Justiça para Bruno e Dom!

Julgar os assassinos confessos ainda não fará justiça ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista inglês Dom Phillips.

Servidor público concursado, experiente e respeitado pelos colegas (“é um gigante!”) Bruno foi Coordenador Geral de Indígenas Isolados e de Recente Contato.

Em 2019, depois de dirigir uma operação que expulsou centenas de garimpeiros da Terra Yanomami, em Roraima, ele foi exonerado com outros 10 Coordenadores Gerais, dos 15 existentes. Era a “foiçada na Funai”, prometida por Bolsonaro.

Com a Funai colonizada por gestores antiindígenas, a começar pelo presidente Marcelo Xavier, delegado da Polícia Federal, assessor de ruralistas, Bruno pediu licença sem remuneração e integrou como voluntário a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari-Unijava.

Diante do desaparecimento de Bruno e Dom, os servidores da Funai entraram em mobilização, com greve, no DF, exigindo: a) retratação da Funai das difamações assacadas contra Bruno, Dom e a Unijava; b) envio de forças de segurança para garantir a integridade física dos servidores presentes nas bases da região; c) envio de força tarefa de funcionários para reforçar essas bases.

Declarando-se “consternados, angustiados, horrorizados e desesperados”, os servidores no Vale do Javari agradeceram a solidariedade dos grevistas. Além de perseguições administrativas, todos estão sujeitos à mesma sorte de Bruno e Dom simplesmente por realizar seu trabalho.

Uma plenária nacional com quase 200 servidores, deliberou por um Ato Nacional com greve, dia 23/6, levantando como uma das exigências “Fora Xavier e sua gestão antiindigenista!”

Milicos comandam a Funai
Hoje, apenas duas das 39 Coordenações Regionais da Funai são chefiadas por servidores do órgão; 19 são ocupadas por militares, três por PMs e dois por PFs. Seis homens da Força Nacional são encarregados de vigiar uma área de 85 mil quilômetros quadrados. Os programas sociais em favor da população ribeirinha, implantados em 2011, foram descontinuados.

O resultado foi a transformação do Vale do Javarí numa terra sem lei, território livre para narcotraficantes, madeireiros e garimpeiros ilegais, aliciando a população local para o crime organizado – como certamente é o caso desses assassinos.

No seu trabalho de servidor público, Bruno contrariou muitos interesses. Também forneceu às autoridades policiais um mapeamento das organizações criminosas presentes no Vale do Javari.

Revisar os processos em que ele atuou nos últimos anos e buscar as razões de seu afastamento do cargo que exercia fornecerá a pista para chegar aos responsáveis últimos pelo crime.

Edison Cardoni

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