Estados Unidos: acordo no Congresso não elimina crise política

Biden e republicanos acertaram condições para elevação do teto da dívida federal

O governo Joe Biden e os republicanos chegaram a um acordo sobre a elevação do teto da dívida federal dos Estados Unidos, problema recorrente da vida política estadunidense sempre que o presidente não tem a maioria no Congresso. O impasse decorria da impossibilidade de o governo estadunidense contrair empréstimos, enquanto os vencimentos de suas dívidas se aproximavam. Isso colocava a possibilidade de um calote dos EUA, com sérias consequências, como a queda do valor do dólar e, portanto, uma crise monetária mundial.

O compromisso fechado vai até 2025, cobrindo assim o fim do governo de Biden. Prevê, entre outros pontos, o fim à moratória sobre o pagamento dos juros de dívidas contraídas por estudantes para pagamento de seus cursos; e o endurecimento das condições de acesso ao benefício para compra de alimentos (ajudas estatais destinadas à compra de gêneros de primeira necessidade).

A lei recebeu o voto contrário de 46 deputados e 4 senadores do Partido Democrata, entre os quais os representantes de sua ala esquerda, como a deputada Alexandria Ocasio-Cortez. De outro lado, republicanos que apoiam Donald Trump (71 deputados e 32 senadores) também votaram contra.

Partidos divididos
Esse é o nó da crise política em curso nos EUA: os opositores ao texto, de ambos os partidos, exprimem a impossibilidade de as coisas continuarem como eram. Os dois partidos que estruturam toda a vida política no país desde a Guerra de Secessão, no século 19, estão divididos, como resultado de uma crise que os corrói.

Do lado democrata, os apoiadores tradicionais (jovens, sindicalistas, negros) esperam uma melhoria em suas condições de vida. A anulação de uma parte importante da dívida estudantil era, por exemplo, uma resposta parcial a essas expectativas, e o acordo de agora pôs fim à moratória de seu pagamento. Do mesmo modo, dificultar a concessão de benefício para compra de alimentos vai privar as populações mais frágeis, em particular os negros, do acesso ao benefício.

Do lado republicano, uma parte importante do eleitorado vê em Trump uma figura anti-establishment, capaz de fazer aprovar medidas ultrarreacionárias contra os imigrantes e os pobres, como defende o Partido Republicano, mas que o partido só consegue efetivar parcialmente, em razão da resistência da classe operária.

Os mesmos exageros que levam ao sucesso de Trump inquietam o aparelho republicano, que procura uma saída mais controlada. Esse é o papel da candidatura de Ron DeSantis, governador da Flórida, que defende posições próximas às de Trump na maioria das questões, mas de forma mais comedida – o que o torna suspeito aos olhos do eleitorado trumpista. A situação, tudo indica, está longe de se estabilizar.

Correspondente

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