A conclusão acelerada de um acordo para o cessar-fogo em Gaza, condição preliminar para a libertação dos prisioneiros israelenses, não foi motivada por considerações humanitárias. As manifestações regulares no interior do Estado de Israel pelo cessar-fogo, as manifestações que ocorreram em todo o mundo, exerceram uma pressão indiscutível. O Estado de Israel entrou numa crise interna sem precedentes à medida que o número de seus soldados mortos aumenta diante de uma resistência palestina que consegue renovar-se nas piores condições. Sua “imagem” está enormemente degradada em todo o mundo.
EUA quer preservar o Estado de Israel
Trump havia declarado em sua posse que se “os reféns israelenses não fossem liberados, o inferno se abateria sobre Gaza”. Ora o inferno já estava presente há mais de um ano. O inferno do genocídio da população palestina da faixa de Gaza, o que Trump não pode ignorar.
Sob a pressão do presidente eleito dos EUA um acordo foi encontrado entre as forças de ocupação israelenses e os representantes do Hamas para liberar progressivamente os prisioneiros em troca de uma retirada militar israelense de Gaza. Disposições foram tomadas para que, a prazo, os deslocados de Gaza possam retornar ao norte do seu território.
Todas as mídias israelenses falaram da “humilhação que representa esse acordo para Israel” e do fato que “o vencedor, quem ganha com esse episódio é o Hamas”. Os ministros supremacistas que pregam abertamente a erradicação dos palestinos da terra da Palestina ameaçaram demitir-se do governo. Erel Segal, porta-voz de Netanyahu, declarou na TV israelense: “Somos os primeiros a pagar o preço da eleição de Trump. Fomos obrigados a concluir esse acordo. Eu não penso que seja o que prevíamos ou esperávamos. Queríamos ter o controle do norte da faixa de Gaza e impedir a ajuda humanitária de passar.”
Para além de Trump e suas provocações, o imperialismo dos EUA fará tudo a seu alcance para preservar o Estado de Israel e prosseguir sua política de normalização (dos Estados árabes com Israel), que visa em particular isolar o Irã, que é o principal fornecedor de petróleo da China.
As mudanças ocorridas na Síria e no Líbano são tidas como um enfraquecimento do Irã e são compatíveis com uma aproximação com Israel. A continuação da guerra em Gaza é um freio objetivo à normalização. Ela fragiliza particularmente o Egito e a Jordânia, que não pararam de comerciar com Israel e são cúmplices, aos olhos de seus próprios povos, dos crimes israelenses.
A administração estadunidense está engajada também em apoiar e reforçar a Autoridade Palestina, que se reduz a seu papel repressivo contra toda resistência à colonização na Cisjordânia e que é maciçamente detestada pelos palestinos pela sua ação no campo de Jenin.
O esmagamento dos campos de refugiados na Cisjordânia está na ordem do dia, mas ainda longe de ter sido realizado. A nova administração dos EUA vai permitir uma anexação da Cisjordânia à Israel, a qual ligada ao prosseguimento da guerra em Gaza, só pode levar a região a uma explosão?
François Lazar