“A Argélia está sobre um braseiro”

Artigo Publicado em “Liberté”, em 11 de fevereiro de 2020

Às vésperas da celebração do segundo aniversário do Hirak*, que coincide com o 22 de fevereiro, “a questão do fim do sistema continua colocada”, disse ontem a secretária-geral do Partido dos trabalhadores (PT), durante uma videoconferência, um ano após a sua libertação da prisão militar de Blida, onde ficou presa por nove meses.

“O principal objetivo pelo qual milhões de pessoas foram às ruas ainda não foi alcançado”, insistiu ela, destacando que “é certo que Abdelaziz Bouteflika e os outros ‘B’ foram expulsos e até mesmo o falecido Gaïd Salah não está mais lá. Mas o sistema permanece”.

A Sra. Hanune denunciou as contínuas prisões e perseguições judiciais de militantes políticos e jornalistas, perguntando-se como se pode falar, ao mesmo tempo, de um “bendito Hirak”.

“Quando saí da prisão, disse que a minha liberdade seria completa quando todos os prisioneiros de consciência fossem libertados. Na realidade e infelizmente, um mês depois de sair da prisão, caímos numa ratoeira, a do suposto confinamento sanitário”, lamentou.

“O que é esse ‘bendito Hirak’, enquanto jornalistas, jovens estão presos? O que é essa hipocrisia?”, perguntou ela, acrescentando que, apesar da suspensão das manifestações por causa da Covid-19 e das medidas de confinamento decididas pelas autoridades, “o regime vive em terror todas as sextas-feiras”.

Referindo-se ao recente caso Walid Nekkiche, a dirigente do PT denunciou um “crime”, e se pergunta: “Como se pode ter aprisionado um estudante por ter participado de uma passeata e interrompido sua carreira universitária? É um crime”, ela repetiu.

“Khaled Drareni, um jornalista, está na prisão quando apenas cobriu a marcha. Ele tem o direito de se manifestar, de expressar sua opinião”, acrescentou, citando também o caso de Mustapha Benjamaa, do jornal regional Le Provincial, que ela disse ter sido vítima de “perseguição”.

“A Argélia está sobre um braseiro”, disse ela, acusando aqueles que governam a Argélia de olhar para o outro lado e ignorar os problemas reais que o cidadão comum e a economia enfrentam.
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Tradução Adaias Muniz

*Há dois anos, em 22 de fevereiro de 2019, começava a revolução na Argélia. Movimento conhecido como Hirak

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