Por Lucien Gauthier*
Os gestos bélicos continuam de ambos os lados. Putin acaba de declarar que reconhece a “independência” dos territórios de Donetz e do Donbass (Lougansk) no leste da Ucrânia. Ele também anuncia o envio de tropas russas para esses territórios para, em suas palavras, garantir uma “missão de proteção da paz”!
Os Estados Unidos e a União Europeia anunciam um reforço da presença militar da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) nos países que fazem fronteira com a Ucrânia e também sanções econômicas. A Bolsa de Valores de Moscou, na manhã de 22 de fevereiro, caiu 8%, uma vez que as ameaças de guerra e as questões econômicas estão intimamente ligadas.
Sob o ruído das botas, pode-se sentir o cheiro do gás. Lembremos que a Rússia fornece 40% do gás da Europa, incluindo 55% na Alemanha, 66% na Polônia e 100% na Finlândia. A Rússia também é o terceiro maior produtor de petróleo do mundo, atrás dos Estados Unidos e da Arábia Saudita. A Rússia fornece assim 11% da oferta mundial de petróleo.
Com o pretexto da luta contra a dependência da Europa do gás russo, os Estados Unidos oferecem a venda do seu gás liquefeito, evidentemente, mas também o do Catar (Oriente Médio). Graças à exploração de xisto betuminoso, os Estados Unidos tornaram-se o maior produtor mundial de hidrocarbonetos e começaram a exportar sua produção em 2016, tendo o presidente Obama abolido a proibição de exportação datada de 1975, após o primeiro choque do petróleo.
Até agora, os Estados Unidos exportavam principalmente para a Ásia, mas, em 2022, deverão se tornar o maior exportador mundial de gás liquefeito, à frente do Catar e da Austrália. Precisam, portanto, encontrar novos mercados.
É assim que eles se voltam para a Europa. As exportações de gás liquefeito para a Europa quadruplicaram no ano passado. Daí a oposição dos EUA à entrada em funcionamento do gasoduto russo Nordstream 2.
Como escreve o jornal de negócios francês Les Echos: “A crise russa é a faísca, mas o problema está em outro lugar. O mercado de petróleo está estruturalmente deficitário” (15 de fevereiro de 2022).
É o medo de uma nova crise da economia capitalista em escala mundial. O mercado global dominado pelo capital está ameaçado de desintegração a todo momento. E, mais uma vez, a expressão da estreiteza do mercado mundial vê os trustes se enfrentarem em uma competição violenta para conquistar fatias de mercado e organizar o saque de matérias-primas.
Esta situação está na base das guerras. O imperialismo é militarismo e guerra. Essa é a função da OTAN, dominada pelos Estados Unidos. Recordemos que, formalmente, foi a OTAN que iniciou a guerra no Afeganistão, ou seja, os Estados Unidos arrastando os países europeus. E foram os Estados Unidos que decidiram se retirar do Afeganistão, sem sequer consultar seus parceiros.
A OTAN é uma máquina de guerra contra os povos, mas é também um meio de enquadrar os regimes dos países europeus, sob a base das exigências do imperialismo estadunidense. Não se trata de democracia nem de soberania nacional. Os povos da Europa e de todo o mundo não têm nada a esperar de regimes opressores e das suas alianças militares.
O caminho para a paz e a soberania não deve ser buscado do lado da OTAN e da ONU, nem do lado de Putin e, no que nos diz respeito, certamente não do lado de Macron. O caminho para a paz e a soberania será determinado pelos povos ucraniano e russo em suas mobilizações para acabar com os regimes opressores.
*publicado no Informations Ouvriéres n°694 em 23 de fevereiro. Tradução de Adaias Muniz.