80 anos do fim da 2ª Guerra Mundial na Europa

O papel do stalinismo

Em 8 de maio de 1945 terminava na Europa – com a rendição da Alemanha nazista ao Exército Vermelho soviético – a mais brutal guerra mundial, provocada pelas disputas por mercados entre as potências imperialistas. A guerra na Ásia só terminaria em setembro, após o criminoso lançamento das duas bombas atômicas pelos EUA sobre o Japão.

Milhões e milhões de trabalhadores foram utilizados como bucha de canhão a serviço dos interesses das burguesias dos seus países. A humanidade foi colocada nos limites da barbárie total, seja nas frentes de batalha ou nos campos de extermínio nazistas, assassinando em escala industrial seres humanos como se fossem insetos. 

Setores do movimento operário combateram antes e depois por uma solução que não alinhasse as massas aos imperialismos e abrisse caminho para revoluções socialistas. Mas a derrota em 1933 sem reação do principal proletariado europeu, o da Alemanha, graças à divisão que opôs o Partido Comunista Alemão (KPD), stalinizado, ao Partido Social-Democrata (SPD), burocratizado, permitiu ao nazismo crescer e tomar o poder. Foi a consequência da tática da Internacional Comunista (IC) daquele momento, chamado de “Terceiro Período”: assaltos ao poder eram insufladas de maneira esquerdista, abortando revoluções que ainda amadureciam, ao custo de prisões e mortos em todos os continentes.

Ainda na década de 1930 a IC gira para uma nova tática, a das “Frentes Populares”: a colaboração de classes subjugando a iniciativa dos trabalhadores e colocando-a serviço da diplomacia russa, a reboque das “burguesias nacionais”. Esta tática gerou novas derrotas e a expansão do nazifascismo.

Na mesma esteira vieram os Processos de Moscou que liquidaram criminosamente toda uma geração de bolcheviques, entre eles milhares com experiência militar da Guerra Civil Russa (1918-21), fragilizando o Exército Vermelho, construído pelos revolucionários de Outubro sob liderança de Leon Trotsky.

Na sequência o famigerado Pacto Germano-Soviético, que dividia a Polônia e previa não-agressão mútua, foi compactuado por Stálin com Hitler. Mesmo sendo avisado por espiões soviéticos na Alemanha do iminente ataque nazista e o evidente descumprimento do pacto, Stálin não reagiu nem preparou a URSS para tal situação. O resultado óbvio foi ampliação e o prolongamento da tragédia em solo soviético.

Foi a reorganização do Exército Vermelho e da produção – à memória da auto-organização da Revolução de Outubro que ainda existia nas massas – graças às conquistas de 1917, como a economia planificada, que garantiu a vitória sobre Hitler, apesar de Stálin e do stalinismo. A virada da guerra na Europa, que faria retroceder as forças nazistas que tomavam a União Soviética passou pela derrota alemã na batalha de Stalingrado em 1943. O mito do grande líder e generalíssimo não passa de uma cantilena.

Na Itália mais de 100.000 guerrilheiros armados no centro e no Norte combateram o fascismo. Na Iugoslávia um exército revolucionário derrotou as tropas nazistas. Na França, a resistência revolucionária contra a ocupação nazista chegou a reunir 12.000 combatentes refugiados da guerra civil espanhola, entre outros. Na Grécia e na Albânia a resistência agrupou milhares de combatentes contra o nazismo. No fim da guerra uma onda de mobilizações revolucionárias sacudia o mundo.

Soldados do Exército Vermelho depõem as bandeiras capturadas das forças armadas nazistas em1945

Depois da vitória, não era incomum ver na União Soviética e nos partidos comunistas a imagem acabada da revolução. Mas Stálin, que dissolveu o que restava da Internacional Comunista em 1943, defendia a colaboração e a restauração dos antigos regimes burgueses. Ou pior, como quando propôs aos revolucionários iugoslavos que restaurassem a monarquia, ao partido comunista chinês que governasse com a burguesia.

Foi assim que no Brasil o PCB de Prestes saia das prisões varguistas em 1945 e chamou a unidade para manter Vargas no poder. Isso não era um delírio dos stalinistas brasileiros, mas uma orientação internacional que Stálin impunha a todo o movimento comunista: conter a radicalização das massas e selar acordos com as burguesias, antes e depois da guerra. O secretário geral do partido comunista dos Estados Unidos, Earl Browder, declarou que “o fim da guerra era o início de uma amizade e colaboração íntima entre o campo socialista e os Estados Unidos, que estava destinada a continuar mesmo depois da guerra”. Tratava-se de um acordo político pela contrarrevolução materializada na “Santa Aliança” contrarrevolucionária entre as burguesias e a burocracia soviética. Stálin, Roosevelt e Churchil apertaram as mãos: nada de revoluções.

A 4ª Internacional havia realizado em 1940 uma conferência de emergência lançando um manifesto contra a guerra. O manifesto incorporava a defesa incondicional da União Soviética, que significava não a defesa de Stálin, mas a defesa das conquistas da revolução, a propriedade social. Tratava-se de uma orientação política contrária aquela de união nacional com governos burgueses que os stalinistas e a esquerda em geral propunham. Contra essa orientação, o manifesto chamava a independência do movimento operário:

“No curso da história, a guerra foi frequentemente a mãe da revolução, precisamente porque ela sacudiu regimes ultrapassados, enfraqueceu as classes e acelerou o crescimento da indignação revolucionária entre as classes oprimidas… Não esqueçamos um só instante que esta guerra não é nossa guerra…. A 4ª internacional constrói a sua política não sobre o acaso dos pontos de vista militares dos Estados capitalistas, mas a transformação da guerra imperialista em guerra civil dos operários contra os capitalistas, na derrubada das classes governantes de todos os países, na revolução socialista mundial….Independentemente do curso da guerra, nós cumprimos nossa tarefa fundamental, nós explicamos aos operários a oposição irreconciliável entre seus interesses e os interesses do capitalismo sedento de sangue. Nós mobilizamos os explorados contra o imperialismo… nós trabalhamos pela união dos operários de todos os países, beligerantes e neutros, nós chamamos a confraternização dos operários e soldados em cada país….”

Everaldo Andrade e Tiago Maciel

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