A 1ª Guerra Mundial: Da falência da Internacional Socialista em 1914 à Revolução Russa de 1917

A primeira Guerra mundial (1914- 1918) marcou um tempo de horror em toda a Europa. Milhões de mortos, feridos e traumatizados de guerra desde os pequenos vilarejos às grandes cidades. A guerra eclode pelas contradições próprias do capitalismo em sua fase imperialista na qual as potências europeias passaram a disputar entre si mercados e territórios, jogando os trabalhadores e povos do mundo num banho de sangue infernal.

Na Alemanha, país mais industrializado da Europa, a classe operária estava fortemente organizada no Partido Socialdemocrata (SPD), a principal força da Segunda Internacional, a Internacional Socialista. Na França, o partido da Internacional Socialista chamava-se Seção Francesa da Internacional Operária (SFIO).

Mas, apesar da mobilização contra a guerra que desenvolveram nos anos anteriores, em 4 agosto de 1914, esses dois partidos votaram nos parlamentos de seus países a favor dos créditos de guerra (orçamento público destinado a financiar o exército).

Esse ato de apoio à matança entre trabalhadores franceses e alemães marcou a falência da Segunda Internacional como partido mundial da revolução operária. Lênin o denunciou como “uma traição pura e simples”.

A esquerda de Zimmerwald

Reunindo um punhado de militantes ultraminoritários naquele momento, ocorreram na Suíça duas conferências socialistas internacionais contra a guerra. A primeira em setembro de 1915, na cidade de Zimmerwald (38 presentes), e a segunda em abril de 1916 (com 44) em Kienthal.

Nessas conferências o debate era: militantes a favor ou contrários à guerra poderiam ou não pertencer a um mesmo partido e a uma mesma Internacional? Lênin buscou organizar a ala esquerda contrária a essa unidade sem princípios, combatendo a posição “centrista” de dirigentes como Karl Kautsky (um dos fundadores do SPD) que denunciavam a guerra mas se recusavam a romper com os partidários da “defesa nacional”.

As duas conferências resgataram o internacionalismo afirmando que a “única ação eficaz para a reconquista da paz é a luta de classes”. Mas as resoluções de Zimmerwald e Kienthal não trazem a perspectiva de uma nova Internacional. Lênin julga o manifesto de Zimmerwald “inconsequente e covarde”, mas vota a favor do texto.

Lênin o fez, ao lado de mais oito militantes, a chamada “esquerda de Zimmerwald”, porque considerava que, mesmo tímido, era um passo adiante em uma situação extremamente difícil. Era um quadro que permitia um reagrupamento, onde a esquerda poderia lutar para defender suas posições.

Embora importantes para manter viva a continuidade histórica dos fundamentos do movimento operário e da perspectiva do socialismo, as conferências de Zimmerwald- Kienthal não viriam a ser o embrião indispensável para a criação da Terceira Internacional, a Internacional Comunista.

A Revolução Russa de 1917

O argumento de Lênin nas conferências de Zimmerwald-Kienthal era o de que a revolução poderia ser preparada a partir do descontentamento e da miséria que a guerra provocaria nas massas operárias. Afirmava que a guerra poderia se voltar contra seus próprios promotores. Na Rússia, ele dizia que a derrota militar da monarquia czarista seria fator importante em favor da revolução (o que chamou de derrotismo revolucionário), pois o maior inimigo de cada povo está em seu próprio país: a burguesia e seu governo. A luta pela paz escreve: “desligada da luta de classe revolucionária do proletariado, não passa de uma frase pacifista de burguês sentimental ou daqueles que enganam o povo”.

De fato, a Revolução Russa de Fevereiro de 1917 confirmou as análises de Lênin. O descontentamento, as privações e a miséria da guerra foram determinantes para a queda da monarquia czarista. O combate dos bolcheviques dirigido por Lênin contra a guerra durante o governo provisório que se instaurou na Rússia após a queda do czar foi fundamental para que os camponeses, soldados e trabalhadores dessem a eles uma maioria nos sovietes, tornando possível a Revolução de Outubro de 1917.

Francine Legelski

A LUTA CONTRA A GUERRA NO BRASIL

A Confederação Operária Brasileira (COB) realizou em outubro de 1915, no espírito do internacionalismo operário contra a guerra, um Congresso Internacional no Rio de Janeiro onde se reuniram representantes de organizações proletárias anarquistas e socialistas.

Foi uma forma de dar continuidade a uma iniciativa chamada pelo Ateneu Sindicalista da cidade de Ferrol (Espanha), em abril do mesmo ano. Atividade que por pressão dos países em guerra foi proibida pelo governo espanhol.

A seguir, trechos do manifesto divulgado pela COB no dia da abertura do congresso do Rio de Janeiro, marcando a participação dos trabalhadores brasileiros na luta do proletariado internacional contra a guerra:

“Somos radicalmente contrários a quaisquer guerras entre povos, não por um sentimentalismo piegas, mas porque sabemos que a guerra preparada e provocada pelos potentados da terra, só a estes traz vantagens e benefícios, enquanto que os proletários, que vão derramar seu sangue nos campos de batalha, tudo têm a perder e nada ganhar a com a matança. (…) Basta de chacina de trabalhadores! Queremos viver, e para isso é necessário varrer da face da terra todos os sustentáculos e defensores desse regime de injustiças. Queremos a Revolução! Proletários do mundo: abaixo a guerra, avante pela Revolução”.

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