Na vizinha Colômbia, o governo de Gustavo Petro acabou de romper com seu bloco de sustentação no parlamento por ser um entrave à aplicação das reformas que prometeu no processo eleitoral. Petro declarou que ia apelar ao movimento popular e sindical, às ruas, portanto, para fazer uma pressão efetiva para desentravar as medidas necessárias para o povo.
Na mesma semana, aqui no Brasil, o governo Lula sofria sua primeira derrota na câmara na questão do Marco do Saneamento. Não teríamos, então, matéria para reflexão ao ver o que se passa na Colômbia?
Depois de dias de bombardeio sobre o MST, de fora e de dentro do governo, Bolsonaro escolheu a Agrishow para fazer sua reaparição na cena política. Ali, em meio à turma do agro, foi celebrado, cantado em versos e proferiu os impropérios costumeiros contra indígenas e quilombolas para excitar sua base fiel.
Depois disso, é verdade, está sendo acusado de adulteração no cartão de vacina. Seu ajudante de ordens, o Tenente Coronel Cid – aquele que motivou a demissão do General Arruda –, está preso e é o pivô dessa crise, acusado de operar a fraude.
Dificilmente, no entanto, pode-se esperar que Bolsonaro aceite ser cercado docilmente. Haverá reação e sua base fiel é mais ampla que o agro.
A essa altura, sabe-se que pouco importa o que é dito que ele fez ou faz. Há um séquito disposto a segui-lo aonde for e há um conjunto de líderes políticos, empresários e militares mais prudente, mas que adorariam poder reassumir o seu lugar de ontem ao lado do chefe fascista.
Em face da frágil base no congresso e da ameaça bolsonarista, não faltam aqueles que queiram acuar o governo Lula, chantageá-lo ao comedimento, pressioná-lo a abandonar suas promessas de campanha, ceder ao “mercado”. É a vontade do capital financeiro, afinal.
E aí está o risco da situação.
Porque do nosso lado, dentro do governo e na cúpula das organizações, parece prevalecer a velha ideia, já testada, de que fazendo concessões aos inimigos de classe se aplacará a sanha exploratória dessa gente, que, se pudesse, voltaria a escravizar todo o nosso povo.
Afinal, o que explica que o próprio governo resolva se amarrar em um novo Teto de Gastos, impossível de conviver com as promessas de campanha?
O que explica a nomeação do General Amaro, no GSI, que se afastou de Dilma para ascender na carreira nos anos de governo Bolsonaro?e
O que explica a fraquíssima mobilização por parte da CUT e sindicatos em direção ao 1° de maio? O esdrúxulo convite a Tarcísio, Lira e Pacheco? Por que a luta pela revogação da reforma trabalhista não sai do papel?
Há, é claro, certa paciência, o governo acabou de começar. Lula, também é verdade, tem adotado posição soberana em relação à questão da guerra na Ucrânia. No plano interno, adotou medidas positivas, como os novamente anunciados aumento do salário mínimo e ampliação da faixa de isenção do IR, além da recomposição de parte das verbas das universidades, a aprovação da lei do “trabalho igual, salário igual”, a retirada de empresas da lista de privatizações, a abertura de crédito especial de 7,3 bilhões para o pagamento do piso da enfermagem e outras.
Mas a situação é perigosa, e o retorno à cena de Jair pode acelerar as coisas. Até aqui as medidas do governo não foram suficientes para frear a degradação das condições de vida do povo.
O governo deveria se apoiar nos anseios dos trabalhadores para avançar e ser, ele mesmo, uma alavanca de mobilização.
Certamente, deve ser apoiado em cada passo positivo. Certamente, precisa ser defendido de toda ameaça golpista. Mas também precisa ser cobrado para cumprir tudo aquilo que o povo espera dele.