Há 40 anos, surgia a Organização Socialista Internacionalista – OSI – Parte 1

Em novembro de 1976 foi criada a Organização Socialista Internacionalista

Numa conferência clandestina, realizada na Praia Grande (SP) em novembro de 1976, concluiu-se a unificação de grupos trotskistas brasileiros que lutavam então pela reconstrução da 4ª Internacional (1) com a criação da Organização Socialista Internacionalista (OSI). O que aproximou os grupos que deram origem à OSI foi a crítica tanto à política traidora do Partido Comunista Brasileiro (PCB), no período do golpe de 1964 (política do stalinismo que prosseguiu) e ao “foquismo” guerrilheiro nos “anos de chumbo” da ditadura brasileira (1968-72), que, isolado das massas, foi brutalmente liquidado pelo aparato policial e militar.

Os trotskistas defendiam um trabalho junto às massas para reconstruir suas organizações na luta pelas liberdades democráticas contra a ditadura; um trabalho baseado nos princípios de independência de classe e do internacionalismo. A virada na situação mundial de 1968: o “maio-junho francês”, a invasão da Checoslováquia pela URSS, reforçava sua convicção na revolução social nos países capitalistas e na revolução política nos países, onde a burocracia parasitava as conquistas baseadas na expropriação do capital.

O processo de unificação se deu em duas etapas.

No início de 1976, formou-se a Organização Marxista Brasileira (OMB) a partir da fusão da Fração Bolchevique Trotsquista (FBT), Grupo Outubro e Organização de Mobilização Operária (OMO).

Em novembro, a OMB fundiu-se com a Organização Comunista 1º de Maio (surgida em 1968 como grupo), dando origem à OSI, num processo acompanhado pelo Comitê de Organização pela Reconstrução da 4ª Internacional (CORQUI), criado em 1972 em Paris.

Oposições Sindicais

A OSI, desde sua origem, era uma organização nacional que buscava implantar-se no movimento operário. As forças que nela se fundiram já animavam tendências sindicais e oposições aos “pelegos” (em geral, interventores da ditadura nos sindicatos, nota do editor), com boletins e grupos formados em várias categorias.

Seu primeiro órgão foi o “Jornal dos Trabalhadores”, produzido de forma semi-artesanal (mimeografado) e que, dois anos depois, será substituído pelo jornal impresso “O Trabalho”, lançado em 1º de maio de 1978.

Liberdade e Luta

Pouco meses antes da criação da OSI, no meses de junho-julho de 1976, a Frente Estudantil Socialista, ligada ao 1º de Maio e a Tendência pela Aliança Operário-Estudantil ligada à OMB, depois de um trabalho comum nas mobilizações estudantis do período, unificaram-se, dando origem à Liberdade e Luta.

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Anos 80: verdadeira e única Liberdade e Luta.

A tendência estudantil Liberdade e Luta, em pouco tempo, atraiu milhares de jovens em todo o país. Jogou um papel importante nas mobilizações contra a ditadura que antecederam a entrada em cena da classe trabalhadora com a onda de greves iniciada no ABC em 1978.

“Nem Arena, nem MDB, voto nulo por um Partido Operário”

Através do jornal “O Trabalho”, a OSI acompanhou e orientou seus militantes a intervir na onda de greves que se espalhou por todo o país em 1978. O que lhe permitiu criar laços com outras correntes do movimento operário e o desenvolvimento de sua própria orientação política:

  • Abaixo a Ditadura, por uma Constituinte Soberana;
  • Luta por sindicatos livres e uma Central Sindical Independente;
  • Luta por um Partido Operário.osi-abaixo-a-ditadur

As eleições de 1978, no quadro do bipartidarismo da ditadura, possibilitaram a campanha “Nem Arena, nem MDB, voto nulo por um Partido Operário”, feita pela OSI junto com outros setores (como a oposição metalúrgica de São Paulo). Isso, quando vários dos que viriam a dar origem ao PT faziam campanha por candidatos do MDB (2).

