Cúpula das Américas: ofensiva e as limitações de Obama

A Sétima Cúpula das Américas, realizada no Panamá de 10 a 12 de abril de 2015, foi planejada pelos Estados Unidos como um momento oportuno para desenvolver, de forma adaptada para o continente americano, a ofensiva de guerra empreendida desde a constituição, em setembro último, de uma coalizão de sessenta países sob o pretexto de “lutar contra o terrorismo” do Estado islâmico.

Nos marcos desta ofensiva, em dezembro de 2014, Obama anunciou a retomada das relações diplomáticas com Cuba, levando à participação de Raul Castro na Cúpula das Américas. A decisão representou, ao mesmo tempo, o reconhecendo do fracasso de mais de 50 anos do criminoso bloqueio econômico e um giro tático para integrar plenamente Cuba no dispositivo do imperialismo na região para isolar a Venezuela em particular.

Essa cúpula deveria também ser “histórica” pois, pela primeira vez, os Estados Unidos aceitaram a presença de Cuba, excluída dessas reuniões trienais desde a sua criação em 1994, pelo então presidente Bill Clinton. Tinha ela, entre outros objetivos, a preparar o terreno para a implementação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), região que os Estados Unidos sempre consideraram seu “quintal” – a América Latina e o Caribe.

Depois disso, a ALCA foi posta de lado e os Estados Unidos perderam sua proeminência. E é isso o que querem, agora, recuperar frente ao seu isolamento na região. E sempre, é claro, com o objetivo de favorecer companhias multinacionais, controlar as fontes de matérias-primas e os mercados.

O acordo entre os EUA e Cuba é feito para mostrar um Obama “aberto ao diálogo”. O que lhe valeu discursos de congratulações por parte de vários presidentes de países da região, incluindo a Presidente do Brasil, Dilma Rousseff.

Mas, apesar de toda essa propaganda, a Sétima Cúpula das Américas terminou sem uma declaração conjunta dos países presentes. Isto deve-se, precisamente, à posição firme da Venezuela, que condicionou sua assinatura – negociada por quatro meses à condenação do decreto assinado por Obama no dia 9 de março, onde considera a Venezuela “uma ameaça à segurança nacional Estados Unidos “.

Um abaixo-assinado pedindo a revogação desse decreto estadunidense recolheu, em poucas semanas, quase dez milhões de assinaturas na Venezuela. E no movimento operário do continente a campanha pela sua revogação prossegue através de uma moção lançada por “US Labor Against the War” (USLAW) – sigla em inglês do Movimento Operário Estadunidense contra a Guerra.

Durante a Cúpula, Roberta Jacobson, Secretária de Estado da diplomacia dos EUA, pressionada, chegou a declarar que a Venezuela não representava ameaça ao seu país. Chegou a afirmar que a acusação – falsa, segundo ela, que o próprio Obama havia reconhecido – só foi incluída no decreto porque a expressão é exigida pela lei dos EUA para poder impor sanções contra um Estado (!).

Frente ao impasse, a solução encontrada foi a publicação de uma declaração do presidente anfitrião com os pontos de consenso para ser comunicada aos “organismos multilaterais”, membros do Organização dos Estados Americanos (OEA) que os EUA querem recuperar a credibilidade frente ao surgimento de organismos como a UNASUR E CELAC (1) que escapam de seu controle direto.

Privados de o impacto de uma declaração conjunta, Obama escolheu remeter para dia 14 de abril, dois dias após a cimeira, o anúncio de que os EUA irão retirar Cuba na lista de países que apoiam o terrorismo – uma lista de caráter imperial, manipulada pelos EUA de acordo com suas necessidades políticas de cada momento. John Kerry, chefe da diplomacia estadunidense, lembrou que Cuba foi incluída nesta lista em 1982 por ter apoiado a “revolução armada na América Latina.”

Em seu discurso na Sétima Cúpula das Américas, o presidente cubano, Raúl Castro isentou Obama da agressão imperialista perpetrado pelos Estados Unidos e elogiou-o como “um homem honesto”, mesmo não ignorando a violenta ofensiva dos Estados Unidos contra a Venezuela.

Raul Castro também argumentou que nada impede que os países das Américas “lutar juntos contra o terrorismo, o tráfico de drogas e o crime organizado”. Exatamente como pretende Obama com sua coalizão de sessenta países, reforçada desde os ataques de 07 de janeiro passado em Paris. Conhecendo a ação que desenvolve os EUA nas áreas onde eles mantêm a sua “luta contra o terrorismo” e observando o grau de barbárie no México causado pela falsa “guerra contra o narcotráfico”, será que algo de bom podemos esperar de esta “colaboração” para qualquer povo que seja, nas três Américas? Lembremos que a fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai – tríplice fronteira – já foi designada pelo os EUA como uma região de terroristas.

Mas, dentro e fora dos Estados Unidos, a resistência dos trabalhadores à ofensiva destruidora do capital financeiro ainda não disse sua última palavra. Obama é forçado a agir dentro de estreito terreno de manobra, sem acordo na cúpula do imperialismo americano, gangrenado por suas próprias contradições. E o que é fundamental, vê-se forçado a recuar e manobrar quando confrontados com resistência, como a que lhe foi feita pela Venezuela na Sétima Cúpula das Américas.

(1) UNASUR: União das Nações Sulamericanas. CELAC: Comunidade dos estados Latinoamericanos e do Caribe

Edison Cardoni

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