20 mil trabalhadores marcharam pela Esplanada dos Ministérios em direção à sede dos três Poderes em Brasília no dia 22 de maio, para exigir – como havia decidido o Congresso da CUT em outubro passado – a revogação das Reformas Trabalhista, da Previdência e o fim da Lei das Terceirizações.
Foi uma demonstração inequívoca da disposição na base dos sindicatos de cobrar do governo Lula a recuperação dos direitos que foram roubados da classe trabalhadora, nos seis anos de Temer-Bolsonaro.
Foi também uma vitória dos sindicatos de base – com a qual nos congratulamos, porque este jornal reportou desde o início a batalha pela Marcha – que enfrentaram inúmeros obstáculos e manobras das cúpulas da CUT e de todas as Centrais Sindicais, que fizeram de tudo para minar a mobilização por baixo e não entregaram as reivindicações como deveriam.
Lula não recebeu os sindicatos. Apenas enviou alguns ministros para participar, durante a concentração da marcha, de um ato-farsa das centrais sindicais em que anunciaram a atualização das agendas e pautas unitárias que excluía a revogação das reformas – mote principal da própria marcha.
Um dia antes, no entanto, Lula havia recebido a marcha dos prefeitos, na qual anunciou compromisso em estender a reforma da previdência (de Bolsonaro!) a estados e municípios com regime próprio.
Esta sequência de episódios ilustra uma situação que não é exatamente nova, mas que se aprofunda de forma perigosa.
Anestesiado pelo jogo nas apodrecidas instituições, o governo começa a se chocar com a base que o elegeu enquanto segue tentando agradar os golpistas de ontem, muito mal arrependidos de hoje.
Foi assim com a tentativa de cancelar os atos do 1° de abril, para não ferir os sentimentos dos militares golpistas que sustentaram os acampamentos nos quartéis. Tem sido assim também com a greve da educação federal, quando se nega a atender os servidores para manter a política de deficit zero e o Arcabouço Fiscal.
“Nada do que aconteceu no Congresso surpreendeu os articuladores do governo”, soltou a pérola o ministro Alexandre Padilha, durante entrevista coletiva em 3 de junho, ao explicar as derrotas acachapantes sofridas nos últimos dias pelo governo no Congresso.
Pudera! Só faltava ser surpreendido por esse covil reacionário. O que “surpreende” mesmo é que o governo continue apostando na desastrosa política de ampla coalizão e concessões aos inimigos do povo, esperando resultados diferentes daqueles que acabaram levando ao imprevisto nas “contas” de votos na cúpula, no impeachment da Dilma.
“Aquilo que é central para a recuperação econômica e redução das desigualdades no país é a prioridade e estamos vencendo esse debate em parceria com o Congresso Nacional”, continuou o ministro na mesma entrevista.
Quem vai pagar pra ver o “sucesso” dessa parceria?
Sejamos claros, pode ser que muitos dirigentes do PT, da CUT, da UNE paguem pra ver. Acostumados que estão aos seus mandatos, às suas escandalosas emendas parlamentares, ao “Orçamento secreto”, à sua vida nas cúpulas, muitos deles insistem – às vezes com análises enfadonhas – que exigir do governo o cumprimento dos seus compromissos de campanha é um crime de sangue, porque “atrapalha o governo” ou “faz o jogo da direita”. Inversão senil e desmoralizada, pretensamente sofisticada.
Se a história recente nos serve para aprender alguma coisa, é que é impossível parar o bolsonarismo, a extrema direita ou até mesmo romper o caráter subserviente da burguesia brasileira ao capital financeiro e ao “agrobusiness”, representados no Congresso, sem luta. Mobilizar pelos interesses dos trabalhadores e da nação oprimida é o único caminho para derrotá-los. Neste processo, se chocar com as carcomidas instituições brasileiras é inevitável, mas para isso haverá a saída da Assembleia Constituinte Soberana, que nunca houve neste país.
Cada vez mais militantes, trabalhadores, oprimidos, vem se colocando em movimento, porque suas condições de vida profundamente abaladas pelos anos de governo Temer-Bolsonaro não permitem nem esperar, nem arriscar. “Nós já vimos esse filme, e ele não termina bem”, pensam muitos.
Uma força extraordinária elegeu Lula e é o que – guardadas as devidas proporções – está na base do sucesso da Marcha pela revogação das reformas, cuja luta está apenas começando e cuja continuidade já está sendo discutida nos sindicatos e categorias, da CUT e de outras centrais e que deve prosseguir. É a tarefa da hora.