A atividade da OSI desdobrou-se nas lutas pela liberdade dos presos políticos; pela Anistia ampla, geral e irrestrita; pela libertação de Lula e dirigentes grevistas presos. Campanhas em apoio à revolução na Nicarágua e à luta do sindicato “Solidarnösc” contra a burocracia stalinista na Polônia, destacavam o caráter internacionalista de sua ação.

As greves de massa colocaram a questão da liberdade sindical e da unidade dos trabalhadores numa central. A OSI participou da construção do Encontro Nacional de Trabalhadores em Oposição à Estrutura Sindical (ENTOES, 1979/80), que agrupou o “sindicalismo combativo” e de outras iniciativas que confluíram para a Conferência Nacional da Classe Trabalhadora – a CONCLAT de 1981 – que criou a comissão nacional pró-CUT.entoes

A OSI e o PT

Entre janeiro e agosto de 1980, a discussão sobre a evolução das greves, que forçavam os sindicatos a se chocar com a estrutura oficial leva a OSI a concluir que “o PT é uma resposta ao movimento do operariado no sentido de sua organização independente”.

A OSI decide entrar no PT; “para ampliar o combate pela independência sindical na direção de uma Central Sindical Independente, aspecto determinante da luta pela derrubada da ditadura militar; impulsionar o combate pela libertação da nação oprimida contra o imperialismo, por meio de uma campanha política centrada na palavra-de-ordem de Assembleia Constituinte Soberana e Democrática” (Resolução do 4º congresso em agosto de 1980).

O engajamento da OSI na campanha de legalização do PT (1981) contribuiu de forma importante para atingir as metas exigidas pela legislação da época.

Entre 1979-81 ocorre um reagrupamento de forças trostsquistas no plano internacional (3), que leva a aproximação entre a OSI e a Convergência Socialista (CS). As duas organizações intervêm no PT, defendem um “PT sem patrões”. Também intervém na CONCLAT de 1981 na linha de construir a CUT como central sindical independente e, no movimento estudantil, avançam até a unificação  das organizações Liberdade e Luta e a Novo Rumo, constituindo a organização denominada “Mobilização Estudantil”.

Mas a unificação das duas organizações é frustrada, por iniciativa dos “morenistas”.

Em 1983, a OSI passa a fazer parte da 4ª Internacional-Comitê internacional de reconstrução (QI-CIR); no Brasil, após breve período como Fração 4ª Internacional do PT, em 1985 assume o nome que tem até hoje: Corrente O Trabalho do PT.

Lauro Fagundes

Notas

(1) A 4ª Internacional, fundada em 1938, sofreu uma crise de dispersão em 1952-53, fruto da revisão de seu programa feita por Michel Pablo e outros dirigentes. Afirmando a necessidade de sua reconstrução sobre a base do seu programa original – o “Programa de Transição” – surgiram sucessivos agrupamentos internacionais, até a constituição do Comitê Internacional pela Reconstrução da 4ª Internacional (CORQUI) em 1972, com a participação da OCI francesa e Pierre Lambert.

(2) Essas posições iam desde a Convergência Socialista (CS), que apoiou “candidatos socialistas do MDB”, passando por apoios a candidatos “autênticos” do PMDB, até a posição de Lula e outros dirigentes do ABC de apoiar Fernando Henrique Cardoso ao Senado.

(3) O Comitê Paritário (CP), criado no final de 1979, somou forças do CORQUI com as frações que vinham do Secretariado Unificado (SU) e romperam com sua política, como a FBT “morenista” (do nome do dirigente argentino Nahuel Moreno). O CP organizou um congresso mundial que criou a 4ª Internacional-Comitê Internacional, em 1981 (QI-CI), que foi rompida em pouco tempo por iniciativa de Moreno, usando como pretexto de que a seção francesa (OCI) teria capitulado diante do governo Mitterrand (PS).  A CS reivindicava o “morenismo” no Brasil.

Artigo publicado na edição nº 797 do jornal O Trabalho de 27 de outubro de 2016.

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