Por Andreu Camps
Julho de 2010
“O bolchevismo é a única forma possível de marxismo na nossa época”
Num longo artigo escrito em 1937 com o título “Bolchevismo e Stalinismo”, voltando a enunciar as raízes teóricas e históricas da IV Internacional, Trotsky argumenta para tirar a conclusão retomada no título:
“O Partido Bolchevique mostrou, na sua ação, a combinação da maior audácia revolucionária com o realismo político. (…) O Partido Bolchevique mostrou, ao mundo inteiro, como se deve realizar a insurreição armada e a conquista do poder. Quem contrapõe a abstração dos soviets à ditadura do partido, deve compreender que foi somente graças à direção bolchevique que os soviets puderam sair do lodo reformista e ascender à forma estatal proletária. (…) Mesmo que a burocracia stalinista consiga destruir os alicerces econômicos da nova sociedade, a experiência da economia planeada sob a direção do Partido Bolchevique ficará na História como uma das maiores lições da humanidade. (…) Mas isto não é tudo. O Partido Bolchevique só pôde realizar a sua magnífica obra “prática” porque iluminou todos os seus passos com a teoria. O Bolchevismo não criou esta teoria: ela foi-lhe propiciada pelo marxismo. Porém, o marxismo é a teoria do movimento, não da estagnação. (…) O bolchevismo deu uma contribuição de grande valor ao marxismo: a análise da época imperialista como época de guerras e de revoluções, da democracia burguesa na era da decadência do imperialismo; da relação recíproca entre greve geral e insurreição; do papel do partido, dos soviets e dos sindicatos, no período da revolução proletária; da teoria do Estado soviético, da economia de transição, do fascismo e do bonapartismo, na época da decadência do capitalismo; e, por último, a análise da degenerescência do próprio Partido Bolchevique e do Estado soviético.”.
Trotsky demonstra que nenhuma outra corrente, nenhuma outra tendência que se reclame do movimento operário e/ou do marxismo contribuiu, de forma tão crucial, para os avanços teóricos e práticos do marxismo.
Ele escreveu isto em Agosto de 1937, num período em que a reação parece prevalecer em todo o lado (vitória do nazismo na Alemanha; primeira grande vaga dos Processos de Moscou, que liquidaram a velha-guarda bolchevique e permitiram à burocracia stalinista consolidar o seu poder; esmagamento do proletariado espanhol, após a insurreição de Maio de 1937, em Barcelona). Trotsky – que assumiu com os seus partidários como tarefa prioritária a constituição da 4ª Internacional, após uma primeira Conferência que teve lugar em Julho de 1936 em Genebra – mostra que as suas raízes históricas e teóricas mergulham na continuidade do Bolchevismo, isto é, da corrente política que construiu o Partido revolucionário capaz de, pela primeira vez, conduzir as massas à tomada do poder.
No percurso político realizado por Trotsky, a sua junção com o Bolchevismo deu-se no final de uma longa luta política, em que Trotsky – num primeiro tempo – o tinha combatido. Adiante voltaremos a este assunto.
Uma virada num percurso revolucionário
A 23 de Outubro de 1927, Trotsky é excluído do Comitê Central do Partido Bolchevique (recordemos que a sua adesão formal data de Junho de 1917, mesmo se depois de Abril de 1917, época em que regressa à Rússia – ele trabalha em cooperação com o Partido de Lênin). Em Janeiro de 1928, Trotsky é exilado em Alma Ata e tenta continuar a dirigir a atividade política da Oposição de Esquerda. Logo a seguir, no XV Congresso do Partido Bolchevique realizado a 15 de Novembro de 1927 a Oposição Unificada (com Kamenev e Zinoviev) foi derrotada o que provocou a sua desagregação. Os abandonos multiplicam-se no seio da oposição. Mas, para o aparelho stalinista, ela continua a ser uma ameaça – particularmente por causa da crise que abala a União Soviética manifestada no fosso que separa o campesinato da classe operária.
Nestas condições, a expulsão de Trotsky e o seu exílio constituem uma necessidade premente para a burocracia para tentar manter o seu poder. Ao mesmo tempo, ela adota alguns aspectos centrais da Plataforma da Oposição de Esquerda – em particular a necessidade de industrialização – procurando ultrapassar a crise que o país atravessa.
