8 de março: mulheres trabalhadoras colocam suas pautas nas ruas

Em 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no antigo calendário russo), operárias tecelãs se levantavam contra a guerra e a fome, acompanhadas de seus companheiros operários, no que seria o estopim de um processo que levou à revolução russa. 105 anos depois, a luta contra a guerra e a fome estão na ordem do dia para mulheres em todo o mundo.

Relatório da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) em julho de 2021 descreve “um agravamento dramático da fome mundial”, atingindo 1 em cada 10. A mesma FAO informa que a fome atingiu 24% dos brasileiros em 2020 – quase um quarto da população! A carestia pode piorar ainda mais com a guerra na Ucrânia.

Guerra que, por sua vez, impõe sofrimentos profundos a essas mulheres, seus filhos, companheiros e familiares. A abjeta fala de Arthur do Val, por exemplo, de que “as ucranianas são fáceis porque são pobres”, evidencia o destino de violência sexual de muitas crianças, jovens e mulheres refugiadas ou sob o julgo de uma invasão militar. 

Essas foram duas das principais preocupações que as mulheres do Diálogo e Ação Petista (DAP) levaram às manifestações que ocorreram em diversas cidades brasileiras pelo 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Como em anos anteriores, a data deu largada a manifestações de rua, num ano que já começou com diferentes lutas em curso, em decorrência da dura situação de vida das mulheres e do povo trabalhador.

Em suas falas, faixas, pirulitos e panfletos, o DAP colocou no centro essa dura situação, cantando por exemplo que “o arroz tá caro! O feijão tá caro! Traz de volta o Lula e manda embora o Bolsonaro!”

Além de demonstrar indignação com a realidade do povo e das mulheres, foi um 8 de março “na luta por direitos”, como dizia a camiseta do DAP em São Paulo: por creches para todas, pela saúde pública, igualdade salarial, contra a violência de gênero e contra a violência policial.

Investimentos federais para mulheres estão minguando

“Hoje em dia, as mulheres estão praticamente integradas à sociedade”, afirmou Bolsonaro em solenidade pelo dia 8 de Março. Mais do que em suas falas absurdas, Bolsonaro mostra sua misoginia e desprezo pelas mulheres nas ações concretas de seu governo.

Matéria do portal Universa, com informações do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), mostrou que em 2022 o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos destinou o menor recurso dos últimos quatro anos para políticas de combate à violência de gênero: R$ 43,28 milhões. 

Dizer que é o menor orçamento neste período é dizer pouco, já que as verbas para a área vêm caindo ano a ano, desde 2015. E o pior é que, como O Trabalho já mostrou, o orçamento efetivamente executado pelo governo tem sido menor que o previsto, que já era baixo. Assim, em 2021, o ministério de Damares executou apenas metade do que havia autorizado na legislação orçamentária, e em 2020, “sobraram” 70% dos recursos.

O programa Casa da Mulher Brasileira, para vítimas da violência doméstica, tem sido duramente impactado: dos R$ 21,8 milhões previstos em 2021, apenas R$ 1 milhão foi gasto; em 2019, o governo não executou um único real. 

Enquanto isso, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostra que o Brasil tem um estupro a cada 10 minutos. Um feminicídio a cada 7 horas. 

Priscilla Chandretti

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