Manifestações de palestinos ganham força

Mais de cento e cinquenta mil palestinos do interior (dentro das fronteiras do Estado israelense), cem mil de acordo com a própria mídia israelense, fizeram manifestações na sexta-feira, 5 de março, em Umm al-Fahm, cidade árabe situada ao norte da fronteira com a Cisjordânia. Publicamos aqui o relato da conversa telefônica com um de nossos correspondentes na Palestina.

“Eles vieram de toda a Galileia, de Negev, dos setores árabes, para expressar sua raiva contra a polícia israelense, que permite e encoraja as ações criminosas das máfias israelenses nos territórios majoritariamente habitados por palestinos, no interior do Estado de Israel. Milhares de bandeiras palestinas foram exibidas, as palavras de ordem eram em grande medida contra o Estado sionista e sua polícia. Desde o início da pandemia do coronavírus, a situação se agravou para os palestinos do interior. Cerca de 60 agências bancárias fecharam nas cidades e vilarejos por causa do confinamento. As pessoas daqui tiveram que recorrer ao mercado negro comandado por gangues israelenses para obter dinheiro, mas, com a explosão do desemprego, não têm meios de pagar de volta. É por isso que esses grupos do crime organizado continuam a ameaçar os palestinos e, desde o início do ano, mais de vinte jovens palestinos foram mortos. Esses fatos são do conhecimento da mídia israelense, que explica que a polícia tem medo de agir contra esses grupos. Na realidade, eles são informados de que podem fazer o que quiserem em áreas habitadas por árabes, mas devem deixar os judeus em paz em Tel Aviv ou Netanya.

Violência policial
A polícia sabe os nomes dos assassinos, mas não faz nada. Quando a polícia mata manifestantes palestinos, sempre diz que foi um erro. No entanto, a repressão é muito violenta contra os manifestantes palestinos, até as mulheres são brutalizadas com grande violência. Após a manifestação, a polícia prendeu dezenas de jovens em suas casas, mas teve que libertá-los imediatamente. Isso confirma que eles não querem mobilizar suas forças para deter os criminosos, mas que estão lá principalmente contra nós.

Essas manifestações são dirigidas contra as autoridades israelenses, responsáveis por este apartheid. Para os palestinos do interior, tudo isso é discriminação racial e, nas reivindicações, exigimos o fim da discriminação, exigimos direitos iguais para todos, e isso está ligado à nossa atividade que visa desenvolver a reivindicação do Estado democrático em toda a Palestina. Vimos uma participação significativa de judeus na manifestação da sexta-feira, com as mesmas reivindicações por direitos iguais. Nessas últimas manifestações, principalmente nesta sexta-feira, a presença de mulheres e jovens foi muito massiva. Elas estavam lá fazendo a ligação entre todos os ataques à vida palestina, elas estavam lá porque seus filhos, seus irmãos foram mortos, para ganhar sua liberdade e acabar com o racismo israelense.

O levante da juventude
Do lado da Autoridade Palestina, é a corrida dos corruptos pelo controle de algumas cadeiras, por alguns segmentos da autoridade e pelos milhões dos Estados árabes que normalizaram suas relações com Israel. Eles deixaram de se envolver na resistência há muito tempo. Sua única agenda é administrar um governo fantoche. Do lado de Israel, há manifestações contra Netanyahu, mas isso porque, para os manifestantes, ele promove uma imagem ruim do sionismo… Para desviar as atenções, Netanyahu se insurge contra o Irã, ou agora contra o Tribunal Penal Internacional, que diz que houve crimes de guerra em Gaza em 2014. Netanyahu chama os juízes de antissemitas. Ele só tem isso a dizer quando se trata de responder às críticas.

O elemento principal hoje é a revolta do povo palestino dentro das fronteiras de 1948. O elemento principal é a tomada do movimento pelos movimentos da juventude, que se organizam e se estruturam à parte dos partidos e lideranças tradicionais, em quem não confiam mais. A polícia assedia e intimida, mas a determinação dos jovens nunca foi tão grande. Todos pensam que os palestinos em Israel estão à beira de uma grande Intifada.”

A luta das mulheres palestinas
Ahlam Odeh, residente em Haifa, é militante de um movimento de mulheres palestinas e fala sobre a situação e a luta das mulheres.

Ahlam Odeh em manifestação
Ahlam Odeh em manifestação

“As mulheres palestinas que vivem dentro das fronteiras de 1948 e as da Cisjordânia e de Gaza sofrem a mesma dor. Todas fazem parte do povo palestino e seu destino é o mesmo. Todas nós vivemos sob a ocupação, portanto, como mulheres, lutamos contra a ocupação sionista da Palestina e o colonialismo. Centenas de mulheres palestinas foram presas por resistir à ocupação. Além disso, centenas foram martirizadas, sacrificaram suas vidas e pagaram o preço da resistência.

Atualmente, durante a propagação do coronavírus, a situação é muito difícil para as mulheres. Não há trabalho, e a taxa de desemprego das mulheres palestinas nos territórios de 1967 é de mais de 61%.

As mulheres palestinas desempenham um papel importante na resistência contra a ocupação. Organizam manifestações e assembleias permanentes e semanais nos postos de controle militar, contra o muro de separação, contra o confisco de terras e contra os assentamentos. Elas se reúnem também nas barracas montadas para organizar solidariedade com prisioneiros e detidos em prisões israelenses.

Há uma forte presença de mulheres nas grandes manifestações que acontecem nas cidades e vilas árabes da fronteira de 1948, e elas continuam no momento contra a polícia israelense, que fecha os olhos às gangues criminosas que matam jovens palestinos.

Nosso movimento defende os direitos das mulheres em geral, nos níveis nacional, político, econômico e social, e busca desenvolver a consciência nacional e sensibilizar as mulheres.

Nosso lema é: ‘Não há liberdade para a Palestina sem a libertação das mulheres!’

A grande maioria das mulheres em nossa organização são hostis ao movimento sionista e consideram que Israel é uma verdadeira entidade colonial. Assim, nós acreditamos que a única solução para o conflito, no interesse de judeus e árabes, é um Estado Palestino único, democrático e laico, no qual judeus e árabes vivam em pé de igualdade e sem racismo”.

Extraído do jornal francês Informations Ouvrières

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