A expulsão de Trotsky põe fim a um largo período em que este, após a sua adesão ao Partido Bolchevique, foi um dos principais dirigentes da Revolução e esteve no comando do novo Estado.
Segundo o Boletim da Oposição, as razões dadas por Stálin ao Secretariado político para exilar Trotsky foram as seguintes:
- “Aqui, ele dirige ideologicamente a Oposição, cujas fileiras não param de crescer;
- Serve para manchar o seu prestígio aos olhos das massas e denunciá-lo como um auxiliar da burguesia a partir do momento em que ele entre num país burguês;
- Serve para manchar o seu prestígio aos olhos do proletariado mundial, porque a socialdemocracia seguramente utilizará sua expulsão da União Soviética e defenderá Trotsky como sendo vítima do “terror bolchevique”;
- Nós o denunciaremos como traidor caso ataque a Direção do Partido no estrangeiro.”
(Citação reproduzida na introdução de J. – J. Marie à edição de 1967 da “História da Revolução Russa”, de Trotsky) A burocracia stalinista que procura consolidar-se põe fim a quase doze anos da batalha ininterrupta de Trotsky, desde o seu regresso à Rússia, na qual se incluem: a organização da tomada do poder em Petrogrado, a criação do Exército Vermelho, a vitória contra os exércitos dos “brancos”, intervenção de 14 países imperialistas, a participação na construção da III Internacional e a formação dos Partidos Comunistas em especial na Europa e a formação da Oposição de Esquerda (em 1923-1924) e da Oposição Unificada (em 1925-1927), com as quais Trotsky, seguindo o “testamento” de Lênin, trava o combate contra a constituição da burocracia parasitária. Alguns destes combates por vezes vitoriosos mostram que Trotsky e os seus partidários retomaram as melhores tradições do Bolchevismo, mostrando, portanto, que a reação stalinista, com a liquidação da velha-guarda, procurou apagar tudo o que o Bolchevismo significava do ponto de vista da emancipação dos trabalhadores e dos povos.
Trotsky e as duas frações da socialdemocracia
No decurso do 2º Congresso do Partido Operário Socialdemocrata da Rússia – que teve lugar entre 17 (30, segundo o novo calendário) de Julho e 10 (23) de Agosto de 1903 – rebentou uma crise no seu seio.
Operou-se uma divisão entre uma fração majoritária (bolchevique), dirigida por Lênin, e uma fração minoritária (menchevique), dirigida por Martov. No seu ponto de partida, a diferença parece mínima: um artigo, nos projetos de estatutos, que definia os critérios de pertencimento ao Partido. Os Bolcheviques insistiam no fato de que os aderentes deviam participar numa estrutura do Partido enquanto os Mencheviques diziam que deviam agir sob o controle de uma estrutura.
Atrás desta diferença estava camuflada uma divergência que não diz respeito apenas aos critérios de organização, mas também à natureza da revolução. Trotsky colocou-se fora das duas frações tendo mesmo combatido a fração bolchevique. Foi assim que, em Agosto de 1904, ele redigiu um panfleto intitulado “As nossas tarefas políticas” – em que tentava opor-se aos critérios de Lênin, relatados nas publicações “Que fazer?” e “Um passo à frente, dois passos atrás”. Em “As nossas tarefas políticas”, Trotsky diz nomeadamente que a organização preconizada por Lênin levaria “a organização do Partido a deixar-se substituir a organização do Partido pelo Comitê Central e, finalmente, o ditador a substituir o Comitê Central.”.
Retrospectivamente, Trotsky analisa de maneira crítica este seu folheto: “Num panfleto intitulado “As nossas tarefas políticas” – que escrevi em 1904 e a cujas críticas dirigidas contra Lênin faltavam, muitas vezes, maturidade e precisão – havia, contudo, páginas que davam uma ideia perfeitamente justa do modo de pensar dos “partidários” desse tempo. (…) A luta que Lênin travou um ano mais tarde, no congresso (3º Congresso, de Abril de 1905) contra os partidários orgulhosos – confirma plenamente esta crítica.”.
