A gota d’água

A ordem mundial ditada pela sobrevivência da propriedade privada dos grandes meios de produção, do imperialismo em crise, assenta-se sobre um barril de pólvora que explode em vários países.

Neste ano, inaugurado pela revolução argelina, as explosões atingem países em todos os continentes. É a inexorável luta de classes que marca o cenário mundial convulsionado.

As classes oprimidas, sufocadas pelas medidas destruidoras impostas pelo capital financeiro, se insurgem, apesar da brutal repressão – como no Iraque que já deixou mais de uma centena de mortos -, cada vez mais desconfiam e rejeitam as “saídas” negociadas para manter as coisas como estão, como na Argélia, e prosseguem em luta.

Os povos se revoltam, querem viver e cada vez mais expressam a rejeição aos regimes que cumprem as ordens mortíferas do imperialismo. No Chile, a gota d’água que fez transbordar foi o aumento em 30 pesos na passagem do metrô. O governo tentou recuar para aplacar as massas, mas elas já gritavam nas ruas: não é por 30 pesos, é por 30 anos! E exigem uma Constituinte Soberana para varrer todas as políticas da ditadura, mantidas pelos sucessivos governos nestes 30 anos depois de sua queda.

No Líbano, a gota d’água foi a tentativa do governo de tarifar ligações via WhatsApp que detonou mobilizações dos libaneses, como um só povo. O recuo na tarifação não fez recuar as mobilizações que exigem o fim do regime e levou à renúncia do Primeiro Ministro, Hariri.

A primeira coisa que este vendaval joga por terra é a balela – útil para encobrir responsabilidades dos que, em nome do povo trabalhador, se perfilaram às exigências do capital financeiro – de que os povos e o mundo estavam indo à direita!

No próprio Estados Unidos, greves de trabalhadores se sucedem e a crise política que resultou na eleição de Trump está longe de se resolver. E aqui onde Trump considera seu quintal, os bastiões de sua política vão ruindo. Na Venezuela, quem se lembra do auto-proclamado presidente Guaidó? O Chile convulsionado, na Argentina Macri foi derrotado, no Equador o povo se levantou contra os ditames do FMI…e no Brasil?

A burguesia, seus partidos, as instituições e a mídia que fabricaram o governo Bolsonaro temem que o país seja “contaminado” pela luta nos países vizinhos. Mas se já há uma “contaminação” é o fato de que a política destes governos, contra as quais o povo se revolta, é a mesma para a qual elegeram Bolsonaro presidente!

Sem que seja possível prever quando e como, o fato é que o país pode ir a uma explosão social –o próprio Bolsonaro se prepara para ela, acentuando seus traços bonapartistas e ameaçando repressão – dada as condições de vida degradantes do povo. Qual será a gota d’água não se sabe. Uma fila monumental de pessoas desesperadas em busca de emprego, mais um assassinato pelo Estado nas favelas cariocas, mais um direito à educação atacado, um direito trabalhista retirado…

É para este quadro que o 7º Congresso está chamado a preparar o PT. Quanto mais o partido se preparar para pôr fim ao governo Bolsonaro – e ao conjunto das suas políticas – tanto mais se preparará para encabeçar um governo, com Lula Livre, que venha para fazer as mudanças de fundo, as reformas estruturais, para livrar o Brasil da política imposta pelo imperialismo contra a qual, em formas e ritmos diferenciados, os povos se levantam.

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