“Meu pai também está preso. Vocês sabem alguma coisa? Um deles voltou e disse: Alguém foi levado daqui arrastado durante a noite”. Esse diálogo foi entre Eliana Paiva, filha de Rubens Paiva, assassinado pela ditadura, e um guarda nos porões do DOI-CODI do Rio de Janeiro, enquanto estava detida, aos 15 anos de idade em 1971. Em entrevista recente ao jornal O trabalho (ver pág. 9) ela afirmou: “Você não pode esconder um cadáver da família por 50 anos”. É verdade.
Mas por que foi possível esconder por tanto tempo? Por que ainda há outros desaparecidos de tão longa data?
A resposta é a impunidade. Da Ditadura Militar, iniciada em 31 de março de 1964, todos os culpados pelos inúmeros crimes contra o povo – como o general José Antônio Nogueira Belham, responsável pelo desaparecimento de Rubens Paiva e que ainda está vivo – estão ou morreram livres. Aos generais e carrascos se permite fazer homenagens, com nomes de ruas e escolas. Foi possível ouvir, sem nenhuma consequência, Bolsonaro homenagear o torturador Brilhante Ustra na votação do impeachment de Dilma, quando era deputado.
Esses crimes, se tivessem sido julgados e passados a limpo, seriam hoje cadáveres sepultos. Mas seguem intocados, protegidos pela Lei da Anistia de 1979.
É essa impunidade que alimentou o plano de um novo golpe e até do assassinato do presidente eleito, Lula, e, logo depois, do intento golpista de 8 de janeiro de 2023 – do qual todo o Alto Comando do Exército e os comandantes das Três Forças sabiam ou participaram. A alguns insuficientes indiciados de hoje, se quer dar também anistia.
Por ontem, por hoje e pelo amanhã
é preciso acabar com a impunidade
Da impunidade, nasceram heranças malditas. A Garantia da Lei e da Ordem (GLO), cravada no artigo 142 da Constituição, que permite às Forças Armadas (F.A.) intervirem na República, algo contraditório a uma real democracia. As polícias dos estados, que foram militarizadas durante a ditadura, e hoje são a ponta de lança da repressão contra os pobres.
Os PMs atiram sem perguntar. Matam negros, jovens e até crianças. Todos os dias, com a sua guerra ao povo. Em frente às câmeras de celulares. Sem nenhum pudor, pois confiam, também, permanecerem impunes.
Há muito a limpar. É preciso começar. E é possível, apoiando-se na força do povo, do qual 72% não confiam nas F.A. Nós, junto ao Diálogo e Ação Petista (DAP), estaremos nas manifestações em torno dos 61 anos do golpe, levantando em alto e bom som: Sem anistia! Cadeia para o general Belham! Prisão para Bolsonaro e os generais golpistas! Desmilitarização das PMs e federalização dos crimes de chacinas!
É o que o DAP propõe, também, no processo de eleição interna do PT (o PED) e no debate de formação de chapas – junto a outras questões urgentes para o povo – através dos 13 pontos do manifesto “Virar à esquerda” (ver pág. 5). É crítico e urgente que governo e partido se reconectem a sua base social.
Assim como é urgente punir os golpistas do passado e do presente e varrer a sua sujeira. A questão é de ontem, de hoje e, sobretudo, pelo amanhã.