Na publicação “Minha vida”, editada no exílio em 1930, Trotsky explica: “depois de 1904, fiquei fora das duas frações da socialdemocracia. Vivi os anos da primeira revolução (1905- 1907) lado a lado com os Bolcheviques. Durante os anos da reação defendi os métodos da revolução contra os Mencheviques na imprensa marxista internacional. Contudo, não tinha perdido a esperança de ver os Mencheviques virarem à esquerda e fiz uma série de tentativas de unificação. Foi somente durante a guerra (A Primeira Guerra Mundial) que compreendi que estas tentativas seriam inúteis.” É preciso lembrar que, em Agosto de 1912, houve o Congresso de unificação entre os Bolcheviques e os Mencheviques. Um congresso que, formalmente, realizou esta unificação que a história mostrou sua artificialidade. Trotsky desempenhou um papel crucial nesta tentativa. Os Bolcheviques caracterizaram Trotsky e os seus partidários como sendo conciliadores.
As vésperas do rebentar da Revolução de 1917 (Fevereiro) produziu-se uma evolução muito rápida das diferentes correntes em que se dividia a socialdemocracia. A questão central era o caráter da revolução em curso. Após o processo revolucionário de 1905, Trotsky havia publicado uma obra intitulada “1905: balanço e perspectivas”, na qual enunciava os primeiros elementos da definição da Revolução Permanente.
Sendo a Rússia um país atrasado onde havia uma maioria de camponeses, com um proletariado minoritário, mas muito concentrado e com uma burguesia incapaz de agir politicamente de maneira independente fora do regime czarista a Revolução de 1905 tinha mostrado que a única força social capaz de concretizar as mais elementares aspirações da democracia política era o proletariado. O proletariado devia procurar aliar se com a maioria oprimida da sociedade colocando-a sob a sua hegemonia.
E Trotsky caracterizava esta situação como “permanência do processo revolucionário”.
Pelo contrário, os Mencheviques consideravam que a primeira etapa da Revolução não podia sair dos limites da democracia burguesa e, portanto, que o proletariado devia procurar aliar-se com os setores esclarecidos da burguesia para realizar esta etapa, permitir um desenvolvimento capitalista da Rússia e, num segundo período, colocar a questão da revolução social.
Desde 1905, Trotsky concentra a sua análise sobre a necessidade de combater pela ditadura do proletariado numa aliança com o campesinato. Lênin, que na sua análise se reaproxima das posições de Trotsky sobre a natureza da Revolução propõe, apesar disso, como fórmula de poder: a ditadura democrática dos operários e dos camponeses. Uma formulação algébrica que não coloca como taxativa a necessidade da hegemonia do proletariado. É assim que Lênin, ao voltar para a Rússia, em 4 de Abril de 1917, lança-se num violento ataque contra o governo de coligação presidido pelo príncipe Lvov e quando, nas chamadas Teses de Abril, depois de um duro combate político, foram adotadas pela Conferência de Urgência do Partido Bolchevique, preconiza a necessidade de avançar para a ditadura do proletariado, toda uma série de velhos Bolcheviques (como Rykov, Kamenev, Tomsky e outros) acusam Lênin de “trotskismo”.
Nas suas Teses de Abril Lenin, em particular, defende: “Nenhum apoio ao governo provisório; demonstrar o caráter mentiroso de todas as suas promessas, nomeadamente as relativas à renúncia às anexações; desmascará-lo, em vez de “exigir” – o que é inadmissível porque se semeia ilusões – exigir que este Governo, um governo dos capitalistas, deixe de ser imperialista.” (Lênin, Obras completas, Volume 24).
