“Não seria a hora que paguem outros que não os trabalhadores?” entrevista com sindicalista da Saúde na Espanha

Publicamos a entrevista com a Secretária-geral do Sindicato da Saúde de Sevilha da central Comissões Operárias (CCOO), central sindical surgida na década de 70 no movimento que levou à queda do ditador Francisco Franco.

Publicada por Información Obrera, Madrid, 29/04/20

Información Obrera: Pedro Sánchez (primeiro ministro, do Partido Socialista) fala de “pactos de reconstrução”. Qual sua opinião?

Maria José Wanceulen: Sou cética nesse assunto. Em primeiro lugar, considero que a classe política de nosso país não está à altura, o que se percebe na deriva partidária destes 40 dias em que “vale tudo”, especialmente para a direita, mais preocupada em “cair” sobre o governo do que em fornecer e apoiar soluções na presente crise da saúde. E, em segundo lugar, eu entendo que pactos de reconstrução devem salvar todos, principalmente os desfavorecidos, e receio que, como é costume na Espanha, o peso cairá novamente sobre a classe trabalhadora.

IO: Não há riscos de que nos peçam para renunciar à revogação das contra-reformas dos últimos anos?

MJW: Não deveria. O PSOE e Unidas Podemos chegaram ao governo com um programa eleitoral muito claro, que incluía a revogação da Lei Mordaça e da Reforma Trabalhista. São medidas que têm um custo mais de natureza política do que econômica, e que os eleitores do governo da coalizão esperam que sejam adotadas.
Nos dizem que os esforços para sair da crise deveriam ser compartilhados. Não seria a hora de que paguem outros, dessa vez, ao invés dos trabalhadores?
O risco existe e é grande, é ao que me referia ao falar dos pactos. Agora, não vale para nós que socorramos os bancos, nem anistias fiscais, nem pagamento de dívida europeia. Já chega de sacrifícios pelo capital, é hora de que quem tem mais, seja quem mais se esforce.

IO: Como sindicalista de CCOO, o que você acha que deveria propor o sindicato nesse momento?

MJW: Já vimos o que ocorre quando, para sair da “crise”, se recorre a cortes nas políticas sociais. Nossa saúde sofreu cortes e privatizações brutais. Se não houvesse ocorrido isso, estaríamos em condições muito distintas para vencer esta pandemia, com mais recursos materiais e humanos, com mais leitos de hospitais e UTI, com uma rede de atenção básica poderosa, com residências de idosos bem equipadas.
Sem dúvida alguma, deve-se apostar no fortalecimento dos serviços públicos em geral e na saúde em particular, pois é um erro pensar em “voltar à normalidade”, aprendamos e olhemos o futuro que, sem alarmismos, não será como antes.
Queremos nossos 5%. (em referência aos 5% de salário cortado há dez anos).

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