Tiro no pé

Quando a Câmara Federal aprovou a desoneração da folha de pagamento de 17 setores patronais – com o equivocado voto da maioria da bancada do PT – o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad reclamou, com razão. Serão 19 bilhões a menos, calcula-se, no apertado Orçamento de 2024, para o qual o próprio governo propõe a meta de deficit zero. A medida foi votada com pressa, sem discussão, uma imposição do “Imperador” de Brasília, Arthur Lira, que manda e desmanda, exige mais cargos, mais emendas parlamentares e tem uma agenda que obviamente não corresponde aos interesses do povo.

Lira tem todo um programa. Lira não quer a taxação dos ricos. Lira agora quer a reforma administrativa. Lira quer manter a reforma trabalhista. Lira se orgulha de ter aprovado a privatização da Eletrobras.

Só que Lira também se orgulha de ter aprovado a reforma tributária e, agora, o arcabouço fiscal. E aí é que está o principal problema. Porque Lira, afinal, é o que é, um representante direto da classe dominante, no Brasil, subordinada aos interesses do imperialismo dos Estados Unidos.

Mas o arcabouço foi proposto pelo governo Lula, e agora, começa a cobrar o seu preço.
“Hoje não temos, à luz do cumprimento da meta fiscal zero, condições de ampliar as (verbas) discricionárias de 2023 para 2024, salvo os pisos constitucionais (saúde e educação)”, declarou a Ministra do Planejamento, Simone Tebet (MDB) (Valor, 01/09). No Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) não há espaço para reajuste do Bolsa Família, para o reajuste da tabela do Imposto de Renda e “foi decidido que não era no PLOA a hora de discutir reajuste” para os servidores federais, declarou o Secretário do Orçamento Federal, Paulo Bijos (Valor, 01/09).

É um tiro no pé. Ao bloquear os reajustes acima, Lula-Haddad enfraquecem o governo pra enfrentar o Império (do norte), o Imperador de Brasília e a corte aqui, mais a extrema-direita.

Essa política de tentar agradar Lira, o “centrão” e o “mercado”, ameaça frustrar a base social que elegeu Lula.

E nunca é demais lembrar, foi justamente a força dessa base social que derrotou Bolsonaro nas eleições, que garantiu a posse de Lula, que frustrou os militares golpistas. Não foi nenhum juiz togado, nenhuma candidata, hoje ministra. Foi a vontade da maioria do povo trabalhador e oprimido deste país.

Se os riscos à democracia foram momentaneamente afastados, eles continuam aí. Que o diga o Comandante Tomás Paiva, com seu “Amigos do Exército”. Que o diga mesmo um acuado Bolsonaro, que em entrevista à jornalista Mônica Bergamo (Folha de SP, 12/09) declarou: “nós criamos sementes pelo Brasil”. É verdade. E ervas daninhas crescem numa velocidade infernal!

Se a ofensiva contra os direitos foi relativamente contida, nunca é demais lembrar que vivemos num país onde só no mês de agosto, 532 trabalhadores foram libertados da condição análoga à escravidão. Milhões ainda estão na informalidade e outros milhões estão terceirizados.

Por isso não pode continuar prevalecendo na cúpula das organizações populares esta lógica de evitar mobilizar para apresentar ao governo as reivindicações, deixando tudo ao sabor das negociações com os 300 picaretas do congresso.

É para romper com esta inércia, que os delegados da CUT Independente e de Luta propuseram em vários congressos estaduais da Central, uma Marcha à Brasília pela revogação da Reforma Trabalhista, e que pode incorporar outras bandeiras. A proposta começa a ganhar força e merece ser debatida na CUT nacional e com todo o movimento popular e sindical.

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