Uma reflexão sobre a situação tumultuosa

A poucos meses da eleição presidencial, Bolsonaro com os generais e o Centrão, ameaçados de derrota, cristalizaram uma nova conjuntura política com elementos anteriores da luta de classes. Examinemos com realismo a situação tumultuosa:

▪ Bolsonaro fez aprovar no Congresso o “estado de emergência” com certos benefícios sociais que, votados por uma oposição acuada, podem criar confusão eleitoral em setores populares onde não tinha muita entrada.

▪ O sindicalista e dirigente do PT, Marcelo Arruda, foi assassinado em Foz do Iguaçu. As reações foram limitadas. Outros incidentes em estádios, no comércio e entre vizinhos, antecipam a intimidação eleitoral.

▪ O presidente “explicou” a diplomatas de 70 Estados que as urnas eletrônicas são fraudulentas. Os outros poderes se omitiram deste crime inédito: o TSE disse “basta” e se bastou; no Congresso, o Senado piscou de um lado, a Câmara de outro, e o resultado foi zero.

▪ Bolsonaro convocou o desfile militar de 7 de setembro como ato contra o judiciário. Os generais querem controlar as urnas com “votação paralela”. Não seria difícil criar bagunça, violência e insegurança, para um dos poderes acionar a Garantia de Lei e Ordem (art. 142 da Constituição) para intervenção militar, suspender a eleição, apuração ou posse.

Quem vai detê-los?
A ameaça de golpe contra o voto popular está anunciada. Não quer dizer que se realize, ou que vencerá se ocorrer. Mas quem vai detê-los?

Só o povo salva o povo. Este foi o mote de 1000 petistas de todo o país no ato de 2 de julho pela “Constituinte Com Lula”. Agora, é preciso atualizá-lo na mobilização popular, pois a eleição de Lula está ameaçada.

No interesse do povo, se coloca a exigência de Respeito ao Voto Popular. O quanto antes, grandes comícios de rua com essa bandeira – ao lado das medidas sociais emergenciais – devem mobilizar a força do povo. Quem tem a capacidade de convocatória hoje é a campanha Lula (as centrais sindicais e as frentes não têm essa capacidade).

Alguns argumentos
Vamos falar claro, pois há muita ambiguidade.

Há lideranças que falam que é uma bravata de Bolsonaro, mas também falam de “ganhar no 1º turno” como se comprometesse todos os políticos que o disputam… Então, não seria um blefe. E se não ganhar no 1º turno pode ficar no ar um desânimo.

Depois, comenta-se na imprensa que os generais estão divididos. Mas costuma ser assim nos golpes, só que não há nesse caso nenhum sinal de uma ruptura “legalista”.

Também se diz que Alexandre Moraes presidirá o TSE com firmeza – mas quem garante que impugnará a candidatura de Bolsonaro?

Acreditou-se que a vice para Alckmin ampliaria Lula entre os evangélicos e o agronegócio isolando o intento golpista. Mas nem a moderação da campanha e nem a ampliação dos palanques estaduais com golpistas de 2016, conteve o intento.

É fato que há uma reação de juristas e de empresários, mas não há de outros, e é do mesmo tipo da que dorme em 140 pedidos feitos de impeachment.

Por fim, dizem que não há “apoio internacional” para golpe. Bem, é fato que Biden não é “adepto” de Bolsonaro. Mas a divisão a respeito começa no próprio imperialismo, onde Biden está cotado para perder as eleições de parlamentares de novembro. De modo, que aqui a burguesia fica ainda mais dividida, onde nenhum setor tem capacidade de mobilização, tanto que não existe uma 3ª via.

Por fim, as Forças Armadas dos EUA “profissionais” não embarcaram na aventura do Capitólio comprometidas com a estabilidade do estado imperialista. Não é o caso das FAs do Brasil veteranas de muitos golpes.

Às ruas!
O enfrentamento da ameaça golpista deve vir pelo povo mobilizado no terreno eleitoral, saindo às ruas. Todo apoio será bem-vindo.

A UNE convoca uma jornada em 11 de agosto que pode aquecer essa luta. A campanha oficial começa dia 16. Por isso é muito importante o anúncio de dois comícios de Lula, Praça da Estação em BH no dia 18, e no Anhangabaú em SP no dia 20. São mais que oportunos!

Outros comícios de rua de massas devem se seguir (não interessa medir forças no dia 7). Está prevista uma grande jornada nacional de atos em 10 de setembro. A mobilização será tanto maior, quanto mais colar nas ruas, na TV e nas mídias, com as medidas emergenciais sociais – de salário, emprego, abastecimento e serviços públicos – em ligação estreita com à exigência do respeito do voto popular ameaçado.

Os candidatos a deputado apoiados pelo Diálogo e Ação Petista estão motivados nesta mobilização destacando na fala e nos seus materiais:

a) As medidas de emergência e reivindicações;
b) Tarefas do futuro governo Lula, como a Constituinte Soberana;
c) O respeito do voto popular;

A impunidade das manobras golpistas reforça que as instituições estão em frangalhos e o povo desprotegido em todos os sentidos. A Constituinte é uma tarefa-chave do novo governo. Mas não se pode saltar por cima da ameaça concreta à eleição de Lula. Como tampouco se pode anunciar como dado um golpe que pode ser vencido, o que seria um fator de pânico.

Rechaçar a intimidação
A situação é delicada, exige uma discussão ponderada com os petistas, com os sindicalistas, os movimentos e os jovens. Mas as conclusões são simples.

Bolsonaro pode ser finalmente derrotado. Para enxotá-lo é preciso levantar a cabeça contra a intimidação dos generais e das policiais, é preciso rechaçar com firmeza a despropositada ameaça às urnas eletrônicas para dar confiança ao povo oprimido.

A hora é da mais ampla frente única nas ruas para abrir a única saída possível para as massas populares na atual situação: impor a vitória de Lula e abrir um novo capítulo.

Markus Sokol

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