Reino Unido: sobre o referendo

Quem defende o que no referendo?

No dia 23 de junho, o Reino Unido, composto pela Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, fará um plebiscito para decidir sua permanência ou saída da União Europeia (UE). Pesquisas recentes indicam que 52% da população está a favor da saída da UE, enquanto 48% defendem sua permanência. Há meses, as pesquisas mostram um resultado apertado e ninguém sabe o que acontecerá no dia do referendo, nem qual será o número de abstenções.

Segundo a campanha dos que defendem a permanência, 50% dos eleitores do Labour Party (Partido Trabalhista), não conhecem a posição de seu partido sobre o referendo, acreditando erroneamente que o Labour Party defende a saída da UE, ou que está dividido sobre a questão.

A verdade é que os velhos políticos, tanto os de direita quanto os de “esquerda”, estão em pânico, pois fazem qualquer coisa para defender a UE que, no Reino Unido, assim como em toda a Europa, é o principal instrumento do capital financeiro para garantir seus lucros às custas dos trabalhadores. David Cameron, primeiro-ministro do Partido Conservador, fez aliança com Sadiq Khan, prefeito recém-eleito de Londres pelo Labour Party, a quem já havia acusado de terrorista, para defender a UE. Khan não hesitou em colocar em risco seu sucesso eleitoral a serviço da UE e de Cameron, chefe de um governo em crise e rejeitado…

A política do caos

A campanha pela saída da UE é dominada midiaticamente pela direita do Partido Conservador e pela extrema direita, uma campanha racista e contra os imigrantes. Ninguém acredita que, uma vez livres da UE, esses reacionários defenderão os serviços públicos e os direitos dos trabalhadores.

Mas mesmo diante de toda a confusão promovida pelas direções de sindicatos e do Labor Party que chamam a permanência do Reino Unido na UE, os eleitores britânicos e os membros da base do Labour Party não estão convencidos de que a permanência na UE é boa para eles.

No dia 28 de maio, a direção do Labour Party chamou um encontro com nomes como Caroline Lucas, deputada do Partido Verde, incondicionalmente pela UE, mas também John Mc Donnell, braço direito de Corbyn na direção do Labour, e um deputado do Labour aproveitou para dizer: “O fato de que [Mc Donnell] teve dúvidas no passado sobre a UE faz dele um apoiador ainda mais convincente”. Apesar de tentar se delimitar de Cameron, Corbyn, eleito líder do Labour Party no Parlamento britânico em setembro de 2015 com posições consideradas progressistas, também apoia a UE. Em entrevista à TV britânica ITV disse querer “uma união das pessoas da esquerda…coletivamente trabalhando por um melhor padrão de vida da Europa”. No referendo de 1975, Jeremy Corbyn, Mc Donnell, a esquerda do Labour Party e os sindicatos votaram contra a adesão.

Participaram do encontro, entre outros, Yanis Varoufakis, antigo ministro da Economia do governo grego Tsipras que se ajoelhou para a União Europeia, frustrando a expectativa do povo que o elegeu para fazer face aos planos de austeridade da troika.

Resistência à União Europeia

Mesmo com toda a propaganda da direção do partido, pesquisas apontam que 40% dos militantes do Labour Party são a favor da saída do Reino Unido da UE, assim como 30% dos eleitores do SNP (nacionalistas escoceses). Embora inúmeras federações não tenham tomado posição oficialmente, sindicatos dos ferroviários (RMT), condutores de trem (Aslef) e trabalhadores em alimentação (BFAWU) se posicionaram contra a UE.

Em 9 de junho, um apelo assinado por vários membros do Labour Party em Londres, assim como por sindicalistas, menciona a eleição de Corbyn em 2015 e o rechaço da base do partido à UE: “A eleição de Jeremy Corbyn mostrou que o povo quer um Labor Party que defenda o direito dos trabalhadores contra a política de austeridade de Cameron. Um tal governo trabalhista (do Labour Party) infringirá as regras da UE que interditam a reestatização das empresas privatizadas”. O apelo lembra também que a UE apoia os interesses dos patrões contra o povo e que quase todas as leis trabalhistas britânicas foram arrancadas em lutas e campanhas do movimento operário.

Artigo publicado na edição nº 788 do jornal O Trabalho de 17 de de junho de 2016.

Artigos relacionados

Últimas

Mais lidas