Eleições legislativas na França: derrotar a reação; votar pela resistência

Declaração do Conselho Nacional do Partido Operário Independente (POI)

A campanha desenfreada de propaganda – digna das horas mais sombrias da nossa história – não resiste aos fatos. Essa propaganda põe-os a nu. Atrás das pseudo-mudanças, dos homens “normais”, da “sociedade civil”, dos “despojos da guerra”… a nomeação, pelo Sr.Macron, do Primeiro-ministro e a composição de eu governo indicam claramente o objetivo: tentar prosseguir, ampliar e levar até ao fim as políticas implementadas sob a égide das instituições da 5ª República (1).

Nada deveria escapar, todas as conquistas coletivas da classe operária e da democracia: Código do Trabalho, Segurança Social, Estatuto geral da Função Pública, hospitais, Ensino, conquistas republicanas, laicidade, comunas, taxa de habitação, serviços públicos… Desmantelar todas as conquistas de 1936 e 1945, e – para conseguir – submeter ou destruir os sindicatos independentes. E,também, prosseguir as guerras que tão grandes lucros dão aos capitalistas. Pôr em prática, de forma brutal, as exigências do Sr. Gattaz (2), dos patrões e da Europa ao seu serviço, através de uma política cujos malefícios são bem conhecidos na França e nos restantes países.

Perante a política totalmente reacionária subordinada às Diretivas europeias, praticada tanto pelos governos de Direita como de Esquerda, há muitos anos e, nomeadamente, nesta última década, os trabalhadores, os jovens, os militantes, os cidadãos levantaram-se em massa.

No seguimento das greves e das manifestações – em particular das grandes manifestações contra a Lei do Trabalho, com as suas organizações sindicais – os 7 milhões que votaram em Mélenchon no 1º turno; os 16 milhões de votos brancos e nulos, e de abstenções no 2º, disseram: Não, basta! Acusamos, rejeitamos estas agressões, estas políticas, este sistema, esta “classe política”, das pequenas e das grandes manobras, dos remendos e das promessas traídas.

Os partidos – todos os partidos instalados no sistema e a serviço desde há dezenas de anos, das instituições da 5ª República e das instituições da União Europeia – pagam todos os dias, o preço dessa política.

Milhões já disseram ao Sr. Macron: Não à sua política e às suas manobras!

De imediato, com o Sr. Macron a reciclar os derrotados de todos os quadrantes políticos, seria ingenuidade acreditar que ele tenha a menor intenção de se dar conta daquilo que se expressou massivamente nas ruas e nas urnas no 1º e 2º turno da eleição presidencial, a menos que seja obrigado a fazê-lo? Para ele, tal como para todos os seus ministros, diálogo social, consulta, escutar o povo ou os “parceiros sociais” só têm um sentido: submeter ou coagir, de acordo com o carácter corporativista da 5ª República, para tentar chegar a esse objetivo, aqui ou acolá – pintando a vida de cor-de-rosa, para fazer engolir a pílula – dizem-lhes avanços ou recuos. Para já, os dirigentes da CFDT (3) – tocados de novo pela graça – candidatam-se a essa tarefa.

O Sr. Macron também sabe, com certeza, que muitos dos votos que obteve não foram adesões. Eles foram apenas a expressão de uma odiosa chantagem em relação à extrema-direita – utilizando calúnias e infâmias, chantagem posta em prática desde a década de 1980 – e da qual, desta vez, milhões com maturidade e conscientemente se emanciparam.

O Sr. Macron procura fazer – com uma pretensa novidade, que já nem sequer tem essa fachada – aquilo que os que organizaram a sua ascensão, de forma aberta ou na sombra, lhe exigem que faça: tentar salvar a 5ª República e as instituições da União Europeia, atacando a esmagadora maioria da população. E isto, sem máscara nem floreados.

Agindo deste modo, eles põem a nu o que os defensores da ordem vigente habilitam-se, embora desgastado, em fazer crer: que tinha desaparecido a luta das classes.

Agindo deste modo, os senhores Gattaz (2), Macron, os seus ministros, os seus súditos e os seus apoiadores – por mais desnaturados que estejam – não deixam outra alternativa, a esta formidável força que se expressou contra eles, senão o de se empenhar ainda mais na resistência, por todos os meios possíveis.

É por isso que, nestas eleições legislativas e depois delas, o desafio é claro: juntarmo-nos, reagrupar-nos e unirmo-nos, de forma completamente independente, para resistir.

No 1º e no 2º turno das eleições legislativas, nenhum voto para a reação!

– Nem um só voto para “Os Republicanos”, para a Frente Nacional, etc.!

– Nem um só voto para os candidatos de Macron, os quais – jovens ambiciosos ou velhos insaciáveis – já se comprometeram que votariam tudo e, em particular, o centro do alvo: o Código do Trabalho.

– Nem um só voto para os que, instalados na sua confortável poltrona institucional – seja tempo de Sarkozy, seja no de Hollande – votando tudo ou abstendo-se, participaram abertamente ou de forma envergonhada de todas as medidas anti-operárias e anti-sociais, e que, mal os resultados do 1º turno da eleição presidencial foram conhecidos, enlamearam-se no apelo violento e ameaçador ao voto em Macron.

O POI, os seus militantes e os seus aderentes, coerentes com as posições assumidas desde o 1º e o 2º turno da eleição presidencial, votarão, fazem e farão campanha pelos candidatos de Mélenchon (França Insubmissa), através dos quais – tal como aconteceu na Presidencial – milhões de trabalhadores, de militantes, de jovens e de cidadãos expressarão, de novo, a sua rejeição, a sua recusa e a sua vontade de resistir.

O POI constata e a História confirma: 1789, 1871, 1917, 1936, 1945, 1968, revoluções, grandes viradas, conquistas sociais, democracia, laicidade, foram o fruto da mobilização de milhões de homens e de mulheres, através de greves parciais, de manifestações e da greve geral para se defenderem.

Também acontecerá o mesmo com a 5ª República e às suas instituições, inteiramente concebidas – desde o seu início – para satisfazerem as necessidades dos capitalistas. Ninguém vai-se acomodar; é preciso desembaraçar dela.

Defender-se, resistir é a via para avançar

Consciente de que a orientação do governo de Macron conduzirá a um confronto com a classe operária, o POI informa que participará – com militantes de todas tendências, sindicalistas, políticos, laicos, democratas, eleitos – nas comissões de ligação e de intercâmbio para um Comité Nacional em defesa das conquistas e dos direitos arrancados em 1936 e 1945, para debater e agir com o objectivo de continuar a bloquear esta ofensiva destruidora.

Para debater, para expressar sua opinião, para ser informado, o POI convida a todos a ler, a comprar e a fazer uma assinatura do seu jornal, Informations Ouvrières (Informações operárias).Tribuna livre da luta de classes, Informations Ouvrières (Assinatura de Verão: 10 números, 12 euros)– jornal totalmente independente, sem apoio dos grupos publicitários nem subvencionado – fornece semanalmente análises, fatos, entrevistas e dossiês de informações para que cada um forme a sua própria opinião.

A emancipação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.

Paris, 21 de Maio de 2017

 

  • (1) Quinta República Francesa é a quinta e atual constituição republicana da França, em vigor desde 4 de Outubro de 1958. Sua política é conhecida como Gaullismo (de Charles De Gaulle).
  • (2) Gattaz é o Presidente do MEDEF, a principal Associação do Patronato francês.
  • (3) CFDT é a central sindical cristã, de direita

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