O símbolo do Ever Given

A escassez ameaçaria a Europa, se um incidente deste tipo se tivesse prolongado: maior do que três campos de futebol e com contêineres à altura de 40 andares, o Ever Given encalhou no Canal de Suez, não conseguindo responder ao peso das suas duzentos e vinte mil toneladas de carga.

Por que é que o transporte marítimo aumentou vinte vezes em sessenta anos? Por que é que 10% da frota mundial, entre a Ásia e a Europa, transita através do Canal de Suez?

Porque o sistema capitalista destruiu setores inteiros da indústria no Ocidente, atirando para a miséria dezenas de milhões de trabalhadores, de Detroit (nos EUA) a Maubeuge (na França), de Liverpool (na Inglaterra) a Leipzig (na Alemanha), contornado as suas conquistas em salários e em proteção social, para ir sobre explorar os trabalhadores na Ásia (1). A independência conquistada pelos povos desta região, muitas vezes com armas nas mãos, não impediu a sua dependência econômica; os antigos colonos regressaram, como exploradores vorazes. E quando, na China, milhares de greves obrigaram os patrões a recuar, foi para o Vietnã, o Camboja e a Indonésia que os escravagistas do capital se viraram.

Para que um aparelho de televisão de setecentos euros chegue da Ásia (pagando dez euros de transporte), para que uns pares de meias europeias sejam produzidas em Phnom Penh (Camboja) ou em Dacca (Bangladesh), os capitalistas do frete de porta-contêineres  entraram num frenesi de rentabilidade, triplicando a tonelagem dos navios…

A anarquia capitalista mergulha na mesma miséria os trabalhadores do Oriente e do Ocidente.

Só a cooperação internacional destes trabalhadores, em luta pela sua emancipação, abrirá caminho a uma economia racional, livre do lucro privado.

Michel Serac, crônica publicada no semanário francês “Informations Ouvrières” – Informações operárias – nº 648, de 31 de Março de 2021, do Partido Operário Independente de França.

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(1) A destruição de indústrias seculares (da metalurgia ou dos têxteis) no norte e no leste da França foi empreendida, no final da década de 1970, no governo de Giscard/Barre, provocando uma violenta resistência da classe operária. Nessas regiões, os trabalhadores deram quase 80% dos seus votos ao PS e ao PCF, em 1981. E esta grande maioria absoluta de “esquerda” prosseguiu, impiedosamente, a desindustrialização, ao serviço do capital.

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