Equador: golpe de Lasso para evitar impeachment

Resistência popular à política pró-imperialista retirou sustentação do governo direitista

Em 17 de maio, às 6h30 da manhã, o presidente do Equador, banqueiro Guillermo Lasso, lançou mão do Artigo 148 da Constituição do país e decretou a chamada “morte cruzada”, sob alegação de “grave crise política e comoção interna”.

Por esse dispositivo, utilizado pela primeira vez desde que foi adotado, na Constituição de 2008, a Assembleia Nacional é dissolvida e são convocadas eleições para deputados e presidente, num prazo de 90 dias.

Poucas horas depois, o comandante das Forças Armadas, ladeado pelos comandantes militares e o chefe da Polícia Nacional, fez um “pronunciamento aos cidadãos” declarando “constitucional” o decreto de Lasso – como se isso fosse sua atribuição!

Na noite do dia seguinte, a Corte Suprema declarou-se incompetente para verificar a “motivação da causa de grave crise política”, ajoelhando-se a Lasso e aos generais.

A jogada de Lasso interrompeu o processo de impeachment que ele sofria no parlamento e cujo voto decisivo, que levaria à sua destituição, estava previsto para o domingo 21 de maio.

Política pro-imperialista
Em abril de 2021, Lasso foi eleito no segundo turno com uma plataforma pro-imperialista, vencendo, Andrés Arauz, do partido Revolução Cidadã (RD), do ex-presidente Rafael Correa.

Nestes dois anos, buscou aprofundar a política de seu antecessor, Lênin Moreno: privatizações, retirada de direitos dos trabalhadores e dos povos indígenas e entrega do país às multinacionais.

Nas eleições para governadores e prefeitos, ocorridas em fevereiro último, o povo equatoriano impôs uma retumbante derrota a essa política. O principal beneficiário da reação popular foi o partido RD e, em menor escala, o Pachakutik, braço político da Confederação das Nacionalidades Indígenas do Equador (CONAIE).

O “Fora Lasso” também ganhou as ruas no Primeiro de Maio.

Com asseclas acusados de envolvimento com a máfia albanesa, Lasso acabou sendo apanhado num esquema de corrupção envolvendo um contrato para transporte de petróleo da empresa pública Flopec (Frota Petroleira Equatoriana) com a multinacional Amazonas Tanker Pool, baseada num paraíso fiscal da Oceania.

Em 16 de maio, Lasso compareceu ao Congresso para se defender. Dispunha de três horas, mas, sentindo que lhe faltava o terreno sob os pés, utilizou menos de 50 minutos e, ato contínuo, abandonou a sessão para promulgar a “morte cruzada”.

Lasso tem menos de 20% de apoio entre os equatorianos, é totalmente minoritário na nação. Mas a partir de agora, e até 20 de agosto, data marcada para as eleições, ele poderá governar por decretos, apenas submetidos à revisão da Corte Suprema.

Violando a soberania popular e a democracia, ele provavelmente tentará impor diversas medidas antipovo e antinacionais que haviam sido rejeitadas pela Assembleia Nacional.

Edison Cardoni

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