Biden também quer suspender as patentes de vacinas. Ninguém pode ser contra, mas resolve?

Uma série Netflix hollywoodiana com final feliz: Washington vai salvar a humanidade…

Primeiro, se impôs a ideia de que a vacina é a única salvação da pandemia, após um ano em que os governos capitalistas negligenciaram (ou sabotaram) as medidas sanitárias necessárias (leitos e contratações, testagem, máscaras, oxigênio, ajudas para o isolamento etc.). Depois, cientistas e ONGs apontaram na “quebra de patentes” o milagre da multiplicação das vacinas. Então, a OMC (Organização Mundial do Comércio) preocupada com as “revoltas” resolveu dar um empurrãozinho para uma dita “3ª via” no quadro da OMS (Organização Mundial da Saúde). Em seguida, manifestos de líderes progressistas no mesmo sentido denunciaram os lucros da Big Pharma e apelaram aos chefes de Estado declarando “vacina bem comum da humanidade”, como se a realidade da propriedade privada e do mercado imperialista evaporassem. Depois, líderes e ex-líderes de governo apelaram diretamente a Biden. Por fim, em 5 de maio a representante comercial do governo dos EUA anunciou: Biden é a favor da suspensão temporária das patentes (dita “quebra”).

Deu manchetes, um “golpe de mestre de Biden”, “os EUA voltam ao comando”, urrah!

Houve um certo muxôxo dos porta-vozes da Big Pharma, mas predominou a exclamação exultante da direita “civilizada” e da esquerda “informada”. Rapidamente os governos recalcitrantes se alinharam. Até o negacionista Bolsonaro, após seis meses se opondo na OMC, no dia 9 tirou nota conjunta do Itamaraty com os ministros da Economia, Saúde e Ciência em que “saúda” o anúncio de Biden.

Agora é que são elas
A motivação de Biden nem é obscura. A carta dos deputados Democratas pela “quebra” já dizia que “para cada dólar investido para tornar as vacinas acessíveis aos países pobres, os países ricos receberão 4,8 dólares de retorno do investimento. Não é só obrigação moral, é eficaz economicamente”. Então, há o pânico das turbulências sociais, inclusive nos EUA, e há o business.

Agora saberemos o que é concessão dos capitalistas – dão anéis para salvar os dedos – e o que é manobra de alto nível (Biden ganhou carinho-extra de muitas lideranças, sua política econômica é um modelo etc.).

A União Européia topa suspender, mas lembra que isso “não aumentará a oferta de vacinas nos próximos meses, talvez nem no ano que vem”. Por isso, retrucam, “os EUA devem levantar a atual proibição de exportação de vacinas”, o que lhes permite no curto prazo manipular os países pobres ou ‘emergentes’ com ofertas de preço ou doação de sobras. Os EUA não responderam.

A “quebra” não tem efeito imediato pois não expropria nada – e se deveria expropriar a Big Pharma!

A negociação na OMC toma meses, mesmo um país como o Brasil, que mal-e-mal já produz duas vacinas sob licença paga – inglesa (Astrazeneca) e chinesa (Sinovac) embora carente de importar insumos, – teria muitas dificuldades. Não há como multiplicar a produção mesmo baixado o custo da licença, toma meses adaptar a legislação e, principalmente, para transferir a tecnologia que não se dispõe, mesmo para vacinas tradicionais (as da nova tecnologia da Pfizer ou Moderna nem pensar).

Tudo isso, claro, se e depois que o genocida Bolsonaro largar mão da sabotagem sanitária. Por isso, o caminho mais curto para salvar vidas é acabar com o este governo, quanto antes melhor!

Markus Sokol

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