O roubo eleitoral bolsonarista e a miséria do povo

As pesquisas eleitorais mostram que a Emenda Constitucional 123 (conhecida como PEC do Desespero) tem alterado – moderada, mas perigosamente – a opinião pública em favor de Bolsonaro. Depois de outras ECs similares desde o ano passado, ele aprovou-a com o Centrão (e com o equivocado apoio da bancada da esquerda) para torrar até a eleição R$ 42 bilhões na compra de votos, desrespeitando toda a legislação eleitoral e fiscal.

As intenções de voto de Bolsonaro têm crescido nos últimos 3 meses de 27% a 29% na Datafolha. A avaliação positiva de seu governo cresce mais entre os pobres, particularmente os que recebem Auxílio Brasil: no mesmo período, ela saltou de 10% a 28% neste segmento na pesquisa Quaest. Na mais recente pesquisa (BTG-FSB 15/08), Bolsonaro reduziu em 3% sua diferença abaixo de Lula desde fins de maio na estimulada; ainda que na última semana, tal diferença tenha aumentado 4%. E mesmo apenas na última semana, Bolsonaro reduz tal diferença em 1% na espontânea. A despeito da inflação ter corroído a renda do trabalhador, o aumento de R$ 200 no valor do Auxílio Brasil distribuídos mensalmente (desde esta semana até dezembro) a cerca de 30 milhões de famílias já exerce um forte impacto, mesmo que em boa medida psicológico. Já a redução do preço da gasolina (outra medida de última hora, puramente eleitoreira) impacta também ainda que mais setores de renda média.

Outra lei aprovada no rolo do estelionato eleitoral bolsonarista permite aos contemplados pelo Auxílio Brasil usar o valor recebido para tomar empréstimo consignado, algo que já era permitido desde março, por outra medida (MP) do tipo, a pessoas com deficiência e idosos em vulnerabilidade social (beneficiários de prestação continuada). Isso tudo tem um impacto de curto prazo na sensação de renda dos muito pobres. Pois, no ano que vem, quando as dívidas forem cobradas, o efeito será devastador a tais trabalhadores vulneráveis que, ludibriados pelo governo, se endividam no momento.

O gráfico acima mostra que a parcela das famílias (com renda menor que 10 salários mínimos) que estão endividadas subiu de 59% para 77% entre julho de 2019 e de 2022. Até 2016 a média era de 52%. O número de famílias que não mais consegue pagar suas contas mensais também subiu significativamente no período – atingindo os atuais 28%. E seguirá subindo assim que passar a farra eleitoreira. Note-se que em 2022, o avanço na proporção de endividados foi maior entre as mulheres. A falta de políticas de emprego e renda e a alta do preço dos alimentos empurram as chefes de família para o empobrecimento e endividamento.

A situação será catastrófica assim que passar a eleição e as medidas enganadoras de Bolsonaro expirarem. A saída de tal sofrimento, claro, só pode ser aberta se a eleição e posse de Lula forem garantidas. Mas ela só será efetivada se medidas emergenciais forem tomadas – todas em confronto com o desejo dos banqueiros, da maioria do Congresso e da grande mídia: revogação do Teto de Gastos, das Reformas Trabalhista e Previdenciária; aprovação de reforma tributária progressiva, da reestatização da Eletrobras entre outras, que deve ser defendido na campanha, desde já.

Alberto Handfas

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