Em 11 de setembro, a Organização dos Estados Americanos (OEA) adotou uma resolução para ativar o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (Tiar) contra a Venezuela, numa ameaça de intervenção militar estrangeira no país. O Tiar é uma herança da “guerra fria”, tendo servido de cobertura para intervenções militares na América Latina em nome do combate “ao comunismo”.
Nove meses depois de apostar no “reconhecimento” de Guaidó como presidente interino, Trump utiliza o Tiar para aumentar a pressão, enquanto a situação econômica e social da Venezuela continua se deteriorando com o embargo comercial reforçado.
Diálogo com um setor da oposição
Menos de 24 horas depois que Guaidó descartou retomar as negociações que eram realizadas em Barbados com intermediação da Noruega, Maduro anunciou a instalação de uma Mesa de diálogo pela paz com setores minoritários da oposição.
Os acordos nessa Mesa, já assinados, são: o grupo parlamentar do PSUV e aliados voltarão a incorporar-se à Assembleia Nacional (AN), a mesma que designou Guaidó como “presidente interino”; apoiar a nova conformação do Conselho Nacional Eleitoral e as garantias para as eleições de renovação da AN; pedir à Justiça a liberação de presos de acordo a cada caso; reafirmar os direitos legítimos da Venezuela sobre o Esequibo (região disputada com a Guiana, NdT); rechaçar as sanções econômicas contra o país e exigir que sejam levantadas; aplicar o programa de intercâmbio de petróleo por alimentos e medicamentos.
Além desses seis pontos, a Mesa tratará de acordos para superar o conflito entre a Assembleia Constituinte e a AN, no plano eleitoral assegurar a representação proporcional das minorias e no plano econômico avançar no trabalho coordenado entre o setor público e as empresas privadas. Na prática, se repõe o que estava para ser assinado na República Dominicana em 2018 – que a pressão dos EUA sobre os representantes opositores impediu – mas sem incluir eleições presidenciais e agora incluindo o retorno dos 54 deputados do chavismo à AN. O objetivo é isolar o setor extremista de Guaidó e Leopoldo López (“Voluntad Popular”) de seus antigos aliados.
Como reagir ao cerco imperialista?
Em meio à brutal crise econômica, a defesa da nação contra o cerco e a agressão imperialista exige medidas de salvaguarda das condições de vida do povo trabalhador, o que passa por atacar a hiperinflação que transforma os salários em pó.
O governo guarda silêncio diante da proposta da Central Bolivariana Socialista dos Trabalhadores de fixar o salário mínimo – que hoje equivale na prática a 2 dólares – em meio Petro (moeda virtual atrelada ao preço do barril de petróleo), ou seja em 30 dólares, como base para corrigir todas as tabelas salariais das convenções coletivas.
Todos os olhos se voltam para o que fará o governo Maduro para contornar as sanções econômicas impostas pelos EUA e seu impacto mortal para o povo. A Coordenação nacional autónoma e independente de trabalhadores (CAIT), formada em Caracas em 21 de agosto, diante desse cenário, reafirma a luta pela recomposição dos salários e o respeito aos direitos sociais e laborais, bem como a necessidade de um agrupamento político independente no terreno da classe trabalhadora.
Alberto Salcedo,
17 de setembro de 2019