos preocupados com seu futuro a se juntarem ao movimento pela paz. Nós somos contra a guerra!”.
Da redação, com informações do jornal francês Information Ouvrières