Última hora: Equador rebelde

No fechamento da edição, neste dia 9, era aguardada a chegada da marcha indígena em Quito, capital do Equador, cidade sem comercio nem transporte, apesar do “estado de exceção” (emergência, que estabelece a censura, o toque de recolher e mobiliza o Exército) decretado pelo presidente Lenin Moreno. Este se refugiou há dois dias na capital empresarial, Guayaquil, por sua vez hoje coberta de barricadas.

Moreno foi vice de Rafael Correa, o presidente “progressista” (2007-17) atualmente exilado na Bélgica, quem o designou seu sucessor, candidato a presidente há dois anos e meio, numa tentativa de conciliação com a classe dominante. Moreno terminou rompendo com Correa.

A atual rebelião é consequência de um pacotão de Moreno no último dia 2, que cortou subsídios de 50 anos aos combustíveis nesse país exportador de petróleo, e anunciou outras medidas de ajuste. O preço do diesel subiu 123%, e os sindicatos taxistas e transportistas puxaram uma greve com bloqueios de estrada, depois engrossados por indígenas, camponeses, sindicatos e a juventude. Três campos de petróleo foram ocupados por populares e sindicatos.

Após a repressão sangrenta do fim de semana, os indígenas (em geral camponeses) saíram em caravanas para a Capital e chamaram à greve geral indeterminada. Se estima 100 mil indígenas rumo a Quito.

Equador 7

Enquanto governos de 7 países pró-imperialistas (Argentina, Brasil, Colômbia, El Salvador, Guatemala, Peru e Paraguai) apoiaram o governo equatoriano em nota, Moreno, ladeado pelos comandantes das Forças Armadas, propôs um “diálogo” com mediação da ONU, da Igreja ou de reitores, não aceito pelos manifestantes que gritam “Fora Moreno!”.
No Brasil, em nota já no dia 8, o PT se declarou “solidário com a rebelião popular no Equador”.

Abaixo, o manifesto dos nossos companheiros da Organização Socialista Revolucionaria dos Trabalhadores, a seção equatoriana da 4ª Internacional.

João Alfredo Luna


Todos juntos contra o “paquetazo” imposto pelo FMI!
Fora Lenin Moreno!

Com o anúncio em rede nacional das medidas econômicas impostas por um acordo firmado pelo governo com o FMI, com a eliminação de subsídios aos combustíveis – provocando uma alta de preços de mais de 100% – e o anuncio de projetos de reformas trabalhista, tributária, da seguridade social e economica, no último dia 2 de outubro de 2019, o povo, setores sociais, indígenas, e os trabalhadores a nível nacional, se mobilizaram nas ruas para exigir a revogação do mencionado Decreto Executivo 883.

Equador 4

Em resposta, o governo adotou o Estado de Exceção (Decreto 884). Quem estava nas manifestações foi selvagemente reprimido pela força pública (Polícia e Exército) com gás lacrimogêneo e brutalidades em todo o território nacional, ocasionando, entre os manifestantes, 8 mortos, 30 feridos e mais de 500 detidos, 129 dos quais presos e à disposição dos juízes.

Mas o povo logrou superar os obstáculos das forças policiais e, em três días de manifestação, os militares não quiseram enfrentar-se com o povo, e permitiram a livre circulação em todo o território nacional, inclusive quando da tomada simbólica de instituições públicas, como a Assembléia Nacional (parlamento), em Quito, logo entregue de forma pacífica pelos manifestantes.

Encurralado em Quito, Lenin Moreno baixou o Decreto 888 mudando a sede do governo para Guayaquil, e impondo o toque de recolher (das 20 hs às 5 hs) em algumas regiões do país.

Nas manifestações, o povo pediu a saída do presidente Moreno, responsável pelo “paquetazo” economico e pela má administração do país que encareceu a cesta básica dos oprimidos, o que esgotou a paciência popular que explodiu e causou uma comoção e provocou o desabastecimento de gêneros de primeira necessidade.

A imprensa governista faz eco ao delírio do governo que acusa as mobilizações de serem organizadas pelo governo de Rafael Correa e financiadas por Maduro, presidente de Venezuela, e por Cuba.

A OSRT está ao lado da mobilização, das manifestações de nossos irmãos indígenas e do povo equatoriano:

Revogação dos Decretos Executivos 883, 884 e 888!
Não às reformas trabalhista e da seguridade social!

Fora Lenin Moreno!

Guayaquil, 8 outubro de 2019

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