Trotsky explica, em “Minha vida”, a lógica política que leva à sua aproximação e dos seus partidários ao Partido Bolchevique, nomeadamente após a Conferência em que “As Teses de Abril” foram adotadas: “(…) Ao mesmo tempo, Lênin enviava de Genebra para Petrogrado as suas “Cartas de longe”. Escritos em dois pontos do mundo separados por milhares de quilômetros, estes dois artigos (o de Lênin e o de Trotsky – NdT) fazem uma análise idêntica da situação e exprimem previsões completamente iguais. Todas as formulações essenciais sobre a atitude a tomar em relação aos camponeses, à burguesia, ao governo provisório, à guerra e à revolução internacional são absolutamente idênticas. Sobre a pedra de amolar da História, foi feita a verificação das ligações entre trotskismo e leninismo. Esta verificação teve lugar em condições de uma experiência de química pura. Eu não conhecia o pensamento de Lênin. Parti das minhas próprias premissas e da minha própria experiência revolucionária e cheguei às mesmas perspectivas, à mesma linha estratégica elaborada por Lênin.”
A junção de Trotsky e dos seus partidários com o Partido Bolchevique conheceu a prova de fogo da revolução e da tomada do poder.
Não se trata de uma aproximação ideológica, mas da compreensão das tarefas comuns necessárias numa época excepcional. Foi isso que levou Lênin a dizer, após a tomada do poder, a 1 de Novembro de 1917, numa sessão do Comitê de Petrogrado:
“Depois de Trotsky ter se convencido da impossibilidade de uma aliança com os Mencheviques, não existe melhor Bolchevique que ele.”
Na realidade, Lênin mostrava assim que a verdadeira divergência que, durante longos anos, o separou de Trotsky eram as relações com o Menchevismo.
Trotsky e a fusão com os bolcheviques, em pleno processo revolucionário
Após a adoção das Teses de Abril pelo Partido Bolchevique, nenhum obstáculo impedia a adesão de Trotsky e dos seus partidários ao Partido Bolchevique. Trotsky ocupou imediatamente um lugar na Direção do Partido. Foi assim que, quando do 1º Congresso dos soviets, que teve lugar a 3 e 4 de Junho de 1917 (segundo o antigo calendário), a fração bolchevique leu no Congresso uma declaração apresentada por Trotsky no que diz respeito à ofensiva preparada por Kerenski na frente de guerra. A Declaração denunciava o caráter aventureiro da ofensiva e dizia que ela levaria a um desastre.
Em 3 de Julho de 1917, numa manifestação espontânea organizada pelo Regimento dos Metralhadores com a palavra de ordem “Todo o poder aos soviets!”, os Bolcheviques, que não haviam convocado a manifestação, apoiaram-na para tentar impedir o seu esmagamento. Com efeito, o governo de Kerenski estava a reprimir violentamente a manifestação acusando os Bolcheviques pela sua realização e prendendo-os às centenas. Lênin e Zinoviev foram obrigados a esconder- se. O pânico apoderou-se da Direção do Partido Bolchevique.
Em “Minha vida”, Trotsky aborda esta situação: “Nas esferas superiores do Partido, a situação não era tranquila. Lênin tinha desaparecido. O grupo de Kamenev levantou a cabeça. Muitos – e entre eles Stálin – mantiveram-se quietos, à parte dos acontecimentos esperando poder manifestar a sua sabedoria numa situação mais favorável. A fração bolchevique do Comitê Executivo sentia-se órfã no Palácio de Tauride (sede do soviet – NdT). Ela enviou-me uma delegação para me pedir que fizesse um relatório sobre a nova situação, apesar de eu não ser ainda membro do Partido pois o ato que devia formalizar a nossa união tinha sido adiado até ao Congresso do partido, que devia realizar-se em breve. É claro que aceitei de muito bom grado tomar a palavra.
A conversa que tive com a fração bolchevique permitiu estabelecer aquele tipo de laço moral que só se forma quando o inimigo ataca em força. Declarei que após esta crise podíamos esperar uma rápida reviravolta; que as massas se agarrariam ainda mais a nó, quando tivesse constatado na prática a nossa fidelidade; que era necessário, nestas jornadas, observar de perto o comportamento de cada revolucionário, pois, são nestes momentos que as pessoas são pesadas numa balança que não engana. E ainda me recordo, com alegria, do acolhimento caloroso e reconhecido que me foi feito pela fração.”.
