A tensão aumenta na Argélia à medida em que se aproxima o 12 de dezembro, data da eleição presidencial que o regime organizou como uma tábua de salvação do sistema. Para garantir essas eleições, o regime desencadeou uma repressão furiosa. Mas apesar das ameaças, da propaganda e da repressão, o povo argelino continua a se manifestar em massa principalmente às sextas-feiras e às terças-feiras para os estudantes, repudiando a eleição presidencial, exigindo o fim do regime e a libertação dos presos políticos.
Marchas noturnas
Em meados de novembro, em nova forma de mobilização, marchas noturnas contra a eleição de 12 de dezembro passaram a ser organizadas em diversas cidades. Em Argel, são principalmente os jovens de Bab El Oued e da Casbah, bairros pobres, que invadem o centro da cidade à noite para dizer: “Não vai ter nenhuma eleição este ano!”. E, novamente, o regime responde com repressão.
Nas cidades onde se realizam comícios dos cinco candidatos à eleição de 12 de dezembro, a população se mobiliza para denunciar a farsa. São comícios realizados em salas pequenas e sob proteção policial. Mais uma vez, a repressão ataca os militantes pacíficos. Nos painéis eleitorais, quase não se vê a foto dos cinco candidatos, mas sim a dos prisioneiros políticos.
Uma avalanche de propaganda é lançada na imprensa pública ou privada, paga pelo governo, para valorizar essa eleição presidencial. A imprensa submissa repercute as manifestações de apoio à eleição de 12 de dezembro. Na realidade, são algumas dezenas de manifestantes protegidos pela polícia. O chefe do estado-maior, Gaïd Salah, renovou suas ameaças, dizendo que o exército está desde já mobilizado para defender a campanha eleitoral e vai garantir, em 12 de dezembro, “o bom andamento do escrutínio”.
Crise na cúpula
Mas está claro que a crise continua a esgarçar o regime. É assim que a imprensa anunciou que a FLN (Frente de Libertação Nacional), o antigo partido único, que ainda não escolheu o candidato que iria apoiar, pediu a seus militantes que se retirem dos comitês do candidato Tebboune. Ele aparecia até então como candidato do regime. Porém, a demissão do coordenador da campanha de Tebboune e mais o fato de a versão em árabe do jornal oficial do regime, El Moudjahid, estar promovendo o candidato Benflis, são sinais claros de um agravamento das tensões no interior do regime.
Abdllah Djaballah, líder de um partido islâmico que integrava uma coalizão com o partido de Benflis, decidiu não apresentar candidato e, portanto, não apoiar Benflis. Em uma entrevista à TV Al Jazeera, em 24 de novembro, ele declarou: “Nós decidimos não participar porque as condições não estão reunidas. Organizá-las (as eleições) desta maneira significa apenas uma coisa: a continuação do regime que o povo rejeitou.”
Ele disse, nessa entrevista, que o escrutínio será boicotado em muitos departamentos, especialmente na Cabília, e acrescentou: “isso levará à anulação dos resultados e a um curto período de transição.” São declarações vindas de um dirigente que, desde o início, procurou colaborar com o regime para a organizar a eleição de 12 de dezembro.
Manifestações, greves, revoltas
Sob o título “Instabilidade política e precariedade: um coquetel explosivo”, um artigo do cotidiano El Watan alarma-se com a situação do país. De fato, enquanto o regime é maciçamente rejeitado pelo povo, seu governo submisso, após a privatização do petróleo e do questionamento das leis de proteção da economia argelina contra os capitais estrangeiros, continua a tomar medidas econômicas e sociais que atacam duramente a população.
Tão logo votada a lei sobre petróleo, o governo renovou um acordo da petroleira estatal Sonatrach com o grupo francês Engie. Em muitas regiões, há verdadeiras revoltas populares por causa da precariedade e do desemprego. Professores entraram em greve. A federação UGTA da formação profissional chamou uma greve geral para 27 e 28 de novembro. Em Tizi Ozou, um chamado à greve em 3 e 4 de dezembro por iniciativa da Confederação de Sindicatos Autônomos se amplia.
A tensão no país é extrema. O Pacto da Alternativa Democrática, que reúne sete partidos inclusive o PT e a Liga dos Direitos Humanos, reafirmou sua oposição à realização da eleição presidencial de 12 de dezembro, denunciando-a “como uma tábua de salvação do regime”. O Partido dos Trabalhadores continua sua campanha para que o povo retome sua soberania através de uma Assembleia Constituinte Soberana. E, como esclarece o PT, a soberania do povo somente pode ser assegurada pela soberania sobre as riquezas nacionais da Argélia, pela ruptura dos vínculos de subordinação ao imperialismo.
Lucien Gauthier