A quem serve o “Fora todos”; “Nem um, nem outro”?

PSTU e setores do PSOL insistem num sectarismo divisionista e suicida.

Numa situação em que se torna evidente  quais são as forças sociais que estão por trás do golpe em curso contra o governo Dilma – as entidades empresariais, os tucanos, os ratos do PMDB, a direita viúva da ditadura, o imperialismo dos EUA – num momento em que sedes do PT, da CUT, da UNE, do PCdoB e de outras entidades ligadas à luta dos trabalhadores e do povo são atacadas por grupos provocadores, há ainda aqueles que, dizendo-se de esquerda, priorizam a luta pelo “Fora PT” ou “Fora Dilma”, ou se escondam atrás de frases  como “Nem um, nem outro”.

No primeiro caso está o PSTU, que vem passando das palavras a atos de divisão. Assim, em 18 de março, dia nacional de mobilização contra o golpe puxado pela CUT, MST, CTB, UNE e outras dezenas de entidades, o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (CONLUTAS), no início do dia, puxou passeata de trabalhadores da GM e Hitachi pelo “Fora todos eles e eleições gerais já! ”. Segundo o site do sindicato, “motoristas buzinavam em apoio à manifestação” (quem seriam esses motoristas?). A matéria explica que o “todos eles” é uma “referência ao governo Dilma e ao Congresso Nacional”.

Guardadas as proporções, tal tipo de atitude é similar a dos stalinistas na Alemanha dos anos 1930, quando a linha do PC, ordenada por Moscou, era a de que a Socialdemocracia, que estava no governo, era o inimigo principal a ser combatido, e não os nazistas de Hitler. Tal atitude do PC alemão, dando as costas à frente única entre organizações de base operária, levou Trotsky a concluir que era impossível reformar os PCs e abrir a luta pela 4ª Internacional.

O PSOL se divide diante do golpe

Luciana Genro, principal expressão pública do PSOL, deu entrevista à Folha de São Paulo (28/03) em que afirma que “o governo tenta se fortalecer apelando para a tese do medo”, pois “não estamos numa situação de golpe”. Depois de defender o juiz Moro, “ele não é um fascista”, Genro nega que exista “golpe do Judiciário”, para concluir que a melhor saída seria “nem Dilma, nem Temer, nem Cunha, nem Renan”, mas sim novas eleições.

Tal entrevista provocou uma nota de Juliano Medeiros, da executiva nacional do PSOL, combatendo as posições de Luciana que seriam minoritárias no partido. Juliano afirma que “a proposta de eleições antecipadas, cuja principal defensora é Marina Silva, é hoje uma espécie de ‘Fora Dilma’ envergonhado”. No que ele tem razão e vale também para o PSTU.

Outro setor do PSOL, a Ação Popular Socialista (APS), proclama “Nem apoio ao governo Dilma/Lula nem à oposição de direita” e adere aos atos de 1º de abril convocados pelo Espaço de Unidade de Ação (hegemonizado pelo PSTU) como “Dia de Luta contra as mentiras e ataques deste governo e da oposição de direita e por direitos”. Registre-se que em 31 de março há manifestações nacionais contra o golpe e no mesmo 1º de abril atos convocados pelos “coxinhas”.

Não é à toa que companheiros como Renan Palmeira, ex-candidato a prefeito de João Pessoa (PB), tenha saído do PSOL e se filiado ao PT considerando que “a neutralidade de setores da esquerda brasileira neste momento é um erro político que poderá nos trazer consequências irreparáveis e danos ao nosso povo”.

Lauro Fagundes

Artigo originalmente publicado na edição nº 783 do jornal O TRABALHO  de 31 de março de 2016.

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