Na realidade, Trotsky foi um dos militantes que não perderam a cabeça. Pelo contrário. em 10 de Julho, ele enviou uma carta ao Governo provisório onde se declarava em completa solidariedade com Lênin e o Partido Bolchevique. Essa carta termina assim: “Vocês não têm nenhum motivo para me excluírem da ordem de prisão pronunciada contra Lênin, Zinoviev e Kamenev… Vocês não têm nenhuma razão para duvidar que eu seja um adversário do governo provisório tão irreconciliável como o são estes camaradas.”.
Foram nestes momentos difíceis onde estava em jogo o destino do processo revolucionário que a fusão de Trotsky e dos seus partidários com o Partido de Lênin se realizou completamente.
O papel de Lênin e o lugar de Trotsky
Quando se lê “A História da Revolução Russa”, de Trotsky, o que aparece como essencial é a atividade revolucionária das massas. Ao mesmo tempo, Trotsky demonstra que Lênin e a sua obra gigantesca estão estreitamente ligados à construção do Partido. Partido que permitiu canalizar a ação das massas para leva-las ao objetivo preciso da tomada do poder. Ao contrário de Lênin, no momento da revolução de 1905 e da de Outubro de 1917, Trotsky encontrava-se à cabeça das organizações criadas espontaneamente pelas massas, os soviets. Foi assim que, por duas vezes, ele foi eleito presidente do Soviet de Petrogrado. Para as massas ele era, em certa medida, o seu dirigente natural. Nenhum outro dirigente bolchevique ocupou tal lugar.
Contudo, Trotsky considera que, sem Lênin, provavelmente a tomada do poder não teria tido lugar. Isto coloca uma questão crucial: o papel do indivíduo na História.
Na “História da Revolução Russa”, no capítulo intitulado “O rearmamento do Partido”, Trotsky analisa a importância decisiva do papel desempenhado por Lênin. Claramente, quando do seu retorno à Rússia em Abril de 1917, quando operou uma reorientação do Partido Bolchevique quando esse estava completamente voltado para o apoio crítico ao governo provisório chefiado pelo príncipe Lvov e Trotsky conclui que só Lênin tinha a possibilidade de reorientar o Partido em algumas semanas.
Trotsky diz: “Lênin não foi o criador do processo revolucionário. Ele apenas inseriu-se na cadeia das forças objetivas. Mas, nessa cadeia, ele foi um elo muito importante. A necessidade da ditadura do proletariado resultava, diretamente, da situação. Mas ainda era preciso instaurar essa ditadura. Ela não podia ser instaurada sem um partido. E este não podia cumprir essa sua missão sem a ter compreendido. E era justamente para isso que Lênin era indispensável. (…) A chegada de Lênin apenas acelerou o processo. A sua influência pessoal reduziu as proporções da crise. Mas pode alguém afirmar, com segurança, que sem ele o Partido teria encontrado o seu caminho? Eu não ouso afirmá-lo em nenhum caso. Em tais circunstâncias, o fator decisivo é o tempo. De qualquer modo, o materialismo dialético não tem nada em comum com o fatalismo. A crise que inevitavelmente teria sido provocada pela direção oportunista (de Kamenev – Stálin – NdT) teria assumido, sem Lênin, um caráter excepcionalmente agudo e prolongado. Deste modo, o papel do indivíduo ganha aqui, aos nossos olhos, proporções verdadeiramente gigantescas. Há somente que saber compreender esse papel considerando o indivíduo como um elo da cadeia histórica.”
Para Trotsky, o reconhecimento do papel de Lênin, deixando para trás as divergências e os conflitos do passado, expressa, em última instância, a capacidade do bolchevismo de juntar todas as tendências revolucionárias.
Dois anos após a Revolução de Outubro, Lênin escreveu: “No momento da conquista do poder, quando foi criada a República dos Soviets, o bolchevismo tinha atraído para ele tudo o que havia de melhor nas tendências do pensamento socialista que lhe eram próximas.”
Todos compreendem que das “tendências próximas” fazia parte, em particular, a corrente que Trotsky tinha constituído com os seus camaradas antes da Revolução de Outubro e que se integraram ao Bolchevismo porque ele correspondia aos interesses da revolução, isto é, aos interesses do combate de emancipação da classe operária e das camadas oprimidas da sociedade.
Artigo originalmente publicado na edição nº 68/69 da revista A VERDADE